O livro Biografia do Abismo, escrito pelo cientista político Felipe Nunes e o jornalista Thomas Traufmann, trata da polarização e radicalização das eleições de 2022, mas também ajuda a entender como se formaram os apoios aos dois candidatos mais personalistas em uma eleição nacional no Brasil.

A publicação sustenta que a eleição presidencial se organizou em torno de oito indentidades, sendo uma delas a corrente formada pelo “agro”. “Lula venceu porque tomou de Bolsonaro o pequeno grupo dos liberais sociais, que em parte havia votado contra o PT em 2018 (Haddad versus Bolsonaro)”.

Mas como o agro foi capturado?

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Nordeste não teve ‘culpa’, explica Biografia do Abismo “Eles vivem em regiões dominadas pela cultura sertaneja e sob o boom das exportações de commodities. É a visão majoritária de todo o Centro-Oeste e parte relevante do interior de Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Minas Gerais.

Acreditam que vivem independentemente do Estado”, explicam os autores, antes de apresentar outra clivagem social. “(Para eles)… a associação do PT com o Movimento Sem Terra é uma ameaça ao seu modo de vida.

O grupo não se refere exclusivamente a grandes proprietários rurais, incluindo uma população mais ampla cujo estilo de vida está conectado a esse modo de produção.

Bolsonaro se aproximou do grupo com sua defesa intransigente da posse e do uso de armas, seus ataques às invasões de terra e sua política de governo contra a legislação ambiental e indígena”, explicam.

As pesquisas realizadas pela Quaest nos últimos anos estimam que 14% dos eleitores que votaram em 2022 sejam “agro”.

Ao chamar todos eles de fascistas, na campanha, Lula cometeu um erro grande e por isto que depois foi obrigado a recuar.

Na estratificação apresentada em Biografia do Abismo, o menor grupo dentro do bolsonarismo é também o mais radical. “No entanto, os fascistas são pouco mais de 2% do eleitorado, não toleram a liberdade de grupos de esquerda, são preconceituosos e racistas e já antes da campanha eleitoral defendiam que Bolsonaro liderasse um golpe autoritário”. “Eles se fortaleceram ao longo do governo de Bolsonaro porque se sentiam acolhidos.

Foram eles os responsáveis por dar visibilidade à radicalização do governo em manifestações como as de 7 de setembro de 2021”.