A baixa demografia dos profissionais de T.O. e o impacto na qualidade de vida das pessoas.

INÁCIO FEITOSA, Conselheiro do CEE-PE (Conselho Estadual de Educação)e HUGO RAFAEL DE SOUZA, Professor da UPE (Universidade de Pernambuco) A demografia de terapeutas ocupacionais (T.O.) no Brasil revela um abismo: A baixa proporção desses profissionais para cada 1.000 habitantes, concentrados nas capitais e grandes centros urbanos.

Esse fato impõe aos usuários do Sistema Público de Saúde (SUS) barreiras na acessibilidade aos benefícios advindos do exercício profissional da terapia ocupacional.

De acordo com dados do Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (COFFITO), o Brasil conta com cerca de 17.500 mil terapeutas ocupacionais, o que representa uma média de 6,6 profissionais para cada 100 mil habitantes, muito abaixo do recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). É crucial fortalecer a profissão de terapeuta ocupacional, a fim de garantir o acesso a esse tipo de atendimento em todos os municípios brasileiros.

Ainda segundo o COFFITO, atualmente há um déficit de cerca de 24 mil terapeutas ocupacionais no país, o que evidencia a urgência de investimento e formação nessa área.

A baixa demografia dos profissionais de T.O. impacta negativamente a qualidade de vida das pessoas com alguma doença ou condição especifica de saúde que necessitem de uma abordagem ocupacional para melhorar as habilidades prejudicadas e assim novamente ganhar confiança e se reestabelecer no mundo do trabalho e na vida cotidiana.

Um exemplo prático é a diminuição na idade as quais ocorrem os Acidentes Vasculares Cerebrais que em muitas vezes cursam com sequelas e afastamento do paciente do trabalho, elevando os custos de vida e de saúde, menor chance de ser recolado no emprego, diminuição do poder aquisitivo, aumento dos transtornos mentais e diminuição global da qualidade de vida.

Esta pode ser mensurada pela qualidade de vida perdida ajustada pela incapacidade (QALY’s).

Nesse cenário a atuação do T.O. tem por objetivo melhorar os indicadores de qualidade de vida, pois outro indicador que são os Anos de Vida Perdidos Ajustados pela Incapacidade (DALY’s) são convergentes pois a medida que se perde qualidade de vida por falta de um recurso de saúde também se perdem a os potenciais de vida.

Ou seja, nesse caso a falta de profissionais da T.O. nos serviços de Saúde Pública e privada implicam na diminuição da expectativa de vida dos cidadãos que precisam.

Segundo a terapeuta ocupacional Caroline Negrão, “a atuação do terapeuta ocupacional é fundamental para a promoção da autonomia e independência das pessoas, possibilitando que elas realizem as atividades do dia a dia de forma mais satisfatória”.

Resta uma pergunta: como a falta de Terapeutas Ocupacionais impacta negativamente a qualidade de vida?

A T.O. é uma das áreas profissionais da saúde que dialoga com a atividade humana para a criação de projetos terapêuticos que objetivam o restabelecimento das capacidades psico-emocionais do individuo melhorando a funcionalidade, promovendo mudanças de atitudes e realidades e o retorno do paciente as atividades cotidianas, domésticas, familiares e laborais.

A baixa disponibilidade de T.O. nos serviços de saúde restringem o princípio da integralidade da assistência, empurrando aqueles que necessitam para o prolongamento do seu sofrimento e atrasos no retorno às atividades cotidianas, isso implica diretamente na qualidade de vida dos usuários, pois sabe-se que o pleno retorno ao ecossistema social contribui para a recuperação integral da saúde.

Além disso, a professora e terapeuta ocupacional Maria Emilia Veras destaca que “a falta de profissionais nessa área compromete a qualidade do atendimento e o acesso da população aos serviços de saúde”.

Resolver essa falta de terapeutas ocupacionais no Brasil requer um exame mais aprofundado que demandaria outros artigos.

Mas dois deles podemos trazer ao debate.

Por anos houve um desinvestimento nas universidades públicas e privadas para fortalecer o curso e preparar os profissionais para as mudanças que o mundo passava, as academias devem incluir habilidades nos seus perfis de egresso que sejam capazes de agir criativamente, de forma empreendedora e se adaptando a velocidade com as quais o mundo, a saúde e a sociedade se transformam.

Outro ponto é que o Sistema Único de Saúde (SUS) na Política de Atenção Primária à Saúde deve incluir o T.O. como membro da equipe mínima de uma unidade básica de saúde (UBS), expandido para além de ações de T.O. nos Centros de Atenção Psicossocial, a atuação do deste profissional não se restringe mais a ações com pacientes psiquiátricos ou em ambiente hospitalar, a atuação da dele é ampla, com potenciais de ação para prevenção, promoção e reabilitação na saúde coletiva e individual em todos os níveis de atenção.

Portanto, é necessário que as autoridades governamentais e as instituições de ensino invistam na formação e contratação de terapeutas ocupacionais, a fim de garantir que todas as pessoas que necessitam desse tipo de atendimento possam recebê-lo, promovendo assim uma sociedade mais inclusiva e equitativa.