Os senadores pernambucanos Randolfe Rodrigues (sem partido - AP) e Humberto Costa (PT/PE) afirmam, no livro A política contra o vírus - Bastidores da CPI da Covid, a ser lançado neste sábado, na Bienal Internacional de Pernambuco, que os colegas senadores foram complacentes com os militares bolsonaristas que estavam no governo, sugerindo que isto foi um erro e acabou por atrapalhar o andamento dos trabalhos.

A crise interna se instalou depois que Omar Aziz reclamou da suposta “banda podre” que havia se instalado no Ministério da Saúde e mandou prender o militar Roberto Dias, ex-diretor de logística da pasta sob Eduardo Pazuello.

Segundo os autores, o próprio presidente da CPI, Omar Aziz (AM), nesta estratégia, contava com o apoio da maioria dos senadores do G7, entre os quais Tasso Jereissati (CE), Otto Alencar (BA) e Eduardo Braga (AM). “Eles defendiam que era prudente manter a CPI a uma distância razoável de certas figuras da caserna, como sinal de respeito às Forças Armadas.

Só que o cuidado que ele tinha na relação da CPI com as Forças Armadas poderia não ser recíproca”, afirmam, referindo-se a uma nota oficial dos militares contra o senador do Amazonas e a CPI, em resposta à colocação da suposta “banda podre”. “Os militares reagiram ouriçados, era hora de falar, calar só daria razão ao absurdo que era a publicação da nota.

Nem de longe as Forças Armadas foram atacadas pela CPI… já a respeito das denúncias de corrup~ção, nenhuma linha sequer (na nota oficial)”, compararam.

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O livro, editado pela Companhia das Letras, traz as histórias que ocorreram nos bastidores de uma das maiores comissões parlamentares de inquéritos de todos os tempos, criada para apurar as responsabilidades do governo Bolsonaro no avanço da Covid-19 no Brasil durante a pandemia.

Na obra, os pernambucanos ainda malham o presidente do Senado. “Pacheco, com seu espírito excessivamente conciliador, saiu-se com um discurso sem força alguma (na defesa da CPI)”, escrevem.

Origem da frente única Na obras, eles defendem que a CPI da Covid deu origem à frente ampla que elegeu o presidente Lula, em 2022. “A CPI da Covid, fugindo a regra comum, fez com que a oposição e os independentes tivessem maioria entre seus 18 integrantes.

Ali, ao nosso ver, se formaria o embrião da única frente ampla que, até então, havia sido possível contra Bolsonaro”, afirmam.

Renan Calheiros e ataque aos governadores Eles revelam, na obra, que, em uma última tentativa de controlar a situação no Senado, o presidente chegou a procurar o senador Renan Calheiros (MDB), fazendo-o por intermédio do então senador pernambucano Fernando Bezerra Coelho (MDB), então líder do governo.

Renan consentiu em receber uma ligação do presidente, mas Bolsonaro fez algo inesperado, para cima do filho de Renan, governador de Alagoas. “Foi um movimento que se revelou desastroso… errático na conversa, mais sondando do que disposto a falar, o presidente foi alertado por Renan Filho que aquele não era o anal adequado para tratar de assunto como a CPI da Covid.

Se quisesse falar com o pai, que o fizesse diretamente, pois como governador aquilo lhe dizia respeito.

O telefonema teve efeito inverso e soou como uma ameaça a todos os gestores estaduais”, escrevem. “Era ponto pacífico entre a tropa de choque do governo no Senado que qualquer CPI que fosse instalada deveria investigar também prefeitos e governadores, atribuição que, de acordo com a Constituição, não é competência do Congresso Nacional… nesse caso (a natureza belicista de Bolsonaro) terminou em uma reprimenda desmoralizante de um jovem governador a um presidente da República” “Havia uma permanente disputa de narrativas patrocinada pelos grupos bolsonaristas.

Contrapor-se ao senador Renan Calheiros alegando denúncias de corrupção e até suspeição porque tinha um filho governador era uma maneira de tentar desmoralizar a CPI e reafirmar o discurso de que a comissão tinha apenas o objetivo político de prejudicar o governo”, avaliam.