Musk versus Moraes: qual o efeito sobre o X no Brasil?

No dia 6 de abril, Elon Musk, proprietário da plataforma X (anteriormente Twitter) respondeu uma postagem do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, sobre o caso da tentativa de golpe de Estado de 8 de janeiro de 2022 em Brasília.

Na sua postagem, Musk acusou Moraes de conduzir uma campanha de censura no Brasil.

Desde então, o conflito entre os dois personagens tem aumentado constantemente, capturando a atenção do mundo e deixando a rede social em maus lençóis no Brasil.

De acordo com a YouGov BrandIndex, até o dia 11 de abril , o Twitter tinha uma pontuação no Buzz de 5,0.

Essa é uma queda considerável em relação à classificação de 8,6 que tinha em 4 de abril, antes do início da disputa entre Musk e Moraes.

Vale a pena observar que essa classificação já estava em tendência de queda antes do início da peleja, e aumentou ligeiramente desde o dia 9 de abril (um dia depois em que o ministro incluiu o empresário sul-africano na sua investigação oficial sobre as milícias digitais antidemocráticas).

O Índice de Buzz reflete se os consumidores ouviram falar sobre a marca (ou empresa) nas notícias, nas mídias sociais ou conversando com amigos e familiares recentemente, bem como o quão positivas (ou negativas) são essas histórias. É possível que o conflito continue a afetar a imagem do Twitter no Brasil, considerando o efeito que teve até agora e como Musk e Moraes continuaram a aumentar suas hostilidades (causando demissões na rede social e que o governo dos Estados Unidos se envolvesse diretamente).

Mas a fragilidade do Twitter no Brasil pode não ser inteiramente resultante do conflito entre Musk e Moraes.

Nos últimos 12 meses, cada vez mais consumidores no país deixaram de usar a plataforma com regularidade.

O indicador de Cliente Atual da marca (que reflete quantas pessoas usaram seus produtos e serviços recentemente) era de 14 pontos até 11 de abril.

Porém, no mesmo dia de 2023, a sua classificação era de 19,5.

Ou seja, ela caiu -5,5 pontos em apenas um ano.

David Eastman, diretor-geral e comercial da YouGov na América Latina, avalia que isso pode ser devido a muitos fatores, incluindo mudanças na plataforma desde que ela trocou o seu nome para “X” e ficou sob o controle de Elon Musk. “Por exemplo, de acordo com o BrandIndex, nos últimos 12 meses o Twitter perdeu mais da metade da sua pontuação de Qualidade, que reflete se os consumidores acreditam que um produto ou serviço é de boa qualidade ou não”, afirma.

No entanto, é muito provável, segundo Eastman, que a tendência de Musk de criar controvérsias (e, ao longo do caminho, afetar o futuro do X/Twitter) também tenha contribuído de forma significativa para que os brasileiros abandonassem a plataforma.

O índice de Reputação Corporativa da rede social sofreu uma contração de vários pontos em todos os nichos de idade e gênero.

Isso pode refletir uma queda na confiança dos brasileiros em relação à rede social como uma empresa promissora de longo prazo.

Estudo diz que plataforma é cada vez menos usada no Brasil - Divulgação Twitter em uma posição delicada no Brasil Se a tendência à queda no uso e na reputação da plataforma entre os usuários brasileiros se mantiver, há uma boa chance de que o Twitter deixe de ser uma das principais redes sociais do mercado.

Principalmente, se continuarem a surgir escândalos e polêmicas como a da briga entre Elon Musk e Alexandre de Moraes.

Isso porque, em geral, a simpatia pelo Twitter no país é substancialmente menor do que por outros rivais.

Em dados do YouGov Profiles, no dia 14 de abril, apenas 25,5% dos adultos pesquisados no Brasil disseram que eram membros do Twitter.

A porcentagem só é maior do que a de outros participantes de nicho (como o Snapchat, onde 10,3% dos brasileiros têm uma conta); é substancialmente menor do que a do líder de mercado (Facebook, onde 73,8% dos adultos são usuários) e é ainda menor do que a de participantes muito mais novos no setor (como o TikTok, com 37,7%).

Mas o mais importante é que, mesmo entre aqueles que ainda usam o Twitter, poucas pessoas passam várias horas por dia na plataforma.

Apenas 9,1% dos usuários que têm uma conta nessa rede social passam mais de três horas por dia nela.

Apenas um quinto (21,1%) utiliza de uma a cinco horas do seu dia. “Ambos os números são inferiores aos dos rivais de interesse geral (como o Tiktok e o Instagram) e dos concorrentes de nicho (como o Twitch).

Nesse contexto, o futuro do Twitter no Brasil parece estar ameaçado”, afirma Eastman.