O General de Exército Richard Fernandez Nunes, comandante militar do Nordeste e um dos principais nomes para a atração da escola de sargentos do Exército para Pernambuco, escreveu um texto especial em um blog militar criticando a quebra da hierarquia militar e rechaçando as pressões para aderir a um golpe militar.

De acordo com a coluna Painel, da Folha de São Paulo, durante o período eleitoral, Nunes foi um dos generais que foram assediados pelo bolsonarismo.

Outros generais como Valério Stumpf, chefe do estado-maior do Exército e Tomás Paiva, atual comandante da Força, também foram pressionados a apoiarem os atos antidemocráticos após a derrota de Jair Bolsonaro (PL) nas urnas.

O fato de não terem aderido aos atos golpistas, levou os bolsonaristas a chamarem eles de “traidores” e “melancias”; verdes por fora (militares) mas vermelhos por dentro (referência à esquerda).

No texto publicado num blog do Exército, Nunes fala que “por vezes, dizer ’não’ pressupõe muito mais coragem do que alinhar-se a eventuais pressões de caráter político”.

Segundo o general, os ataques que sofre vem das mídias sociais e aplicativos de mensagens, os mesmos utilizados para divulgação de informações falsas: “Fica a pergunta: a que interesses servem tais pessoas?”, questiona o comandante.

O comandante diz que também é feito o disparo de mensagens “sem a menor preocupação com a veracidade dos fatos e a idoneidade das fontes”.

Nunes finaliza o texto dizendo que o Exército é uma “instituição apartidária” e tal situação é “inaceitável”.

Abaixo você confere o texto publicado pelo general no blog do Exército.

O Mundo PSIC e a Ética Militar Em abril do ano passado, em artigo publicado neste blogi, provoquei o pensamento crítico dos leitores com a cunhagem do acrônimo PSIC, para caracterizar o ambiente informacional da atualidade.

Decorridos dez meses, retorno ao tema, por constatar que a precipitação, a superficialidade, o imediatismo e a conturbação atingiram patamares consideráveis, devido ao comportamento de muitos civis e militares, quando o assunto abordado é o papel desempenhado pelas forças armadas no cenário nacional.

Tratando especificamente do Exército Brasileiro, cabe relembrar que sua História, cuja gênese remonta às Batalhas dos Guararapes, confunde-se com a própria evolução histórica do País.

A atuação da Força Terrestre é ampla e abrangente, cobrindo nosso território de dimensões continentais com o braço forte e a mão amiga, o que exige tomada de decisões desde os níveis político e estratégico aos ambientes operacional e tático.

A cada um desses níveis correspondem especificidades no que tange ao estudo de situação e à liderança. É bem sabido que não há solução tática capaz de corrigir uma formulação estratégica inadequada.

E é indispensável destacar que só se chega aos mais altos postos percorrendo-se todos os graus hierárquicos, após décadas de dedicação à carreira das armas.

Ninguém ingressa no Exército como general!

Essa óbvia constatação é importante para que se compreenda o contexto ético-profissional que distingue a carreira militar.

Hierarquia e disciplina, bases institucionais constantes em nossa Lei Magna, representam a própria essência da força armada.

São conceitos que traduzem o exato cumprimento do dever e o respeito à cadeia de comando, composta por autoridades, em todos os escalões da estrutura da Força, que alcançam determinada posição, tendo experimentado as vicissitudes de seus subordinados.

Esse arcabouço ético também é composto pelos valores indispensáveis a quem se dispõe a seguir a vida militar: patriotismo, coragem, lealdade, camaradagem, espírito de corpo, fé na missão, entre outros.

Esses valores, ainda que universais, podem manifestar-se de modo distinto, conforme o nível de atuação considerado.

A coragem esperada de um comandante tático, por exemplo, não se expressa da mesma forma que a de um líder no nível estratégico.

Semelhante na essência, distingue-se na demonstração.

Se do primeiro se requer o acatamento imediato da ordem recebida para conduzir seus subordinados ao cumprimento da missão; do outro se espera firmeza na defesa de princípios e valores, de tal forma que, por vezes, dizer “não” pressupõe muito mais coragem do que alinhar-se a eventuais pressões de caráter político.

E o que o Mundo PSIC tem a ver com isso?

Tudo!

Pois é exatamente na dimensão informacional que temos assistido a condutas em desacordo com a ética militar por parte daqueles que, por indignação, ingenuidade, desconhecimento e, até mesmo, má-fé, têm contribuído para disseminar a desinformação, a relativização de valores e, consequentemente, a desunião que enfraquece o espírito de corpo.

Fica a pergunta: a que interesses servem tais pessoas?

Analisando-se o que têm expressado, via de regra em mídias sociais e aplicativos de mensagens, que adicionaram a comodidade do anonimato a esse tipo de atitude, facilmente se identificam as componentes PSIC.

A precipitação é marca típica desse ambiente repleto de meias-verdades e fake news, onde se disparam e replicam mensagens sem a menor preocupação com a veracidade dos fatos e a idoneidade das fontes.

Toma-se como verdade, de modo absolutamente irresponsável, conteúdos com juízos de valor destinados ao ataque a reputações e à crítica a decisões dos escalões superiores.

Iniciado o processo, que é realimentado por “gatilhadas” digitais, o que se produz é uma verdadeira marcha da insensatez.

A um militar que se preza não se permite essa falta de cuidado e de lealdade para com a instituição a que serve.

A superficialidade é outro aspecto dissonante do comportamento ético.

A atividade militar é, por natureza, grave e complexa.

Em tempos de paz ou de conflito armado, lida-se com o poder dissuasório da Nação.

Soluções simples para problemas complexos não são a regra.

Tratar o emprego do Exército com base em análises simplórias de “especialistas” de ocasião, é o caminho mais seguro para se chegar a concepções inoportunas, parciais e ineficazes, o que é inadmissível por quem quer que tenha um mínimo de seriedade no processo de tomada de decisão.

Quando um militar extrapola a esfera de suas atribuições, e passa a opinar publicamente sobre o que não é de sua competência, contribui para o descrédito na cadeia de comando e no cumprimento da missão.

O imediatismo, por princípio, não se coaduna com o caráter permanente atribuído às forças armadas no texto constitucional.

A relação custo-benefício de se trocar ganhos imediatos por duradouros resultados positivos costuma caracterizar vitória de Pirro.

Os preceitos da ética militar indicam claramente que não se pode prejudicar a reputação e a credibilidade do Exército, conquistadas em séculos de História, por conta do oportunismo de uns e do jogo de interesses de outros, algo que tem sido observado em inúmeras postagens veiculadas em tempos recentes.

A conturbação talvez seja o aspecto mais danoso do Mundo PSIC.

A excessiva polarização da sociedade e a atuação dos extremos do espectro ideológico no ambiente informacional têm gerado visões radicais, resultando num círculo vicioso de intolerância e de absoluta ausência de diálogo.

Essa situação é inaceitável aos membros de uma instituição apartidária, que se orgulha de oferecer oportunidades a todos os brasileiros, sem distinção de classe social, raça, gênero e credo. ] O inconformismo com a tradicional postura legalista e de neutralidade do Exército tem dado ensejo a insultos a camaradas de longa data, ataques a reputações típicos de regimes totalitários, “vazamentos” de supostas informações, divulgação de memes difamatórios, tudo para tentar atingir a coesão da Força, em flagrante traição ao sacrossanto respeito à hierarquia e à disciplina.

Sendo os recursos humanos a força da nossa Força, é imperioso reafirmar diuturnamente a essencialidade da prática e do culto aos princípios e valores característicos da profissão militar para o aprimoramento da capacidade operacional necessária ao cumprimento de suas diversas missões.

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