Por Ricardo Noblat, em artigo enviado ao Blog de Jamildo Oh, oh, saudade; saudade tão grande Do céu, juntinhos como bons amigos que sempre foram, Helder Pessoa Câmara, cearense, nascido em 7 de fevereiro de 1909, e Leocádia Alves, pernambucana, nascida em 1931, acompanharão curiosos a missa a ser celebrada, esta manhã, na Igreja de Nossa Senhora das Fronteiras, no bairro da Boa Vista, Recife.

Foi nos fundos dessa minúscula capela do século XVIII que Dom Hélder Câmara, arcebispo de Olinda e Recife, ou padre Hélder como assinava as páginas do seu diário, viveu entre 1964 e 1999.

E foi ali que a atriz, escritora e ativista política conhecida toda a vida como Leda Alves encontrou-o tantas vezes para conspirar.

Foram parceiros durante 21 anos de luta contra a ditadura militar.

Dom Hélder destacou-se pela coragem de denunciar torturas e mortes quando a maioria dos seus irmãos de batina preferiram silenciar; Leda, por seu trabalho arriscado de conscientização política dos mais pobres nos bairros populares do Recife.

Conheci Dom Hélder em 1967 quando eu era repórter da sucursal do Jornal do Brasil, no Recife.

E Leda no ano seguinte.

Em 1969, velamos na Igreja do Espinheiro o corpo do padre Antônio Henrique Pereira Neto, auxiliar de Dom Hélder, sequestrado, torturado, enforcado e morto a tiros por agentes da ditadura.

Hélder entrou para a história do Brasil como um dos maiores defensores dos direitos humanos e da renovação da Igreja Católica.

Em breve, poderá ser beatificado.

Leda, que morreu em casa há uma semana, já faz parte da história de Pernambuco como a santa protetora e milagrosa da cultura popular.

Fundadora do Teatro Popular do Nordeste, diretora do Teatro Santa Isabel e Secretária de Cultura do Recife, Leda presidiu a Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco e a Companhia Editora de Pernambuco.

Em locais de trabalho, era circunspecta; fora, ria às bandeiras despregadas e dizia palavrões.

Bateram os tambores de todos os blocos carnavalescos ao anúncio da morte de Leda.

Estandartes de maracatus curvaram-se diante do caixão onde seu corpo repousava.

Restarão a memória dos seus feitos, os que tiveram o privilégio de desfrutar de sua amizade e essa saudade da gota serena que jamais passará.