Por Vanuccio Pimentel - Cada dia fica mais evidente que o quadro político em Pernambuco está em profunda modificação.
Também tem ficado mais evidente que, para além dos desafios da gestão do estado de Pernambuco, a governadora Raquel Lyra enfrenta sérias dificuldades na articulação política e na construção de uma aliança partidária.
A figura do governador do estado sempre teve papel central na política.
Em primeiro lugar, pelo poder de atração política do cargo e a capacidade aglutinadora das forças políticas estaduais.
E em segundo, pela capacidade de aportar recursos financeiros e dividendos políticos para os municípios e dar sobrevida às forças políticas locais.
A governadora Raquel Lyra até o momento não conseguiu ser atrativa para os prefeitos.
Até agora, o PSDB não conseguiu atrair os prefeitos para o partido, algo que se esperava desde o final do ano passado.
Essa situação revela um pouco do cenário complexo que vamos encontrar nas eleições municipais em 2024.
No entanto, a falta de atratividade da governadora não se deve apenas às questões partidárias, mas principalmente à diminuição do poder centrífugo do governador.
Em outras palavras, a governadora tem perdido o poder de aglutinar prefeitos, formar uma aliança robusta para enfrentar as eleições de 2024 e pavimentar o caminho para sua própria reeleição em 2026. É certo que o PSDB se tornou um partido nanico após as eleições de 2022.
Além disso, o partido optou por fazer uma oposição isolada ao governo federal, pois também se colocou distante do bolsonarismo.
A perda de musculatura deixou o partido desinteressante para prefeitos que buscam uma estrutura partidária (leia-se fundo eleitoral e tempo de mídia) capaz de garantir espaço confortável para uma disputa majoritária.
Por esse ponto de vista, a especulada ida da governadora para o PSD seria menos ruim, mas ainda estaria muito longe de resolver o problema.
Pois, para além da questão partidária, pesa de maneira muito forte a baixa capacidade de investimento do governo estadual.
Leia Também PSD de Gilberto Kassab ajudaria Raquel Lyra na correlação de forças com PT de Pernambuco Tucanos já dão como certo tirar PSD da base de João Campos e ter um ministro do partido no governo Lula Eduardo Campos já percebia essa tendência desde 2010 quando se reelegeu.
Assim, em 2013 ele criou o FEM (um engenho político-financeiro sustentado com dinheiro emprestado) que alimentou os municípios pernambucanos com recursos para execução de projetos com foco no desenvolvimento.
Isso permitiu aos municípios o acesso a um recurso novo que potencializou politicamente os aliados e gerou forte poder de atração para o governador, que conseguiu impulsionar o seu projeto nacional e ajudou a garantir a eleição do seu sucessor, mesmo com o seu desaparecimento.
Raquel Lyra não dispõe de um mecanismo desse porte.
A situação fiscal do estado é bem complexa e a expectativa de déficit nos próximos anos é real.
A redução da capacidade de investimento reduz significativamente o poder de atração política da governadora.
Outro ponto importante são os deputados federais.
Como já previsto desde o ano passado, o crescimento dos valores das emendas parlamentares individuais, transformou os parlamentares federais em uma importante fonte de recursos financeiros e políticos para os prefeitos.
Dessa maneira, os parlamentares federais passam a disputar junto com a governadora o poder de atração de prefeitos.
O desafio que se apresenta para a governadora Raquel Lyra não é o de apenas encontrar um partido mais atrativo para os prefeitos, mas passa, sobretudo, por reconstruir o poder centrífugo do governador do estado.
Diante do quadro complexo, uma saída possível é o reposicionamento no âmbito nacional.
Do ponto de vista político e partidário, o melhor caminho é ampliar a sua relação com o governo federal - que pode garantir apoio político e suporte financeiro aos projetos da governadora - e atrair o PT para uma posição mais próxima ao governo.
Sem isso, o caminho tende a ser mais complicado para Raquel Lyra.
Vanuccio Pimentel é doutor em Ciência Política e professor adjunto II ASCES-UNITA