No livro Biografia do Abismo, que faz uma autopsia da polarização política na última eleição, o cientista político Felipe Nunes, CEO do instituto de pesquisas Quaest, e o jornalista Thomas Traufmann, explicam que o acirramento das posições radicais no debate político não terá fim, no curto prazo, pela simples razão de que, em um contexto de polarização, ambos os lados tem chances de bater o outro por muito poucos (votos).
Assim, qual o incentivo externo para jogar a toalha ou levantar a bandeira branca.
Neste contexto, eles afirmam que, mesmo com a vitória de Lula sobre Bolsonaro, o ex-presidente não está morto, como eventualmente gostariam os adversários. “Acreditamos ser ingênuo supor que a ausência de um dos dois nas próximas eleições (2026, por exemplo) vai devolver o País á normalidade política”, resumem. “Os resultados são imprevisíveis” Leia Também Exclusivo: Autores de Biografia do Abismo afirmam que polarização política no Brasil so deve piorar Polarização política no Brasil: como opiniões políticas dividem famílias, desafiam empresas e comprometem o futuro do país Os autores defendem que a calcificação (das opiniões, dos projetos políticos de poder) vão se acentuar, com resultados imprevisíveis.
Para sair de tal calcificação, o primeiro passo seria a concordância sobre limites, de que existem regras civilizatórias e que não podem ser ultrapassadas.
Convenhamos, uma condição bastante complicada de se atingir quando se viu até o governador de Minas Gerais, Romeu Zema, que se apresentava como de centro, flertando com as fake news.
Outra sugestão seria impor limites claros de até onde vai a opinião política e onde começa a intolerância. “Irmãos e amigos devem entender que ter opiniões divergentes é tão natural quanto tocer para times rivais no futebol.
Um desconhecido usar a camiseta do político adversário é um direito dele, não é uma ofensa”, explicam. “Não se pode, em nome de uma liberdade de expressão sem limites, naturalizar o ódio, o preconceito e a intimidação” No começo da publicação, os dois autores relatam que, antes, apenas a economia criava dois Brasis, um mais rico e um mais pobre.
Agora, a política também produz dois Brasis, um pais repartido entre lulistas e bolsonaristas.
A nova polarização extremada é uma passo além da polarização que havia entre tucanos e petistas, no passado, com o velho nós contra eles.
Os autores culpam o PSDB pelo regresso. “Com o tempo, o PSDB abandonou os ganhos do Plano Real e transformou o antipetismo no valor que o diferenciava na disputa, dando ao partido um eleitorado à direita que, depois, o trocou por Bolsonaro”, escrevem. “… por pior que fosse, a retórica do nos contra eles não pregava a eliminação do adversários, isto é, ainda admitia a existência do outro… uma vez que o PT se estabelece como uma força política que solidifica sua base eleitoral na população, os eleitores que se opõem a essa força semeiam sentimentos de rejeição ao partido, o que leva à formação de uma identidade que se define por tal rejeição: o antipetismo”, afirmam. “A criminalização da política decorrente da Operação Lava Jato acentuou a divisão entre petistas e antipetistas… com o clima antipolítica criado, abriu-se espaço para que um candidato antipolítica tomasse o lugar do antipetista tradicional, o PSDB. É nesse contexto que o centro político explode…”