Por conta do dia da mulher, próximo, Soraya R.
Cavalcanti, professora e psicóloga, escreveu artigo ao Blog de Jamildo falando até que ponto a igreja contribui para a escalada da violência? “Neste Dia Internacional da Mulher - onde a luta por direitos iguais é evidenciada - precisamos falar sobre a agressão às mulheres evangélicas”, diz ela, citando dados da pesquisadora Valéria Vilhena.
Ela aponta para o trágico fato de que 40% das mulheres em situação de violência (psicológica, moral, patrimonial ou física) atendidas pela pelo Núcleo de Defesa e Convivência da Mulher Casa Sofia (São Paulo) se declaravam evangélicas. » Pernambuco: Mais de 25 mil casos de violência doméstica e familiar contra mulheres registrados até junho 40% das vítimas de violência doméstica são evangélicas?
Entenda pesquisa Soraya R.
Cavalcanti é professora e psicóloga, e mestre em Serviço Social pela PUC-Rio.
Servidora pública, atua como coordenadora do Programa de Capacitação Continuada Capacit Mulher. É colaboradora do livro “Espiritualidade no chão da vida”, pela Editora Mundo Cristão.
Veja os termos abaixo.
A valorização da riqueza do feminino Por Soraya R.
Cavalcanti Por que falar da riqueza do feminino?
Porque ainda existe um apagamento da condição feminina.
Se o reino de Deus já está entre nós, por que a igreja ainda não manifesta essa condição de igualdade entre homens e mulheres?
Jesus disse que seríamos conhecidos pelo amor entre nós. É assim que a sociedade vê a igreja?
São esses valores e práticas que testemunhamos?
Será que a violência doméstica e tantas outras expressões do desrespeito e da opressão não existem em nosso meio?
Por incrível que pareça ainda há igrejas que, no terceiro milênio, realizam concílios para discutir se a mulher pode ou não subir ao púlpito.
Ao longo dos séculos, tanto em culturas cristãs quanto não cristãs, mulheres de todas as classes sociais tiveram menos poder e independência que os homens da mesma classe.
Pessoas sem poder, nem proteção, ficam vulneráveis e acabam sempre por sofrer abusos dos detentores do poder.
Leia Também Comissão do Senado aprova projeto de pensão para órfãos de vítimas de feminicídio Lula cria pacto nacional de prevenção a feminicídios Pernambuco tem aumento de 26,6% nas mortes violentas em julho; feminicídios também cresceram No Brasil a taxa de violência continua aumentando, inclusive nos lares evangélicos.
O índice crescente de feminicídio pode ser atribuído a diferentes fatores, como o preconceito, o machismo estrutural e o patriarcado, que têm relegado mulheres à condição de marginalizadas e oprimidas.
Em agosto de 2006, a Lei n° 11.340, mais conhecida como Lei Maria da Penha, foi sancionada.
Ela se configura como a primeira lei voltada exclusivamente à violência de gênero, tratando a questão como de interesse social e público.
A violência contra a mulher “resulta ou pode resultar em dano, ou sofrimento de natureza física, sexual ou psicológica”.
A Lei Maria da Penha foi um dos maiores avanços para a afirmação dos direitos das mulheres no Brasil.
Contudo, o que se vê diariamente em noticiários é o aumento substancial das estatísticas desse tipo de comportamento, agravado no período da pandemia da covid-19.
As motivações por trás desses episódios violentos são as mais variadas, como tentativa de controlar a autonomia e o corpo da mulher movido por um sentimento de posse; de limitar sua emancipação econômica, profissional, social ou intelectual; visão da mulher como objeto sexual; e ações de desprezo e ódio pela mulher e por sua condição feminina.
A pesquisadora Valéria Vilhena aponta para o trágico fato de que 40% das mulheres em situação de violência (psicológica, moral, patrimonial ou física) atendidas pela pelo Núcleo de Defesa e Convivência da Mulher Casa Sofia se declaravam evangélicas.
Quando a cultura religiosa se omite sobre a opressão que caracteriza o patriarcado, está favorecendo o crescimento da violência doméstica.
Quando pastores e outros membros de igreja silenciam – e também silenciam as mulheres mesmo cientes de abusos domésticos, contribuem para a escalada dessa violência, que pode chegar ao ato extremo.
O discurso teológico predominante é o da submissão da mulher ao marido, sem considerar que Efésios 5-6 e outros textos admoestam que deve haver sujeição de “uns para com os outros”.
O chamado para servir é para todos.
E isso não significa subalternidade, como é pregado e exigido para a mulher, mas igualdade de valor diante de Deus.