O setor de saneamento básico será impactado com a reforma tributária.

Com o novo marco fiscal, a alíquota cobrada atualmente em cima desses serviços, 9,25%, pode chegar a 27%, o valor cheio.

Porém, com os créditos tributários que as empresas possuem, o valor estimado por entidades do setor, como a Associação e Sindicato Nacional das Concessionárias Privadas de Serviços Públicos de Água e Esgoto e a Associação Brasileira das Empresas Estaduais de Saneamento, ficou em 18%.

Ou seja, quase o dobro da alíquota do momento.

Atualmente, o setor paga apenas tributos federais, PIS e Cofins, e está isento do ICMS estadual e do ISS municipal.

O texto da reforma prevê que o setor pagará não apenas o CBS federal (que entrará no lugar de PIS e Cofins), mas também o IBS (que substituirá ICMS e ISS).

Segundo especialistas, a grande questão é quanto a conta de água ficará mais cara para o consumidor final.

Para André Felix Ricotta de Oliveira, professor doutor em direito tributário e presidente da Comissão de Direito Tributário da OAB/Pinheiros, o aumento não será de uma vez. “O aumento será gradativo, pois ICMS e ISS serão extintos em meados de 2033.

Além disso, as empresas de saneamento estão no meio da cadeia produtiva, elas têm muitos créditos para abater de seus débitos, O impacto tributário pode não ser tão grande como estão prevendo, com alíquota de 18%.

Mas sim, o consumidor final vai sentir o impacto dessa nova carga tributária no preço da água e do esgoto, pois ele não consegue repassar para ninguém esse aumento”, explica.

Marcelo Costa Censoni Filho, sócio do Censoni Advogados Associados, especialista em Direito Tributário e CEO do Censoni Tecnologia Fiscal e Tributária, tem uma visão mais pessimista. “A extinção da isenção de ICMS e ISS para os serviços de água e esgoto resultará em um aumento substancial da tributação, prevendo-se um impacto direto nas tarifas.

Essa mudança levanta a questão crucial de como manter acessível um serviço essencial diante da iminente carga tributária”, analisa.

A projeção de alta na carga tributária também ameaça o Marco do Saneamento Básico, em que uma das metas, é que todos os municípios brasileiros devem atender a 99% da população com serviços de água potável e ao menos 90% dos habitantes com coleta e tratamento de esgoto até 2033. “O aumento da tributação pode dificultar a atração de investimentos privados, comprometendo a concretização das metas”, opina Censoni.

O especialista também prevê dificuldades com relação à regulação do setor.

Enquanto empresas de energia, telecomunicações e rodovias respondem a uma única agência reguladora federal, o saneamento enfrenta a fragmentação com 97 agências reguladoras municipais autônomas. “Essa multiplicidade de órgãos reguladores complica o desenvolvimento das empresas do setor.

Simplificar essa questão é crucial para criar um ambiente de negócios mais favorável e eficiente.

A criação de uma única agência reguladora federal para o saneamento básico poderia ser uma solução", afirma Censoni.