Os autores do estudo científico Evolução da Condição Ambiental em Fragmentos da Mata Atlântica na Região Metropolitana do Recife-PE já apontavam, em 2012, há mais de uma década, a importância do Exército para a preservação dos resquícios de Mata Atlântica em Pernambuco e a necessidade de inclusão das Forças Armadas em uma politica de conservação “no futuro”. “Essa tendência de melhora progressiva da condição ambiental (nas áreas controladas pelo Exército) se estabelece no sentido inverso do que vem ocorrendo na maioria das florestas estudadas nas regiões metropolitanas.
Esta constatação evidencia a necessidade de uma estratégia de conservação dessas áreas no futuro, reduzindo as pressões por mudança no uso do solo, geradas pelos atuais vetores de crescimento urbano e industrial”, escrevem em um resumo do trabalho científico, apresentado na Revista Brasileira de Ciências Agrícolas.
Outro estudo semelhante, na mesma linha, foi publicado na revista Floresta e Meio Ambiente (Floran), em julho de 2012.
Qual era o risco que os autores já anteviam? “Os remanescentes florestais em áreas metropolitanas assumem relevância maior, uma vez que se encontram sob potencial ou real pressão de urbanização, como abertura de estradas, implantação de parques industriais, criação de novos loteamentos, construção de conjuntos habitacionais e ocupação urbana informal, tão típica dos chamados perímetros urbanos.
Os grandes maciços florestais transformaram-se em bairros residenciais, ou em raras exceções, em florestas urbanas, como ilhas de vegetação nativa (Braga, 2011)” “Desta forma, a melhoria da condição ambiental das florestas sob a tutela do Exército aponta para a necessidade de se ter uma estratégia clara de futuro em relação a essas áre-as, possibilitando um status de proteção ambiental que não as coloque em vulnerabilidade, frente a eventuais projetos estruturadores urbanos ou mesmo ao crescimento inercial dos municípios que fazem parte da RMR”. “Por enquanto, esses fragmentos florestais ainda estão quase despercebidos da metrópole.
Se por um lado ainda não despertou a especulação imobiliária, por outro, também não despertou a necessidade de valorizá-los como importantes representantes de uma paisagem que dominava a Zona da Mata de Pernambuco, e que possui estratégico papel na geração de serviços ambientais, como a produção de água, a captura de carbono e a conservação da biodiversidade”.
Alguns números apresentados naquele trabalho apontavam porque era importante incluir os fardados na política de conservação. “A região Metropolitana do Recife (RMR) possui 2.768,95 km de área; desse total, apenas 8% é representada por uma cobertura vegetal de remanescente de Mata Atlântica, ou seja, 222,96 km (CPRH, 2006).
Nesta mesma região, as áreas pertencentes ao Exército Brasileiro com cobertura vegetal de mata atlântica representam 76 km2, correspondendo a 29% do total da área com cobertura remanescente deste bioma em toda RMR.
Logo, quase um terço das áreas remanescentes de Mata Atlântica da RMR está tutelado ao Exército Brasileiro” “Considerando-se que, há pelo menos quatro décadas, essas áreas militares eram predominantemente agrícolas, sendo propriedades rurais controladas por donos de engenhos, pequenos agricultores ou por órgãos governamentais voltados para as atividades de pesquisa e extensão em agricultura e pecuária, constata-se uma mudança radical no uso do solo a partir da presença do Exército como novo tutor”, diz outro trecho.
O estudo Evolução da Condição Ambiental em Fragmentos da Mata Atlântica na Região Metropolitana do Recife-PE é assinado pelo professor Ricardo Braga, um dos ecologistas mais respeitados do Estado, além do coronel Helder Guimarães e Thiago Oliveira.
Ricardo Braga é professor da UFPE e foi um dos fundadores da Aspam, em Pernambuco.
Helder Guimarães, por seus conhecimentos no setor e tese de mestrado provada na mesma UFPE, é um dos colaboradores para a implantação do projeto da Escola de Sargentos.
Helder de Barros Guimarães fez o estudo pelo departamento de engenharia civil da UFPE.
Pasto, antes de mata com árvores e invasões As verdadeiras agressões ao meio ambiente já podem ser identificadas no estudo, quando os pesquisadores citam a área do CIMNC, escolhida agora para o projeto de desenvolvimento educacional. “Na figura 4, identificam-se os IAFs (indicador da condição ambiental da floresta) da região do CIMNC para os anos de 1988 e 2007, ou seja, um intervalo de tempo de 19 anos.
Observa-se que no ano de 2007 predominavam na imagem valores de indices com parâmetros entre 1,21 - 1,50.
Por sua vez, no ano de 1988, esta mesma área apresentava-se com parâmetros na faixa de 0,81 - 1,00.
Logo, constata-se que no decorrer dos anos houve um aumento da quantidade de área ocupada por vegetação mais densa.
Por outro lado, constata-se nas mesmas imagens que a qualidade ambiental, representada pelo IAF, piorou nas áreas situadas no entorno do CIMNC”, destacam.
Isolamento e melhorias ambientais “O controle de acesso por razões de militares a pequenas áreas internas para a montagem de infraestrutura operacional e a necessidade de manter o isolamento das áreas usadas como medida de segurança para as atividades de treinamentos militares possibilitaram uma regeneração florestal significativa”, escrevem. “Esta recuperação florestal, evidenciada, sobretudo pelo IAF, utilizando-se o sensoriamento remoto, apresenta-se com grande importância na RMR, onde é evidente a tendência de redução das áreas florestais, sobretudo pela progressiva urbanização”.
Proteção permanente dos mananciais hídricos, não o contrário “Salienta-se que as florestas existentes nas áreas do CIMNC e do 14o BIMtz contribuem diretamente para a proteção dos mananciais hídricos dos reservatórios respectivamente de Botafogo e Jangadinha, os quais atendem ao abastecimento público da RMR”. “Além disso, a redução do desmatamento, a expansão de área ocupada e a conectividade dos fragmentos florestais, além do próprio adensamento em biomassa, atendem aos princípios do chamado desmatamento evitado, utilizado para o controle do estoque de carbono na vegetação, evitando que ganhe a atmosfera e acelere o efeito estufa”.
Antimilitarismo?
Não se sabe se por preconceito ou ideologia contra os fardados, o Exército tem sofrido resistência e incompreensões, ao tentar implantar o projeto da Escola de Sargentos do Exército (ESA), comprometendo-se a deixar a APA Aldeia Beberibe melhor do que encontrou. “O projeto (da Escola de Sargentos) vai mudar a região, mas para levá-lo adiante tem-se que pedir por favor.
A escola ainda não saiu de Pernambuco porque há um pernambucano no Ministério da Defesa”, afirma uma graduada fonte do blog.