No livro “A política contra o vírus – Bastidores da CPI da Covid” (Companhia das Letras, 2023), em que os senadores pernambucanos Humberto Costa e Randolfe Rodrigues (eleito pelo Amapa) contam os bastidores da CPI da Covid, instalada em julho de 2021 pelo Congresso Nacional, a dupla relata a enorme resistência do presidente Rodrigo Pacheco em assinar a instalação e como o senador Renan Calheiros e o presidente do Cidadania, Roberto Freire, contornaram os obstáculos. “Estávamos próximos de obter as 27 assinaturas necessárias à criaçao da comissão e Renan não hesitou um segundo quando o procuramos para pedir sua assinatura… ele nos disse: “Essa CPI tem que sair.

Entre outras coisas, porque ela é o caminho para o parlamento retomar a posição de quem investiga o Executivo e que, co a Lava Jato, se perdeu para o Ministério Público e a magistratura”, revelam.

Com apoio e a ajuda de Renan Calheiros, foram obtidas 33 assinaturas, seis a mais que o mínimo necessário para a criação da CPI.

O mesmo Renan Calheiros que havia presidido o senado no impedimento de Dilma. “As assinaturas foram chegando aos poucos, trazidos em grande parte por Renan Calheiros …e é preciso reconhecer que o peso de seu protagonismo político o transformou no alvo predileto de seus adversários, da grande mídia e de instituições de controle público” “Sabíamos do desacordo por parte do presidente do Senado, com a ideia da instalação da CPI naquele momento e estávamos cientes de que, pelo seu poder como presidente da Casa, poderia criar muitos percalços no nosso caminho e foi o que aconteceu… nos bastidores do Senado, comentava-se que o ex-presidente da Casa, Davi Alcolumbre, padrinho da candidatura de Pacheco à sua sucessão, teria garantido ao presidente da República que seu aliado não só não lhe criaria problemas como impediria constrangimentos maiores ao seu governo, entre eles a criação de uma CPi para investigar a postura do governo na pandemia”, afirmam. “Talvez tenham depositado expectativas exageradas no suposto acordo com Alcolumbre”. “O lance político mais relevante naquele momento foi, sem dúvida, a inesperada ação impetrada no dia 11 de março de 2021 junto ao STf pelos senadores Alessandro Vieira (hospitalizado pela Covid) e Jorge Kajuro, pedindo à Suprema Corte que determinasse ao presidente do Senado a imediata instalação da CPI…

Em verdade, o mentor da petição foi o ex-deputado federal Roberto Freire, presidente do Cidadania, partido ao qual pertenciam Kajuru e Vieira”, citam.

Obsessão com o Consórcio Nordeste Os senadores falan ainda do papel da situação, para barrar a CPI. “Eles procuravam desviar a apuração para supostas ações de corrupção de governos estaduais e prefeituras com recursos transferidos pela União para o enfrentamento da pandemia em estados e municípios..

Um dos seus alvos principais era o Consórcio Nordeste, formado pelos governadores da Região, todos dirigidos por políticos predominantemente de oposição”, escrevem. “No entanto, essas acusações, mesmo sem esclarimento pleno, foram utilizadas como instrumento de intimidação pública e de ataques políticos.

A verdadeira obsessão do senador Eduardo Girão (Podemos-CE) pelo tema do Consórcio Nordeste seria uma das principais marcas da estratégia governista na CPI” Luiza Trajano No livro, os pernambucanos também rendem homenagem à empresária Luiza Helena Trajano, dona do Magazine Luiza, em contrapartida ao comportamento nefasto de boa parte dos empresários brasileiros na época. “A postura de Luiza Trajano foi, além de republicana, uma marca que a distinguiu de muitos empresários brasileiros.

A responsabilidade social e altivez política com que agiu ao buscar Rodrigo Pacheco surtiram efeito imediato.

Graças a este movimento, foi possível romper as resistências dentro do governo e, certamente, assegurar a vida de milhões de brasileiros, salvos da covid pela chegada das vacinas”, escreveram.