Ao longo de dois anos, entre 2019 e 2021, o padre, pesquisador e sociólogo José Carlos Pereira entrevistou 1.858 colegas de clero para investigar o perfil, a rotina e as queixas daqueles que servem a Igreja Católica em diferentes lugares do Brasil.
O catolicismo é a principal corrente religiosa no Brasil, mesmo com o avanço do evangelicalismo.
Ao serem questionados sobre como avaliavam o Governo Federal, na época sob o comando de Bolsonaro, os padres brasileiros não se revelaram isentos.
A maioria - 60,1% - respondeu que não estava satisfeita.
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E 1,6% se declarou indiferente.
Os dados são relevantes porque o padre, por ser representante da Igreja, é uma figura pública em quem a população ainda confia e o seu posicionamento influencia votos.
O levantamento do sociólogo José Carlos Pereira avalia o envolvimento dos membros do clero com a política no país: 97,1% dos entrevistados disseram que não são filiados a partidos políticos, contra apenas 2,9% que disseram que sim.
A maioria não tem interesse em se candidatar a algum cargo eletivo (95,5%), não concorda que padres se candidatem (72,7%) e não apoiam abertamente nenhum candidato durante eleições (80,2%).
Este resultado e outros indicativos do estudo do padre José Carlos estão reunidos no livro recém-lançado “Operários da Fé”.
Doenças mentais A partir dos dados coletados, José Carlos Pereira chama atenção para o índice elevado de suicídios entre os padres, assunto que costuma ser tratado com muita discrição ou simplesmente ignorado pela igreja.
Ainda segundo o autor, o transtorno bipolar, a depressão, o transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), os distúrbios alimentares, os transtornos de ansiedade, a esquizofrenia, a somatização e a psicopatia estão entre os problemas psiquiátricos mais comuns enfrentados por quem veste a batina.
Celibato e sexualidade A questão da sexualidade também é abordada no livro.
Apesar de 94,4% dos entrevistados afirmarem que não tinham dúvidas sobre a própria identidade afetivo-sexual, Pereira avalia que o número pode não refletir a realidade. “Desconfio que mais de 50% do clero seja tendencialmente homossexual, mas trata-se de mera suposição, e não há pesquisa confirmando essa conjectura.
Ela está baseada em minha convivência de mais de trinta anos com padres e candidatos ao sacerdócio”, explica o autor.
Ele lembra também que entre os que responderam não duvidar de sua identidade afetivo-sexual, pode haver tanto homo quanto heterossexuais.
Ao serem perguntados sobre o grau de satisfação, 86,4%, ou seja, a maioria dos padres se revela conformada com o celibato.
O autor destaca, contudo, que ser celibatário não significa ser casto e que as duas definições costumam causar confusão.
Enquanto o celibato está relacionado à condição de se manter solteiro, não casar e nem constituir família, a castidade seria a renúncia completa aos prazeres sexuais.
Portanto, nem todos que adotam o celibato fazem votos de castidade, caso dos padres seculares, maioria (78%) entre os que responderam à pesquisa.
Quem é o autor?
José Carlos Pereira é padre, professor, tem pós-doutorado em Antropologia Social, doutorado em Sociologia, Mestrado em Ciências da Religião, Bacharelado em Teologia e Licenciatura Plena em Filosofia. É autor de 95 livros, em diversas áreas, publicados no Brasil e no exterior, além de algumas traduções, dentre elas, várias obras do Antropólogo Franz Boas.
Faz parte do Núcleo de Estudos Religião e Sociedade, do Programa de pós-graduação em Ciências Sociais da PUC-SP e presta assessoria a instituições religiosas.