A cidade de Senador Canedo, em Goiás, distante 2.304,1 quilômetros do Porto de Suape, entre o Cabo e Ipojuca, veio buscar inspiração no complexo industrial pernambucano para resolver um problema de ordenamento urbano.

Conhecida como a cidade que mais cresce no Brasil, de acordo com os números mais recentes do IBGE, o município goiano, ao lado da capital Goiana, é cortado por dutos de diesel e de gasolina que saem de Paulínea e são distribuídos no centro oeste.

Episódios de incêndio, com os caminhões de material inflável e explosivo, levaram a gestão local a buscar alternativa de ordenamento urbano.

Com aval do MP local, preocupado com a segurança dos 156 mil habitantes e interessado em acabar a bagunça.

O modelo ideal para realizar a integração entre os elos da cadeia de produção e distribuição foi encontrado em Pernambuco, a partir da experiência de uma jovem empresa, de apenas três anos, batizada de Sulog (Suape Logística).

Em evento realizado em Brasília, o ministro Sílvio Costa entregou placa aos empresários pernambucanos Manoel Ferreira e Manoel Neto pelos 40 anos de atividades da Agemar - Arquivo Pessoal “A gente busca entender a dor do cliente, para ser o remédio que vai curar os problemas.

Foi assim que unimos os elos na cadeia de logística de Suape.

O desafio agora é fazer este ordenamento não em uma cidade portuária, mas em um perímetros urbano, no Planalto Central”, conta o empreendedor e empresário Manoel Ferreira.

O disciplinamento que os goianos buscam implantar, com a ajuda da Sulog e o parceiro local, não deixou saudade em Suape. “Havia filas de até três quilômetros, que iam até a curva do boi.

No passado recente, era veículo parado em rodovia, roubo de cargas, prostituição, trabalho infantíl.

Hoje, até o sinistro rodoviário caiu”, comemora Leo Bacelar, diretor da empresa e especialista em ordenamento urbano.

Do poeirão ao paver, longa distância Quem conhece a história de Suape, sabe que a área destinada aos caminhoneiros era conhecida como poeirão.

A rigor, era uma solução intermediária, adotada pela gestão de Suape na época para evitar o caos maior, com filas e trânsito ruim.

Com a introdução da checagem das informações de acesso ao porto, em 2020, por normas internacionais, as filas demoraram ainda mais. “Era usada uma área da antiga Decal, prevista para uma ampliação de parque de tancagem.

O problema é que se chovia era lama para os caminhoneiros.

Se fazia sol, era poeira.

O lugar era conhecido, assim, por poeirão.

A nossa empresa, ao atender ao chamamento, humanizou o trabalha dos caminhoneiros no porto”, orgulha-se Manoel. “Saiu o poeirão, agora estamos na era do paver (espécie de piso que lembra o intertravado, porem muito mais resistente).

Pode chover e não alaga.

Poeira só aquela da memória”, diverte-se o gerente Edgar Continentino, responsável pelo setor de obras da empresa. “Foram R$ 42 milhões em investimento, só de pedra e cal”.

Com cerca de mil caminhões por dia, o empreendimento atende cerca de 25 mil veículos por mês, oferecendo 518 vagas estáticas.

Não é estacionamento, é centro de triagem Os donos da empresa Sulog contam que, curiosamente, a inovação teve reação negativa, mas depois as empresas e os caminhoneiros perceberam as melhorias envolvidas, no processo. “O primeiro impacto foi achar que se trata de um novo custo.

No entanto, com a ordenação, ganha a empresa, em previsibilidade e produtividade.

Sem sustos na trocas de plantão, as escalas podem ser programadas de forma mais organizadas e há redução de custo.

Com um caminhão custando R$ 800 mil, é melhor pagar um ticket médio R$ 50,00 para estar na fila de triagem.

Também ganha o trabalhador, o caminhoneiro, que agora trabalha em um ambiente saudável, pode viver melhor”, explica Leo Bacelar.

O segredo é o agendamento realizado pelos 21 terminais de Suape, de forma integrada. “A operação lembra um carrossel, pelo cadência.

Caso a chuva feche o porão de um navio, automaticamente suspendemos a triagem aqui e vice-versa”, informa o economista.

Como se fosse um shopping center moderno para o motorista, o centro de triagem conta até com uma barbearia e uma loja de bateria. “Hoje, os motoristas ficam no ar condicionado e cada transportadora tem uma sala para dar apoio ao seu pessoal e emitir nota fiscal.

Antes, o motorista ia daqui para o cabo para pegar uma nota fiscal.

Breve, vamos ter redes para descanso, uma academia da cidade e uma clínica popular.

No final da tarde, é comum grupos de caminhoneiros se reunirem para uma caminhada pelo pátio”, conta o gerente Evandro Moura.

Refinaria Abreu e Lima, em Suape - Divulgação Que venha mais gasolina e diesel por ai Em Goiás, na última sexta-feira, o prefeito de Senador Canedo, Fernando Pellozo, que já visitou a Sulog em duas oportunidades, nos próximos dias deve enviar um projeto de lei para a doação do terreno onde será instalado o novo pátio de triagem, além de outro projeto de lei ao Legislativo Municipal com o disciplinamento urbano, prevendo fiscalização pública.

Se Suape tem a peculiaridade de oferecer um acesso único, uma cidade urbana não funciona assim, embora caiba ao poder público o ordenamento.

Por aqui, atento às novas oportunidades, curiosamente Manoel Ferreira volta os olhos para mais diesel e gasolina no futuro. “O governo Lula autorizou R$ 800 milhões em obras na Rnest (nome técnico da Refinaria Abreu e Lima), para ampliação da produção de diesel aqui no Nordeste.

Queremos servir de apoio também a essa cadeia logística”