Neste momento em que presidente, vice-presidente, ministros, governadores, senadores e deputados iniciam novos mandatos, o UNICEF está alertando para a urgência de priorizar políticas públicas com recursos suficientes voltadas a crianças e adolescentes no País, levando em consideração os desafios de cada região e estado.
A pesquisa “As Múltiplas Dimensões da Pobreza na Infância e na Adolescência no Brasil”, lançada nesta terça-feira, aponta, por exemplo, que, em Pernambuco, 77 de cada 100 crianças e adolescentes vivem na pobreza em suas múltiplas dimensões: renda, educação, trabalho infantil, moradia, água, saneamento e informação.
O estudo apresenta dados até 2019 (trabalho infantil), até 2020 (moradia, água, saneamento e informação), até 2021 (renda, incluindo renda para alimentação) e dados até 2022 (educação).
Em todo o Brasil, são ao menos 32 milhões de meninas e meninos (63% do total) na pobreza multidimensional. “A pobreza na infância e na adolescência vai além da renda.
Estar fora da escola, viver em moradias precárias, não ter acesso a água e saneamento, não ter uma alimentação adequada, estar em trabalho infantil e não ter acesso à informação são privações que fazem com que crianças e adolescentes estejam na pobreza multidimensional”, explica Liliana Chopitea, chefe de Políticas Sociais, Monitoramento e Avaliação do UNICEF no Brasil. “Na maioria das vezes, essas privações se sobrepõem, agravando os desafios enfrentados por cada menina e menino.
Por isso, é urgente olhar para a pobreza de forma ampla, e colocar a infância e a adolescência no orçamento e no centro das políticas públicas”, defende ela.
O estudo foi realizado pelo UNICEF, com apoio da Fundação Vale.
Para analisar a pobreza multidimensional, foram utilizados dados oficiais, da Pnad Contínua, relacionados a sete dimensões: Renda, Educação, Trabalho Infantil, Moradia, Água, Saneamento e Informação.
De acordo com as entidades, os resultados revelam um cenário preocupante. “O último ano para o qual há informações disponíveis para todos os sete indicadores é 2019 – quando, em todo o Brasil, havia 32 milhões de meninas e meninos de até 17 anos privados de um ou mais desses direitos.
Para os anos seguintes, só há dados de educação e renda, incluindo renda para alimentação – e todos pioraram”.
Em 2021, o percentual de crianças e adolescentes que viviam em famílias com renda abaixo da linha de pobreza monetária extrema (menos de 1,9 dólar por dia) alcançou o maior nível dos últimos cinco anos: 16,1%, versus 13,8%, em 2017.
No caso da alimentação, o contingente de crianças e adolescentes privados da renda necessária para uma alimentação adequada passou de 9,8 milhões, em 2020, para 13,7 milhões, em 2021 – um salto de quase 40%.
Já na educação, após anos em queda, a taxa de analfabetismo dobrou de 2020 para 2022 – passando de 1,9% para 3,8%.
Desigualdade social Em Pernambuco, o estudo indica a privação de renda como a dimensão que mais afeta crianças e adolescentes, impactando 59,3% de meninas e meninos, seguida pela falta de acesso a saneamento (44%) e água (15,4%).
Em seguida vem falta de acesso à informação (14%), privação de educação (8,7%), moradia (7,8%) e trabalho infantil (3,5%).
No total, 77,7% das meninas e meninos pernambucanos são afetados por uma ou mais de uma dimensão da pobreza multidimensional. “Os desafios são imensos e inter-relacionados.
Para reverter esse cenário, é preciso políticas públicas que beneficiem não só as crianças e os adolescentes diretamente, mas também mães, pais e responsáveis, especialmente os mais vulneráveis”, afirma Liliana Chopitea.