Jônatas Campos, jornalista com especialização em Ciência Política e assessoria de imprensa, escreve ao blog sobre a polêmica criada pela lei Rouanet, nas redes sociais.

Veja os termos abaixo.

Leia Também Claudia Raia e os R$ 5 milhões: Todos os brasileiros são ‘patrocinadores’ dos projetos da Lei Rouanet É mentira que Claudia Raia recebeu R$ 5 milhões da Lei Rouanet; entenda fake news A Lei Rouanet é boa.

A sonegação de impostos é ruim Se você juntar o nome de uma pessoa famosa, um argumento raso sobre a Lei Rouanet, acrescentar as palavras “educação” e “saúde”, você já entrou em uma boa polêmica na internet.

Se for bolsonarista declarado, acrescente as palavras “acabou a mamata”.

A extrema-direita brasileira elegeu muito bem seus fantasmas para assustar a população e ganhar eleições.

A “volta do comunismo”, “BNDES dando dinheiro para ditaduras”, “Brasil vai virar Venezuela”, “ditadura gayzista” e “Lei Rouanet” são exemplos mais conhecidos.

Falando da Lei Rouanet, pouca gente sabe como funciona, mas movimentos de extrema-direita como o MBL e, claro, Bolsonaro e sua turma, conseguiram demonizá-la.

O argumento bolsonarista é simples para a ideia fixar na mente das pessoas: um artista ricão pega dinheiro da Lei Rouanet, faz um espetáculo caro, cobra ingresso e esse dinheiro falta para educação e saúde.

Isso mexe com gatilhos mentais e gera indignação nas pessoas.

Pois bem, falemos do mercado cultural e do show de Claudia Raia, que captou (segundos as notícias nos jornais) R$ 5 milhões da Lei Rouanet.

Quem é mais prejudicial ao Brasil?

Os 5 milhões do show de Claudia Raia ou os quase R$ 549 bilhões em impostos sonegados em 2021, de acordo com estudo da Receita Federal do que deixou de ser pago nos tributos PIS/Cofins?

Sonegação de imposto é crime.

Retira muito, mais muito dinheiro mesmo, da educação e da saúde.

No Show de Claudia Raia, em uma simples apresentação, cerca de 150 pessoas do Mercado Cultural são mobilizadas.

Designers, trabalhadores das gráficas, marceneiros, costureiras, montadores, iluminadores, eletricistas, bombeiros civis, vendedores, jornalistas, fotógrafos, roteiristas, motoristas, maquiadoras e, por fim, atores e atrizes.

Pela lei, todos os fornecedores de Cláudia Raia emitiram notas fiscais dos seus serviços ou foram contratados, por ela, formalmente.

Dinheiro na economia, dinheiro retornando ao Governo em forma de impostos.

Criticar a elitização dos eventos financiados, a pouca democracia na distribuição dessas isenções no território brasileiro (a grande maioria das isenções está no sudeste) ou outros aspectos da Lei, é válido.

Mas também é uma completa paranóia os ataques e a perseguição à Lei Rouanet, quando esta é completamente transparente, lícita, tem regras e normas.

Porque, ao invés de alimentar-se da paranóia bolsonarista contra a Lei Rouanet, as pessoas preocupadas com impostos não se juntam à campanha do Instituto Combustível Legal (ICL), que estima sonegação de R$ 14 bilhões de impostos, só no setor de combustíveis?

Porque, ao invés de atacar nossos artistas porque estão, DENTRO DA LEI, tentando captar dinheiro para seus show, a gente não apoia o Projeto de Lei que penaliza o “Devedor Contumaz”, ou seja, aquele que sonega de forma sistemática já contando com o marasmo da justiça e com os costumeiros perdões de dívidas no Congresso Nacional?

Deixem nossos artistas trabalharem, junto com o toda a cadeia produtiva de trabalhadores que dão suporte aos shows e espetáculos.

Vamos atrás de quem realmente sonega imposto no Brasil!