Sem alarde, os holandeses, expulsos pelos portugueses das terras locais há 378 anos, durante o episódio conhecido como Insurreição Pernambucana, já estão trabalhando na capital pernambucana, de forma silenciosa, para tentar resolver os históricos problemas de alagamento do Recife.
Os holandeses da empresa DRR Team (Dutch Risk Reduction Team) já colocaram os pluviômetros que vão monitorar as ações necessárias para a bacia do Rio Moxotó.
A consultoria é ligada ao governo holandês e especialista no desenvolvimento de projetos de gestão de água. “Na Holanda passamos por problemas muito semelhantes, já que 60% do território é inundável e grande parte está abaixo do nível do mar”, explicou o consultor sênior da DRR Team, Ben Lamoree, no começo do ano.
Obras de macrodrenagem na bacia do Tejipió também fazem parte do mesmo projeto.
As obras de macrodrenagem servem para absorver e escoar águas da chuva, com o alargamento da calha e dragagem de rios como Tejipió, Jiquiá e Moxotó.
A iniciativa faz parte do projeto ProMorar, que receberá investimentos da ordem de R$ 1,5 bilhão para garantir obras de infraestrutura em 40 comunidades, incluindo as mais atingidas pelas chuvas do mês de maio do ano retrasado.
A iniciativa vai beneficiar, diretamente, mais de 500 mil pessoas.
As ações do ProMorar são financiadas por meio de operação de crédito entre a Prefeitura e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
Com assinatura do presidente Lula e do prefeito João Campos, aprovada pelo Senado, esta é a maior operação já realizada pelo banco com um município no mundo, que fará urbanização de 40 comunidades.
Lula e João Campos - Ricardo Stuckert/PR “Essa região nunca teve uma obra de grande porte como a gente vai fazer e a gente estima pelo menos R$ 300 milhões investidos.
Nós temos um projeto que está sendo revisado pelos maiores especialistas do Brasil em macrodrenagem e, também, com revisão internacional junto com o BID e consultores holandeses”, explicou o prefeito João Campos. “Outro eixo de investimento do ProMorar é a bacia do rio Tejipió, que é a área mais difícil de drenagem da cidade, já que pega o rio Tejipió, Jiquiá e Moxotó.
Esta área vai receber um conjunto de obras de grande porte para uma solução de mitigação efetiva de alagamento e enchente nesta região”.
Areia de praia e ocupações irregulares Neste trabalho, eles já descobriram, por exemplo, que a maior parte do assoreamento do rio acontece por conta de areia de praia, depositada com as mares altas.
Aliado ao problemas urbanos, como ocupações irregulares, acabam contribuindo para os alagamentos nos períodos de chuvas intensas.
No Ipsep, haverá todo um trabalho de retirada de moradias irregulares.
No projeto, os holandeses pretendem a instalação de parques alagáveis, que funcionem como escoadouro das águas que são represadas hoje.
O trabalho teve início com a instalação de pluviômetros, para medir os pontos mais críticos, que serão objeto de intervenção, ao longo de todo leito original do rio.
Eles sobrevoaram as áreas e se muniram de registros históricos para este fim.
Sem alarde, até aqui, em fevereiro deste ano, a Prefeitura do Recife recebeu a equipe holandesa do DRR Team, a partir de cooperação direta com o Governo da Holanda, país que tem vasta e reconhecida experiência no gerenciamento da água e dos efeitos das mudanças climáticas.
A partir de estudos preliminares sobre o aumento do nível do mar e o seu impacto no sistema de drenagem do Recife, essa parceria com o país europeu vai permitir ações efetivas para a preparação da cidade para lidar com as mudanças climáticas e os seus efeitos.
Outros projetos de drenagem No mesmo escopo do projeto com a consultoria do governo holandês, está a requalificação do sistema de drenagem na Rua da Concórdia, no Centro, e Avenida Dois Rios, no Ibura, para analisar os problemas e estruturar estratégias de intervenção de curto, médio e longo prazos, de modo a tornar o sistema de drenagem mais eficiente, minimizando os impactos das precipitações na cidade.
A missão do time holandês no Recife está focada em um estudo sobre o impacto do aumento do nível do mar na cidade, especialmente no sistema de drenagem, respondendo a solicitação da Prefeitura da Cidade do Recife após as fortes chuvas que atingiram a cidade em maio e junho de 2022.
No ano passado, a Prefeitura do Recife alargou o trecho do Tejipió na altura da Avenida Recife de 10 para 30 metros, após desapropriar cerca de 100 casas situadas na beira do rio nos bairros do Ipsep e Areias.
O próximo passo é a urbanização da área com a implantação de um parque alagável.