Qual a amplitude de disseminação da desinformação e notícias falsas?
Quais mensagens ecoam mais?
Qual a credibilidade dessas fontes para os usuários?
Até que ponto a desinformação online se alastra para conflitos ou situações de violência do mundo concreto?
Como surgem as contra-narrativas e em que medida elas são efetivas para refutar a desinformação?
Tribunais podem impedir a disseminação de desinformação, desmonetizar seus fornecedores e obrigar plataformas de mídia a remover conteúdos?
As respostas para estas e outras perguntas integram o relatório ‘Pulso da Desinformação - Desinformação e democracia nas eleições presidenciais de 2022 no Brasil’ lançado pelo Instituto Igarapé.
As campanhas de desinformação foram amplamente difundidas durante o período eleitoral de 2022 no Brasil.
Embora a disseminação de mentiras intencionais e notícias falsas tenha começado muito antes, o escopo e a virulência dessa prática se intensificaram notoriamente nos últimos anos.
Para entender melhor os efeitos desses danos digitais, o relatório ‘Pulso da Desinformação - Desinformação e democracia nas eleições presidenciais de 2022 no Brasil’ traz: visão geral das tendências de desinformação no Brasil observadas desde 2014 e sua evolução; tipologia de narrativas desenvolvidas para analisar as notícias falsas e os discursos de desinformação mais veiculados nas redes sociais; análise das respostas de atores públicos, privados e civis a essas campanhas de desinformação para garantir eleições livres e seguras; e recomendações e caminhos para a construção de uma democracia mais forte e saudável.
Dentre as descobertas importantes que surgiram em 2022, o estudo destaca que: A extrema direita foi muito mais ativa e efetiva na disseminação de mensagens do que a esquerda, o centro ou a mídia tradicional.
Embora a esquerda tenha acompanhado o ritmo de publicações do campo político oposto nas redes sociais, a extrema direita foi muito mais competitiva no engajamento de seus apoiadores e na divulgação de suas mensagens em quase todas as redes sociais de agosto a dezembro de 2022.
Esse desempenho desequilibrado ajuda a explicar como, apesar de toda a resistência, tanta desinformação ainda tenha chegado aos eleitores.
A julgar pelos decibéis, organização e engajamento, a extrema direita desde 2018 vem vencendo a guerra da desinformação, principalmente no YouTube e no Twitter.
A esquerda, por outro lado, embora postasse consistentemente mais do que a extrema direita no Instagram – e, na maioria dos meses, também no Facebook –, não pôde superar a extrema direita em engajamento.
Enquanto a esquerda abordava uma variedade de temas em suas comunidades online – denunciando casos de racismo e sexismo, comentando escândalos envolvendo celebridades ou compartilhando informações e inovações científicas –, o ecossistema online de direita, segundo a análise, se concentrou na política.
Ou seja, enquanto a extrema direita centralizou todos os seus esforços online para engajar e publicar conteúdos políticos, a esquerda estava mais pulverizada entre diversas frentes.
Quatro narrativas desinformativas principais: (i) reduzir a confiança no sistema eleitoral; (ii) atacar as instituições democráticas; (iii) difamar e diminuir a influência de adversários políticos; e (iv) influenciar os principais apoiadores a agir.
Postagens nas redes sociais buscando minar a confiança no sistema eleitoral representaram mais de 32% dessas narrativas.
Analisando a desinformação ao longo do tempo, os ataques mudaram de alvo: das instituições democráticas para as instituições vinculadas ao sistema eleitoral, com foco preferencial no TSE.
Incidentes que ocorrem no mundo online são frequentemente um reflexo de eventos no mundo offline, mas às vezes o inverso também é verdadeiro.
Especificamente, danos digitais, incluindo discursos agressivos e de ódio nas redes sociais, podem contribuir para intimidações, assédios e inclusive violência física.
A pesquisa de postagens e interações mostrou desempenho e engajamento superiores entre os grupos de extrema direita em quase todas as redes sociais de agosto a dezembro de 2022.
Embora a esquerda tenha liderado no Facebook, publicando 491.183 vezes, enquanto a direita publicou 411.136 vezes (uma diferença de 16%), a esquerda ficou atrás em termos de engajamento online.
A extrema direita registrou 361.252.816 interações no Facebook contra 217.605.851 da esquerda – quase 40% a menos.
Esses números confirmam a percepção de que, embora a esquerda tenha acompanhado o ritmo de publicações do campo político oposto nas redes sociais, a extrema direita foi muito mais competitiva no engajamento de seus apoiadores e na divulgação de suas mensagens.
Esse desempenho desequilibrado ajuda a explicar como, apesar de toda a resistência, tanta desinformação ainda tenha chegado aos eleitores.
Sofisticação das mensagens falsas O caso brasileiro, em particular,é um alerta sobre as ameaças digitais mais amplas que estão por vir, e, justamente por isso, pode oferecer lições práticas sobre como conter – e até mesmo reverter – os efeitos negativos da máquina global de desinformação.
Embora não se saiba até que ponto notícias falsas influenciam eleições, evidências recentes observadas no Brasil indicam que esses conteúdos se tornaram cada vez mais sofisticados e prolíficos.
O estudo ‘Pulso da Desinformação - Desinformação e democracia nas eleições presidenciais de 2022 no Brasil’ conclui destacando que as iniciativas de combate à desinformação devem se concentrar em capturar e conter notícias falsas e conspirações antes que se tornem virais.
Em última análise, a educação digital e as informações verificáveis são o antídoto mais confiável.
No entanto, dado que numerosos estudos têm mostrado que, uma vez divulgada, uma notícia – enganosa ou não – têm notável “poder de adesão”, impedir o contágio não será uma tarefa simples. “Traçar regras, limites e estratégias para a regulação das redes sociais é urgente.
Em 2022, enquanto o mundo observava o Brasil e se perguntava se a maior democracia da América Latina poderia resistir à onda de desinformação, o país apresentou uma lição objetiva de resiliência institucional e adaptabilidade em um mundo digital em rápida evolução.
A desinformação, contudo, não vai desaparecer”, diz Carolina Taboada, pesquisadora do Igarapé, e uma das autoras do estudo.
Além disso, os esforços governamentais e civis para chamar a atenção e mitigar a desinformação foram em alguma medida efetivos, mas devem ser aperfeiçoados.
As estratégias bem sucedidas no Brasil podem inspirar outros países em situações similares, além de alertar para os riscos e impactos da desinformação para a democracia por meio da sistematização de um histórico de análise do ecossistema desinformacional antes e durante as eleições presidenciais de 2022.