Por padre Davi de Melo, pároco da Matriz de São José, em artigo especial para o Blog de Jamildo Todo ano que começa é acicate (o que incentiva, excita; estímulo, encorajamento, ânimo) para novos sonhos, novas metas e novos projetos.

O ano novo forja empreendedores.

As esperanças se renovam.

E se inovam.

Novamente.

Até o fim de mais um ciclo.

E, assim, vivemos de esperança em esperança.

Lá no fundo da gente tem uma intuição segura de que podemos esperar e de que o melhor sempre virá.

Empreender nem sempre é fácil.

Demanda tempo e dedicação.

Assunção de erros e acertos.

Capacidade de retificação, quantas vezes for preciso.

Há alguns empreendimentos humanos que ultrapassam a mera execução.

Transcendem, por si só, o que representam.

Era o caso das catedrais góticas na Idade Média.

Não se tratava de uma obra com prazo determinado com um artista específico.

Por vezes, comprometiam-se gerações inteiras.

Como a Catedral de Colônia.

Quantos não se empenharam nesses mais de 600 anos para a sua conclusão… Nessas obras grandiosas se toca a generosidade e a magnanimidade de muitos.

Patenteia-se a beleza do Criador.

Esses dias, escutando a música “Catedral”, da Zélia Dulcan, essa ideia me ficou clara. “O deserto que atravesseiNinguém me viu passarEstranha e sóNem pude ver que o céu é maior” Quando estamos no deserto de nossa vida, falta a água da alegria e da graça.

Estar longe de Deus, viver afastados de sua Palavra, fonte e manancial de felicidade, gera secura e aridez.Não será que esses maus modos, pessimismo acentuado e antipatia não são frutos amargos dessa secura que atravessamos pelo afastamento de Deus?

Ouvimos a queixa de Deus ao profeta Jeremias: “O meu povo cometeu dois crimes: eles me abandonaram, a mim, a fonte de água viva, e cavaram as suas próprias cisternas, cisternas rachadas que não retêm água.” As alegrias que buscamos sem Deus são efêmeras, fugazes e fugidias.

Duram menos do que prometem.

Ao invés de saciarem a nossa sede de felicidade, acabam por aumentá-la.

Não há como fugir do deserto.

O problema é que não enxergarmos que Alguém está empenhado em nos ajudar nessa travessia.

Passamos sozinhos pelo deserto da nossa alma.

Acabamos por nos isolar, nos fechar, em círculos herméticos, em nossos juízos preconcebidos, em nossas certezas incertas.

E com isso, longe de Deus e dos irmãos, não percebemos que “o céu é maior”.

Acabamos por ter uma visão rente à terra, com voos reduzidos, sem grandes miras.

Falta-nos ousadia para alçar voos maiores e generosos.

Sobra-nos timidez.

De que vale viver sem infinito?

E continua então Zélia Dulcan: “No silêncio, uma catedralUm templo em mimOnde eu possa ser imortalMas vai existirEu sei, vai ter que existirVai resistir nosso lugar” O Papa Francisco, no Angelus de 1/1/2024, dizia que Santa Maria foi a primeira Catedral de Deus, pois foi a primeira que soube acolher o Menino-Deus.

Com o “sim” de Maria foi possível a nossa introdução na família de Deus.

Na Plenitude dos tempos, participamos de uma maneira profundíssima e real da filiação divina.

Se “o Todo-Poderoso fez grandes coisas” na vida de Santa Maria, também irá fazer em nossas neste ano de 2024.

Basta que nos disponhamos a fazer-se também Catedral. É uma construção de uma vida toda.

Tijolo a tijolo; e cimento, e pedra, e areia… Percebemos então que uma Catedral não se ergue nem soergue-se sozinha.

Precisamos dos demais para nos forjarmos em Catedral de Deus.

Empenhamos nossa liberdade e não nos faltam os auxílios divinos se nos dispormos, com humildade, a fazer de nossos casebres, catedrais.

Em um telão colocado em frente à Catedral de Colônia, serão projetadas 150 fotos exclusivas do fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado - Foto: Fotos Públicas O padre Davi de Melo, sacerdote católico, pároco da Matriz de São José, no Recife, é Mestre em Direito (UFPE)