O ex-procurador e ex-deputado Deltan Dallagnol negociou em sigilo com autoridades norte-americanas um acordo para dividir o dinheiro cobrado da Petrobras em multas e penalidades por corrupção.

A negociação não envolveu a Controladoria-Geral da União (CGU), órgão competente por lei para o caso.

As conversas entre procuradores suíços e brasileiros aconteceram por mais de três anos pelo aplicativo Telegram e não eram registradas oficialmente.

Elas ocorreram devido ao papel das autoridades de Berna na busca, confisco e detalhamento das contas usadas como destino das propinas investigadas na Operação Lava Jato.

Para ambos, foi considerado estratégico envolver a Justiça americana, que também estava investigando o caso.

Os chats fazem parte dos arquivos apreendidos pela Polícia Federal durante a operação Spoofing, que investigou o hackeamento de procuradores e do ex-juiz Sergio Moro no caso conhecido como Vaza Jato.

Em 29 de janeiro de 2016, Dallagnol escreveu aos suíços para contar o resultado dos primeiros contatos entre ele e as autoridades americanas.

A Petrobras fechou um acordo com os Estados Unidos mais de dois anos depois, aceitando pagar uma multa de 853,2 milhões de dólares para não ser processada.

O acordo garantiu o envio de 80% do valor ao Brasil, sendo metade destinada a um fundo privado que a própria Lava Jato tentou criar e não conseguiu.

O ministro Alexandre de Moraes suspendeu a criação do fundo a pedido da PGR.

O dinheiro foi destinado à Amazônia e agora o CNJ investiga o caso.

As conversas secretas entre a Lava Jato e procuradores estrangeiros não se limitaram à Suíça.

Conversas e documentos expuseram a proximidade, as reuniões e as trocas ilegais de informação entre brasileiros e norte-americanos.

Deltan Dallagnol escondeu nomes de pelo menos 17 agentes americanos que estiveram em Curitiba em 2015 sem conhecimento do Ministério da Justiça, que deveria ter sido avisado.

Os encontros e negociações ocorreram sem pedido de assistência formal e foram comprovados por documentos oficiais do Ministério das Relações Exteriores brasileiro.

Durante as conversas e visitas, os procuradores da Lava Jato sugeriram aos americanos maneiras de driblar um entendimento do STF que permitisse que os EUA ouvissem delatores da Petrobras no Brasil.

A troca de informações sem o conhecimento do Ministério da Justiça foi intensa.

Com base nessas informações, agentes americanos ouviram no Brasil Nestor Cerveró e Alberto Youssef, além de outros depoimentos usados para processar a Petrobras nos Estados Unidos.

Deltan Dallagnol sabia que estava agindo à margem da lei.

Com informações do UOL