A inteligência do governo federal estava preocupada com o potencial de violência gerado no local durante a transição de governo.
Só que o acampamento em frente ao QG do Exército não era pacífico, como se propagava à epoca.
A inteligência da Abin alertou que alguns dos acampados tinham acesso e porte de armas de fogo, além de terem participado da tentativa de invasão à sede da PF em Brasília na noite de 12 de dezembro - quando Lula foi diplomado como presidente.
Em um relatório produzido em 16 de dezembro, a Abin avaliou que o episódio serviu “como oportunidade de propaganda para atores extremistas violentos para recrutamento de novos adeptos e aglutinação de atores radicalizados” na capital. “A manutenção das estruturas de apoio nas proximidades das rodovias e das Organizações Militares permite o prolongamento da mobilização, com estabilidade no número de participantes”, segundo outro relatório, de 13 de dezembro, um dia após os ataques na capital.
Na época, o órgão de inteligência monitorava o fluxo de ônibus e veículos particulares em direção a Brasília, identificando quatro pontos com forte presença do agronegócio como origem das carreatas que vinham clamar por intervenção militar e golpe de estado na capital. “O primeiro compreende municípios ao longo da BR-163 e da BR-364.
O segundo fluxo deslocou-se pela BR-158, proveniente da região de Água Boa/MT.
O terceiro deslocou-se pela BR-020 a partir da região de Luiz Eduardo Magalhães/BA.
O quarto fluxo inclui grupos menores de caminhões provenientes de diversas cidades de Goiás, sobretudo Rio Verde/GO e Jataí/GO, no eixo da BR-060”, segundo o mesmo relatório de inteligência.
Na última semana do ano, a Abin também monitorou as movimentações nos pontos de concentração dos bolsonaristas, que contestavam o resultado eleitoral nas principais cidades do país.
Nos dias 23, 26, 27, 28 e 29 de dezembro foram compartilhados alertas com mapas sobre a situação dos acampamentos nas capitais brasileiras.
Na época, o órgão de inteligência indicava que não havia “incidentes” ou “riscos identificados” nos locais monitorados.
Pelo menos no caso de Brasília, a análise dos alertas da Abin contradiz a conclusão dos relatórios já citados - que identificaram riscos provenientes dos acampamentos e alertaram sobre a possibilidade de radicalização.
A agência também estimou a quantidade de pessoas que estariam no QG.
Em 26 de dezembro, o número chegaria a mil acampados, com desmobilização nos dias seguintes.
Quatro dias depois, cerca de 700 pessoas continuariam no local.
Na manhã do dia 8 de janeiro, pelo menos 3.900 pessoas chegaram em ônibus a Brasília, apontou a Abin.
No Distrito Federal, os principais pontos acompanhados pelo órgão de inteligência foram: o QG do Exército, pela presença por mais de dois meses do acampamento golpista; o hotel Meliá, onde o presidente Lula ficou hospedado durante o governo de transição; o Palácio da Alvorada, residência oficial da Presidência da República, onde Jair Bolsonaro estava recebendo apoiadores após mais de um mês em silêncio depois da derrota eleitoral; e a Praça dos Três Poderes.
A inteligência também alertou que parte dos acampados no QG estava armada.
Com informações da Agência pública