No livro “A política contra o vírus – Bastidores da CPI da Covid” (Companhia das Letras, 2023), a ser lançado na Bienal Internacional do Livro de Pernambuco, agora em outubro, no Recife, os senadores Humberto Costa e Randolfe Rodrigues contam bastidores da CPI da Covid, instalada em julho de 2021 pelo Congresso Nacional.

Em um deles, eles rendem homenagem à empresária Luiza Helena Trajano, dona do Magazine Luiza, em contrapartida ao comportamento nefasto de boa parte dos empresários brasileiros na época. “A postura de Luiza Trajano foi, além de republicana, uma marca que a distinguiu de muitos empresários brasileiros.

A responsabilidade social e altivez política com que agiu ao buscar Rodrigo Pacheco surtiram efeito imediato.

Graças a este movimento, foi possível romper as resistências dentro do governo e, certamente, assegurar a vida de milhões de brasileiros, salvos da covid pela chegada das vacinas”, escreveram.

Com um caráter documental, eles explicam que o livro se dispõe a destacar fatos importantes para que não ficassem escondidos da memória e fora do conhecimento da opinião pública.

A dupla pernambucana cita que, no carnaval de 2021, suspenso após 56 anos, já haviam 230 mil mortos e mesmo assim o que se via era insuficiência de vacinas e lentidão na aplicação.

Bolsonaro falava em “gripezinha”, enquanto o Ministério da Saúde preconizava tratamento precoce e distribuía vermíífugos, enquanto se recusava a comprar vacinas.

A CPI somente foi instalada em julho de 2021, não sem antes uma série de polêmicas.

Numa delas, o Congresso chegou a cogitar que as empresas comprassem vacinas por conta própria. “Bolsonaro não queria desembolsar dinheiro para comprar as vacinas”, afirmam, opondo argumento quanto à iniciativa. “Os empresários queriam voltar logo à produção.

Havia grupos interessados nos lucros com a venda dos imunizantes, mas isto representaria a vacinação só das elites, não preconizava uma solução coletiva, sem exclusão”, avaliam.

Companhia das Letras edita a obra - Bienal/Divulgação As compras das vacinas estavam travadas no Ministério da Saúde desde o segundo semestre de 2020.

O principal problema era a alegação do governo Bolsonaro contra a cláusula de responsabilidade dos laboratórios, comum a todos os compradores internacionais. “Curiosamente.. a indiana Covaxin, a mais cara de todas e que o governo se dispunha a comprar, não previa nada disto (cláusula de responsabilidade)”, comparam.

Neste contexto, eles relembram, a empresária Luiza Trajano ligou para o senador Randolfe Rodrigues e fala em atuar para destravar o processo de vacinação.

O senador pernambucano foi procurado porque havia apresentado uma emenda liberando a questão polêmica para o governo Bolsonaro, mas acabou ficando de fora do texto do relator, o bolsonarista. “Luiza Trajano queria saber o que podia ser feito para que o veto do relator da MP fosse contornada.

Ela falou com Rodrigo Pacheco e pediu apoio para Randolfe.

Pacheco chamou o relator para conversar com a Pfiser e Sindusfarma, mas não podia haver nenhum membro da oposição (para evitar retaliação palaciana)”, registram.

Para contornar o problema, político, com Bolsonaro, Rodrigo Pacheco assumiu a autoria do projeto, que acabou sendo aprovado na Casa. “Pacheco foi ao Ministério da Saúde (comandado à época por Pazuello) e disse que dava apoio político à iniciativa.

O projeto específico causava ciume no governo e na base política.

Se fosse aprovado (com um nome da oposição), poderia ser vetado por Bolsonaro”, citam.

CPI da Covid no Senado - PEDRO FRANÇA/AGÊNCIA SENADO