O ex-governador Eduardo Campos fez um governo disruptivo em termos de gestão e inovou em áreas como transporte público e saúde.

Pelas suas mãos, nasceram a primeira PPP de rodovia urbana no Paiva e as Organizações sociais na gestão das UPAs, Unidades de Pronto Atendimento, algo impensável para o ex-governador Miguel Arraes, em sua linha estatal.

Se Eduardo Campos havia pendurado o retrato do avô na parede, com uma série de PPPs, o prefeito João Campos, filho de Eduardo e bisneto de Arraes, está indo além.

Quem poderia imaginar, o socialista está neste momento se aproveitando da guerra de publicidade entre as empresas comerciais para economizar recursos públicos em zeladoria, com a implantação dos relógios eletrônicos digitais.

A Eletromídia, maior empresa de mídia Out-Of-Home do país, possui na cidade 70 relógios digitais ativos e vai chegar a 80 unidades ainda em 2023.

A instalação completa de 108 relógios acontece até o primeiro trimestre de 2024.

Para ter o direito de explorar de forma pioneira a atividade, a firma pagou R$ 100 milhões aos cofres municipais.

Cabeça jovem, outras ideias O curioso é que o modelo de PPP está previsão legal desde 1995, criado pela lei das concessões de Fernando Henrique Cardoso (FHC). “Por desconhecimento, houve no início muita resistência à ideia.

Havia uma confusão enorme entre o que é concessão e privatização, não muito popular entre a classe política.

Foi preciso chegar um jovem político, com outra cabeça, para que o Recife tivesse sua primeira concessão (depois de 27 anos)”, observa o economista Othon Bastos, que tem mestrado e especialização em PPP pela Escola de Ciências Aplicadas da Holanda, e é gerente regional de relações governamentais da Eletromidia.

Em Salvador, na Bahia, com um projeto em implantação e que deve ser concluído até 2027, o escopo das ações é ainda maior.

A parceria envolve os abrigos de taxis e ônibus, bicicletários, painéis de mensagem, conjuntos diretórios para os pontos turísticos e coletores de lixo, que em seu conjunto são conhecidos como mobiliário urbano.

Na terra do acarajé, como o projeto é bem mais amplo, a empresa paulista teve que investir milhões na outorga, o direito de explorar a publicidade nas vias públicas em troca da manutenção dos serviços.

Nada impede que, no Recife, mais a frente, João Campos abra uma nova licitação e peça propostas para a exploração.

Abrigo Amigo paras as mulheres Outra iniciativa inovadora da Eletromidia, maior empresa brasileira do segmento de mídia externa e única com ações listadas na Bolsa, é o Abrigo Amigo, projeto que conquistou ouro em Media e bronze em Brands Experience & Activation no Cannes Lions deste ano.

A ideia nasceu depois que veículo e agência mapearem pontos de ônibus mais vulneráveis do ponto de vista de segurança, sobretudo às mulheres.

Com o objetivo de ser uma companhia a quem aguarda o transporte, o abrigo tem um totem interativo conectado à internet, com câmera noturna e microfone.

Um sensor instalado detecta quando há apenas uma pessoa no local e, assim, bastar tocar à tela para iniciar uma chamada de vídeo com uma profissional da empresa.

O serviço ficará disponível entre 20 h e 5 h.

Tela com a chamada para uma profissional da empresa de segurança A meta da empresa é inaugurar 100 abrigos até o final do ano, sendo 70 em São Paulo, 20 em Campinas – cidade em que foi feito o piloto do projeto –, e 10 no Rio de Janeiro.

Até o momento, patrocinam o Abrigo Amigo Santander, Vivo, Bradesco Seguros, Sempre Livre, Diageo e Anhanguera, e tem o apoio da Prefeitura de São Paulo, Governo do Estado de São Paulo e Governo Federal.

Relógios digitais da Eletromidia instalados em praça do Recife - Divulgação “A Eletromidia tem como propósito a transformação das cidades.

E, nesse caso, não foi diferente.

O Abrigo Amigo é uma iniciativa inovadora que através da tecnologia aborda uma questão social significativa no cotidiano dos grandes centros urbanos”, disse Alexandre Guerrero, CEO da Eletromidia.

Grande Irmão sem reconhecimento facial no Recife Como houve muita polêmica com grupos locais, a empresa conta que a funcionalidade de reconhecimento facial não foi ativada, atendendo inclusive aspectos da lei de proteção de dados. “Há um link dedicado que envia as imagens para a secretaria de segurança cidadã da PCR, que tem acesso às câmaras.

Não passa nem por nossos servidores”, explica. “A PCR tem quatro logins para programação, de onde podem emitir mensagens e avisos para os relógios, como campanhas educativas.

As mensagens podem ser georeferenciadas, para um ponto específico ou mais de um relógio, entre os 70 já instalados”, explica, citando que a PCR, com previsão no edital, tem direito a 4% de espaço para fazer propaganda também, no segundo maior mercado de midia fora de casa (out of home) do Brasil, depois de São Paulo.

Vida de micro prefeito Nas 37 praças e canteiros, a gestão do dia a dia da concessão é osso, sem o glamour do prefeito de fato.

Othon Bastos conta que a empresa tem que lidar com roubo de cabos, pedradas lançadas por moradores de rua, pixações e até roubo de mudas plantadas para paisagismo, sem contar o lixo que é deixado no local pelos frequentadores. “Encontramos ambientes públicos deteriorados, mas em pouco tempo estamos trazemos benefícios para a cidade, trazidos graças à exploração da publicidade”.

Com indicadores de performance contratuais, a empresa é obrigada, por exemplo, a realizar o aguamento das praças de 10 a 15 dias, bem como fazer a poda das plantas, varrição e pintura.

Há ainda outros benefícios menos visíveis para os recifenses, como wifi gratuito nos locais.

Para ter conexão de graça, os usuários das praças precisam apenas ter um cadastro no Conecta Recife. “A instalação do w-fi já está ajudando toda uma população que carece de conexão de alta velocidade e a implementação de 108 câmeras de alta resolução para fortificar o monitoramento e contribuir com uma cidade mais segura”. “Já temos cerca de 50 milhões investidos na capital, em manutenção das praças e equipamentos, sendo R$ 20 milhões pagos no ato de obtenção da outorga”.

A partir do primeiro ano de exploração, a empresa começa a pagar uma quantia mensal aos cofres públicos, até o fim dos 20 anos de contrato.

Ai pode ser feita uma relicitação, mas as bem feitorias e os equipamentos são agregados ao patrimônio público.

Leia Também João Campos vai fazer PPP com ajuda do BNDES para revitalizar Avenida Guararapes “A beleza destas concessões é que a publicidade vai pagar os custos e o preço da outorga.

A publicidade tem que trazer benefícios para a sociedade.

Não viemos nos estabelecer só pela guerra da publicidade”, pontua.

Com 38 anos, às vésperas de ser pai pela primeira vez, nascido e criado no Recife, onde se graduou em administração pela UFPE, Othon Bastos tem como desafio fazer o grupo Eletromidia crescer na Região Metropolitana do Recife (nem tão moderninhas, Olinda e Jaboatão ainda não lançaram editais na mesma linha das PPPs) e interior do Estado, além das capitais do Nordeste. “A Eletromidia tem contribuído para deixar Recife mais bonita, informada e conectada.

Há muito espaço para crescer, queremos novas concessões e neste escopo a lei nos permite até doar estudos de mercado”.

O governo Raquel Lyra, com suas licitações para abrigos de ônibus, também está no radar da empresa.

O recifence praticante trabalhava na maior empresa estatal do setor, a CPP, do governo de São Paulo, até o final do ano passado.

Recrutado para o desafio de implantar a primeira PPP da empresa no Recife e no Nordeste, o economista conta que a principal razão para mudar de cidade e emprego foi a oportunidade para que o filho nascesse no Recife, a mesma terra do avô.

Os filhos honram os pais e os netos honram ambos.