Ana Maria Franca, Coordenador regional do Instituto Fogo Cruzado em Pernambuco, escreve sobre a violência no Estado, em seu mais recente informa.

Leia Também Saiba quantos novos oficiais vão reforçar a segurança pública de Pernambuco De acordo com o levantamento, em 15 dias, 68 pessoas foram baleadas somente no Grande Recife.

Duas semanas e 52 mortos, 16 feridos.

Entre as 68 vítimas de tiros em apenas 15 dias tem de tudo: um homem assassinado em um bar de Olinda, durante um show que acontecia ali.

Uma cuidadora de idosos assassinada na frente dos filhos quando ia tomar banho de riacho em Igarassu.

Fora da região metropolitana também está difícil: uma mulher foi assassinada durante uma tentativa de assalto em Goiana.

Dados preocupantes no Grande Recife Quem vive em Pernambuco, especialmente na região metropolitana do Recife, sabe que as coisas não andam um tanto caóticas.

E não é pela chegada do Carnaval.

Antes fosse. É a violência armada que resolveu mostrar sua face mais cruel.

Preste bem atenção nos números que nós, do Fogo Cruzado, contabilizamos nessa quinzena inicial do ano.

Em 15 dias, 68 pessoas foram baleadas somente no Grande Recife.

Duas semanas e 52 mortos, 16 feridos. É um número estarrecedor, que deveria provocar preocupação e senso de urgência no poder público estadual.

Alguma coisa está fora da ordem.

Motivos não faltam.

Somos uma sociedade que há décadas convive com o alto número de mortos violentos.

E nos últimos anos, a violência armada foi impulsionada pelo descontrole das armas de fogo: assim que Jair Bolsonaro tornou-se presidente da República, portarias, normas e decretos — mais de 40 resoluções — foram assinadas para facilitar o acesso a armas e munições.

Armas pesadas, como fuzis, pistolas 9 mm, espingardas e tudo mais.

Foi um derrame.

Os dados da região metropolitana do Recife ilustram as consequências de políticas equivocadas e da cultura do armamento que se alastrou pelo Brasil.

Entre as 68 vítimas de tiros em apenas 15 dias tem de tudo: um homem assassinado em um bar de Olinda, durante um show que acontecia ali.

Uma cuidadora de idosos assassinada na frente dos filhos quando ia tomar banho de riacho em Igarassu.

Fora da região metropolitana também está difícil: uma mulher foi assassinada durante uma tentativa de assalto em Goiana.

Enumerar caso a caso 68 histórias é desgastante e triste.

Basta dizer que nenhum desses casos é isolado.

Não se trata de uma onda de violência esporádica.

Falamos de um ciclo de motivos: mais armas em circulação gera mais violência e mais mortes, e sem uma política pública eficiente que atue na raiz do problema, não haverá avanço.

Falta o básico: os estados brasileiros sequer produzem dados de qualidade e com transparência sobre homicídios e chacinas.

Nem temos controle sobre as armas: o Exército ainda diz não saber quantas armas cada Colecionadores, Atirador e Caçador (CAC) têm em cada município brasileiro — e, veja só, é ele quem controla o registro de CACs.

O caso de Pernambuco chama ainda mais a atenção porque o estado já foi referência na produção de dados e na redução de homicídios.

O programa Pacto pela Vida chegou a inspirar políticas públicas em outros estados.

Os retrocessos nessa área são inaceitáveis.

Há muito a ser feito.

E é possível aproveitar o novo ciclo de governo para dar a urgência devida a essa dinâmica assustadora de violência armada.

A população brasileira, especialmente o povo pernambucano, não aguenta mais viver em meio ao caos.