Os autores de Biografia do Abismo, que trata da polarização no Brasil nas eleições de 2022, Felipe Nunes e Thomas Traufmann, afirmam na publicação que Bolsonaro poderia ter vencido o pleito, se tivesse adotado mais políticas distributivas, normalmente associadas aos partidos de esquerda. “Cabe especular se, caso Bolsonaro tivesse demonstrado um compromisso mais consistente com a distribuição de renda ao longo de seu mandato, e com um pouco mais de tempo para distribuir benefícios aliados à propaganda durante a campanha, poderia ter convertido os benefícios distribuídos na votação necessária para se manter na presidência”, questionam os autores.
Naquela altura, a maioria dos eleitores avaliava que o Brasil saiu pior da pandemia e culpava Bolsonaro pela situação.
A especulação é feita depois que a dupla analisou a melhora de imagem de Bolsonaro ao longo de 2022, com uma série de ações sociais.
As bondades eleitorais, associadas pelo PT ao período eleitoral, incluíram de aumento do auxílio gás à antecipação de pagamento do 13º salário dos aposentados e pensionistas, entre outros.
O corte dos impostos sobre a gasolina entra neste mesmo rol.
De modo que, entre julho de 2022 e a véspera do segundo turno, as citações da economia como o maior problema caíram de 44% para 33%, frisam.
Os autores defendem a tese porque 2022 foi a eleição mais acirrada da história, tendo sido decidida por 1.8 pontos percentuais entre o primeiro e o segundo colocado, desde 1989.
Antes, só a reeleição de Dilma em 2014 foi tão apertada, com 3.28 pontos percentuais.
Neste cenário, em 2022 o pendulo poderia ter ido para o polo oposto, caso a condução da campanha tivesse outra orientação.
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E eles não querem Biografia do Abismo: entenda como a verdade deixou de interessar com a polarização política Quem deu a vitória a Lula?
Nordeste não teve ‘culpa’, explica Biografia do Abismo ‘Bolsonaro não está morto’, alerta livro Biografia do Abismo Exclusivo: Autores de Biografia do Abismo afirmam que polarização política no Brasil so deve piorar Erro com as vacinas A dupla lembra que Bolsonaro foi o único governante do mundo a assumir uma postura negacionista e isto teve um preço, pago nas urnas. “A insistência de Bolsonaro em contrabalancear as medidas sanitárias com os riscos para a economia foi apoiada pelos seus eleitores, que ao longo do tempo se mostraram sempre menos preocupados com o vírus do que a média da população.
Ao mesmo tempo que reforçou o laço que o unia aos seus militares, no entanto, Bolsonaro criou um fosso com os demais.
Esse fosso foi um dos pontos decisivos para sua derrota”, afirmam. “Bolsonaro e as outras figuras poderiam ter aproveitado o momento para unir o país em torno da vacinação, como ironicamente fez o último general presidente do Regime Militar, João Figueiredo, que implementou os dias nacionais de vacinação, com foco especialmente na poliomielite.
Diante da covid 19, Bolsonaro optou pela divisão e pagou por isso”, destacam.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi vacinado ontem pelo vice-presidente Geraldo Alckmin, que é médico - Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil Mulheres e negros deram vitória a Lula Embora os aliados de Bolsonaro tenham culpado o Nordeste por ter dado a vitória a Lula, os autores do livro Biografia do Abismo explicam, mais uma vez, que a pandemia cobrou seu preço.
Uma tese conhecida pelos analistas nos EUA (partisan sorting) defende que, na crise, as mulheres se voltam mais à esquerda (em busca de proteção do Estado). “Lula venceu entre as mulheres por uma diferença de mais de 10 pontos percentuais (49 a 38) e entre os eleitores autoidentificados como pretos por quase 30 pontos (58 a 31), margens de vitória maiores do que o PT havia registrado em eleições anteriores…” “… no caso brasileiro, o comportamento e o desempenho de Bolsonaro durante a pandemia e a crise econômica sugerem que o alinhamento das mulheres no partido de esquerda seguiria uma lógica similtar aos padrões observados nos Estados Unidos”.
Caso seja verdade, talvez fosse o caso da direita mais civilizada rever a oposição sistemática ao que consideram “privilégios” que incentivam uma divisão racional no país.