Na maior parte do tempo discreto, o ministro do STF Alexandre de Moraes fez uma revelação aos senadores da CPI da Covid, quando eles visitaram autoridades da República para a entrega oficial do relatório final da comissão parlamentar de inquérito.

No livro A política contra o vírus, os bastidores da CPI da Covid, os senadores Randolfe Rodrigues e Humberto Costa, membros da comissão, afirmam que Moraes, que causa terror entre os aliados de Bolsonaro, disse em uma reunião com os parlamentares que a CPI acabou sendo positiva para o STF, alvo frequente do bolsonarismo. “Na conversa, Moraes avaliou que a CPI havia obrigado os bolsonaristas e o próprio presidente a direcionarem seus ataques à comissão, reduzindo sensivelmente, ainda que pouco tempo, o cerco e a pressão impostos à Suprema Corte, sobretudo após o recente 7 de setembro de caráter golpista”, revelam.

Milícias digitais Além dos ataques institucionais, a publicação do livro sobre os bastidores revela que havia outra conexão direta entre o STF e a CPI da Covid, involuntária ou não. É que nas 1300 páginas do relatório final do relator Renan Calheiros, mais de 200 delas versam sobre fake news e milicias digitais. “É o mais completo documento sobre a indústria de desinformação no Brasil”, afirmam.

Moraes é o relator do inquérito das Fake News, no STF, ainda inconcluso.

Autonomia dos Estados versos o um manda, outro obedece O terceiro ponto de ligação entre o STF e os ataques institucionais recebidos pode ser associado com o reconhecimento, na Suprema Corte, da autonomia dos Estados e municípios para cuidar da população na pandemia, sem esperar pela União, que brecava as vacinas, apostando na imunidade de rebanho.

Nesta fase, 17 estados da federação assinaram intenções de compra com o Butantan para a produção de vacinas, garantindo os recursos que eram necessários para investir nas novas linhas.

Na publicação, os dois senadores pernambucanos falam em “sabotagem” e destacam a atuação do general Pazuello, no Ministério da Saúde.

O primeiro ofício do Butantan para Pazuello chegou em julho de 2020.

O ex-ministro chegou a afirmar que a Coronavac seria a “vacina do Brasil”, mas no final de outubro foi desautorizado publicamente pelo presidente. “Um manda, outro obedece”, justificou-se, na época.

Quando deixou o Ministério da Saúde, eram 426 mil mortes associadas à pandemia.

Ano sem carnaval A CPI começou em julho de 2021 e acabou em outubro do mesmo ano.

O ano já havia começado de forma atípica, sem carnaval em 2021, após 56 anos, por conta da pandemia.

Nesta fase, eram 230 mil mortes associadas ao vírus.

O chamado lockdown (fique em casa) revoltou os empresários e comerciantes que davam apoio ao presidente, que se recusava a reduzir a atividade econômica, por conta da doença, chamada de gripezinha.

Leia Também Livro de Humberto e Randolfe sobre CPI da Covid faz homenagem a Luiza Trajano Sem espaço com Artur Lira No périplo dos senadores, quem acabou acabando de fora da programação das entregas foi o presidente da Câmara dos Deputados, Artur Lira, de Alagoas.

Na publicação, eles justificam que, detendo o botão de acionamento dos pedidos de impedimento, se não havia movido uma palha contra Bolsonaro, não seria com o relatório que mudaria de ideia.

Não apenas isto, mas também a relação de Lira com o líder do governo, Ricardo Barros, também explicaria a decisão de evitar levar o documento final para os deputados.

Barros foi indiciado no texto final.

Com um depoimento realizado em agosto de 2021, a passagem do deputado do PP do Paraná pela CPI foi avaliada como uma grande derrota pelos autores. “O nível de desfaçatez a que fomos submetidos foi tamanho…

Graças ao seu atrevimento e seu talento retórico, Ricardo Barros produziu tumulto na CPi que, ao final, consideramos sua participação uma derrota para nós”, afirmam.

Na mesma linha adotada com Artur Lira, Augusto Aras, da PGR, chegou a ser chamado para prestar esclarecimentos na CPI, mas declinou. “Ao que nos consta, por não ter nada a apresentar”, comentou Humberto Costa, no livro. “A CPI toda foi uma batalha contra a inerte PGR”