Por Gustavo Henrique de Brito Alves Freire - A aposentadoria no curso do mandato de Senador de um nome da dimensão biográfica de Jarbas Vasconcelos suplanta o próprio fato em si, ganhando justificada transcendência.
Ao tempo em que a decisão deve evidentemente ser respeitada, não tem como não ser lamentada sob o olhar da jurisprudência comparada e dos manuais doutrinários da boa Política.
Atribui-se a Mahatma Ghandi a seguinte reflexão: “O que destrói a humanidade?
Política sem princípios; Prazer sem compromisso; Riqueza sem trabalho; Sabedoria sem caráter; Negócios sem moral; Ciência sem humanidade; Oração sem caridade”.
Jarbas soube como poucos na vida pública personificar o avesso da aludida premissa no tocante à Política.
Em um Parlamento tão desarmônico da realidade do povo, é um baque a saída de cena de uma figura com o grau de respeitabilidade e de coerência de Jarbas, que, além do tempo na Câmara e no Senado, carrega as marcas de ter sido Prefeito do Recife e Governador de Pernambuco, vencendo mais eleições que perdendo, além de ser possuidor da virtude à parte da sensibilidade cultural, do que é protagonista a Fenearte, evento que idealizou.
A despedida de Jarbas, no contexto de uma sociedade fraturada ideologicamente, que, por isso mesmo, precisa com urgência pacificar-se, é em especial desalentadora e se iguala à triste sina de outros nomes de vulto da crônica política do País, que largaram a vida pública desiludidos.
O Legislativo de consequenciais oradores, de debates que eram verdadeiras aulas, de conhecedores da boa técnica e de estadistas da tecitura de normas longevas, vai ficando cada vez mais para trás, página virada de uma obra que periga não assistir a uma reedição à altura.
Mesmo que ocasionalmente alguma tese ou ideia que externalizasse pudesse não granjear a unanimidade, Jarbas não se impunha no argumento da força, mas fazia-se ouvir na força do argumento.
Este é justamente o diferencial da Política com P maiúsculo.
Quando o eleitor se vê obrigado a acompanhar discussões rasas entre representantes públicos, em Governos ou nos Parlamentos, mirar-se na trajetória de alguém como Jarbas é não se deixar dominar pelo impulso de jogar de vez a toalha e entregar tudo (até a si mesmo) ao salve-se quem puder do caos irreversível.
Na democracia, a participação política é sinônimo de cidadania e se revela absolutamente fundamental, já que sem ela a própria noção de democracia é uma farsa utópica, de uma catarse coletiva, uma forma de cegueira.
Jarbas soube responder a esse contrato social através dos votos que teve e ao qualificar os diversos mandatos que desempenhou, ao longo de uma caminhada ensolarada que permeou cinco das suas pouco mais de oito décadas de vida.
Na busca civilizatória pelo equilíbrio entre o interesse geral e o interesse pessoal, duas teorias são sempre lembradas.
Uma delas ensina que o governo será eficiente sempre que as suas instituições forem fortes e corruptos sempre que o seu maquinário não for capaz de operar adequadamente.
Já para a segunda teoria, se os que controlam as instituições governamentais forem corruptos, nada poderá moldá-los ou contê-los, enquanto que, se forem eles íntegros e virtuosos, a qualidade do governo será desinfluente.
Não seria tanto o maquinário do governo, mas o espírito dos governantes, do povo e das leis o que mais importaria.
O homem é um ser político, e dele se pode esperar inclusive o inesperado, seja para o bem, como para o mal.
A omissão não é uma alternativa.
Maldizer da Política, portanto, recorrendo aos clichês de costume, é enganar a si mesmo e com isso acaba sendo também nada fazer para transformar a realidade.
O voto em um Político como soube ser Jarbas reflete precisamente a rebeldia contra esse lugar-comum, o que é algo sem sombra de dúvida positivo.
O exemplo que deixa Jarbas não merece ficar confinado à pessoa física dele.
Tornou-se um tomo enciclopédico. É preciso educação política para que seja factível a escolha de melhores quadros e ao mesmo tempo o estímulo a melhores candidaturas, em especial compromissadas com o valor universal da democracia.
Não sendo assim, então nada restará a ser feito a não ser a contemplação da terra arrasada.
Obrigado Jarbas por sua luta.