Márcio Coimbra é presidente do Conselho da Fundação da Liberdade Econômica e Coordenador da pós-graduação em Relações Institucionais e Governamentais da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Brasília.
Cientista Político, mestre em Ação Política pela Universidad Rey Juan Carlos (2007), ex-Diretor da Apex-Brasil e do Senado Federal, ele nos escreve a respeito da visita de Maduro ao Brasil, nesta semana.
Veja o artigo abaixo Desprezo pela Democracia O Brasil parece preso em um ciclo interminável de adulação de autocratas e ditadores.
Não importa se pelo caminho da direita ou da esquerda, o resultado é sempre o mesmo, ou seja, de amizade fraterna com líderes de caráter duvidoso que possuem na essência de seu regime o desprezo pela democracia.
O brasileiro, levado por uma mistura bizarra de idolatria, autoengano e pitadas de polarização, acaba comprando os argumentos frágeis e indecentes que buscam justificar o injustificável.
O capítulo mais recente desse famoso ciclo ocorre com a visita de Nicolás Maduro ao Brasil.
Recebido com pompa por Lula, que defendeu a entrada da Venezuela nos Brics, chamou o líder da oposição local de impostor e disse que Maduro é vítima de uma narrativa que visa atingir seu governo.
Vamos aos fatos.
São mais de 7 milhões de expatriados, 82% da população vivendo em situação de pobreza, inflação acima de 300%, mais de 240 pesos políticos, assassinatos e detenções arbitrárias de jornalistas, judiciário dependente do governo, além de torturas, mortes e perseguições de adversários políticos.
O país vive uma crise socioeconômica, política, humanitária e migratória.
Nenhuma narrativa barra a triste realidade dos venezuelanos.
Como a mais importante democracia da América Latina, o Brasil tem a obrigação moral de não compactuar com líderes e regimes que ferem os direitos humanos de forma brutal e arbitrária, como vemos na Venezuela, assim como na Nicarágua.
Como disse o presidente do Chile, Gabriel Boric, não pode existir padrão duplo na condenação daqueles que atentam contra a democracia, as liberdades e os direitos humanos.
Violações devem ser condenadas, não importa se cometidas pela direita ou pela esquerda.
Infelizmente, o Brasil parece ter optado pelo caminho oposto.
Bolsonaro condenou Lula pela aproximação com a Venezuela, porém esqueceu de usar a mesma régua ao se aproximar da Rússia, de Putin, e silenciar diante da violência produzida pelo Kremlin na Ucrânia.
Bolsonaro aproximou-se do príncipe saudita Mohammed bin Salman, além das monarquias do Catar e Bahrein e do líder húngaro Victor Orbán, que mesmo fazendo parte da União Europeia, não ostenta credenciais muito democráticas.
Os líderes brasileiros deveriam se alinhar a valores morais universais, consagrados em nossa Constituição e outros instrumentos legais internacionais.
Uma ditadura não é boa quando o ditador é amigo.
Uma ditadura é sempre uma aberração que precisa ser denunciada.
Um país democrático jamais pode silenciar diante da violência, sob pena de se tornar cúmplice de seus crimes.
Tanto o governo anterior, quanto o atual, erram profundamente nesse aspecto e não será o alinhamento ideológico com um desses que deve aprisionar nossa opinião.
Não pode existir compromisso com o erro guiado pela idolatria política.
A opção por um governo que fosse norteado por valores reais ao invés de conveniências temporais deveria ser o caminho diante do tamanho e importância do Brasil no cenário internacional.
Ao fazer a opção pela omissão, nos tornamos submissos aos excessos, semeando um desprezo pela democracia que pode cobrar um preço muito alto em nossa própria nação.