No livro Biografia do Abismo, o cientista político Felipe Nunes e o jornalista Thomas Traufmann afirmam que a polarização brasileira é resultado de um processo de anos, mas dificilmente teria alcançado os níveis atuais se cada lado da corda não estivesse sendo puxado pelos dois líderes brasileiros mais populares do século. “É difícil ficar impassível diante de Lula e Bolsonaro”.

Na obra, eles defendem que o acirramento das posições radicais no debate político não terá fim, no curto prazo, pela simples razão de que, em um contexto de polarização, ambos os lados tem chances de bater o outro por muito poucos (votos).

Assim, qual o incentivo externo para jogar a toalha ou levantar a bandeira branca.

Assim, a polarização só deve piorar, nos próximos anos.

Como exemplo de que a quebra de braço deve persistir, eles citam uma pesquisa da Quaest realizada logo depois da decisão do TSE que cassou os direitos políticos de Bolsonaro.

Nela, 82% dos eleitores de Bolsonaro afirmam que a decisão da Justlça eleitoral havia sido injusta.

Neste mesmo levantamento, 93% disse que votariam em Bolsonaro novamente.

A conclusão dos autores: “Mesmo expulso de campo, Bolsonaro segue protagonista no jogo”, mesmo com a punição pelo TSE.

A ver, em São Paulo, a luta do prefeito Ricardo Nunes pelo apoio do ex-presidente, por exemplo.

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Nordeste não teve ‘culpa’, explica Biografia do Abismo ‘Bolsonaro não está morto’, alerta livro Biografia do Abismo Exclusivo: Autores de Biografia do Abismo afirmam que polarização política no Brasil so deve piorar Como o risco que corre o pau corre o machado, em um ambiente acirrado, uma pequena diferença pode fazer a diferença.

Lula sabe desta verdade, depois de ter descido à ultima escala. “A política é um dos poucos lugares em que você pode ressuscitar sem precisar morrer antes”, afirmam.

Não precisa nem ir longe.

Aqui mesmo em Pernambuco, Eduardo Campos foi vítima de uma campanha sordida com a guerra dos precatórios e quase sucumbiu.

Com paciência e resiliência, deu a volta por cima, elegeu-se governador duas vezes e fez ainda o sucessor.

Com diplomacia, entretanto, os autores de Biografia do Abismo, que definem limites para a atuação política radicalizada, traçam um risca divisória importante, ao defenderem que não se pode, no debate político atual, ceder às falsas equivalências. “É preciso evitar falsas equivalências.

Entre 2016 e 2022, Lula foi investigado, condenado, preso, solto e voltou a ser candidato a presidente sem nem de longe ameaçar as instituições ou incentivar rupturas como fez Bolsonaro, especialmente a partir da pandemia de covid 19”, ressaltam.

Na publicação, os autores analisam que Lula foi esperto ao defender a união do Pt com o PSDB, antigo adversário, como sinal da gravidade de um governo Bolsonaro 2, pregando uma união nacional sem vingança se eleito.

Sobre Bolsonaro, eles dão a avaliação de que ele pecou por não ter sido mais inteligente, dosando o próprio instinto na campaha e ao longo do governo.

Na base da conjetura, eles citam pesquisas qualitativas da Quaest informando que o principal motivo para a rejeição de Bolsonaro eram suas falas e agressividade (para 22%).

A má administração, o segundo motivo alegado, era citado por 16%, em comparação.