O dono do Instituto Quaest, Felipe Nunes, no livro Biografia do Abismo, escrito em parceria com o jornalista Thomas Traufmann, em uma espécie de acerto de contas, afirma que, ao contrário do que afirmavam os críticos, os institutos de pesquisa foram capazes de descrever corretamente os movimentos eleitorais, mesmo na eleição mais acirrada da história do Brasil.
Ele elenca ao menos cinco pontos de acerto. “Os institutos mostraram que Lula venceria Bolsonaro, que Lula poderia vencer no primeiro turno, embora não fosse provável, que a eleição ficou mais apertada conforme se aproximava a data da votação, que os gastos do governo ajudaram Bolsonaro a crescer no eleitorado mais pobre e que os eleitores negros, as mulheres e os nordestinos votaram mais em Lula, enquanto os leitores brancos, das regiões Sul e Centro-Oeste, em sua maioria, escolheram Bolsonaro” Acerto dos números de Bolsonaro “Segundo o TSE, o então presidente obteve apoio de 33% do total dos aptos a votar.
Os principais institutos do País foram capazes de estimar esse resultado.
A Quaest estimou que Bolsonaro teria 34% dos votos totais.
O MDA estimou 36%, o Ipespe, 33%, o Datafolha 34%, e o Ipec, 34%” Ele concede que, por outro lado, o que não foi corretamente descrito foi o percentual exato de votos que Lula teria.
Todos os institutos de pesquisa, sem exceção, estimaram que Lula teria pelo menos sete pontos percentuais do que ele realmente obteve (37%). “Essa diferença a menos para Lula foi produzida pela abstenção desproporcional observada no eleitorado de baixa renda, residente em regiões como o norte de Minas, o interior da Bahia e do Maranhão.
O eleitor de baixa renda dessas regiões que dizia ter intenção de votar em Lul não compareceu, produzindo um efeito de superestimação do voto do candidato do PT em 2022” A eleição da intimidação No livro, autores classificam 2022 como a eleição da intimidação e lembram que parlamentares chegaram a propor uma CPI para investigar as empresas do setor.
No entanto, eles explicam que institutos não predizem resultados, mas apenas revelam intenções de voto. “Por que essa polêmica foi tão emblemática para a eleição?
Porque ela está diretamente associada a uma marca importante de 2022.
De um lado do espectro político, havia um eleitorado engajado, mobilizado e animado.
Enquanto do outro lado havia medo.
E essa diferença de envolvimento nas campanhas ajudou na disseminação da desconfiança sobre o trabalho dos institutos, já que Bolsonaro conseguiu mobilizar grandes contingentes de eleitores nas ruas, mas nunca aparecia na frente de Lula nas pesquisas” “Ao dizer que as pesquisas supostamente verdadeiras eram as do “Data Povo”, Bolsonaro contrabalanceou os números ruins nas pesquisas com imagens grandiosas de carreatas e comícios”, explicam.
NO MEIO DO POVO Bolsonaro participou de motociata em Santa Cruz do Capibaribe, Toritama e Caruaru, no Agreste - SANDY JAMES/ESTADÃO CONTEÚDO Os autores explicam que, por conta do medo criado pela polarização radical, havia eleitores preferindo esconder suas preferências eleitorais no debate público.
Havia um eleitor reprimido, dizem. “Os experimentos que fizemos, e as pesquisas de campo, sugerem que o voto em Bolsonaro era mais engajado, declarado, público.
Era um apoio acompanhado da vontade de se expressar, de se orgulhar de sua escolha.
Foi a eleição das grandes motociatas da direita, eventos para produzir a famosa foto do “DataPovo”, que indicaria a vitória de Bolsonaro pela quantidade de pessoas nas ruas”