Por Márcio Coimbra, em artigo enviado ao blog Era uma quarta-feira, dia 9 de novembro de 1938, quando a barbárie tomou conta da Alemanha.

Os primeiros alvos foram as sinagogas, depois as lojas de judeus e, por fim, suas residências.

Mais de mil sinagogas foram incendiadas e mais de sete mil negócios foram destruídos ou danificados.

Leia Também Instituto Brasil-Israel condena comparações infundadas entre a detenção de golpistas no DF e campos de concentração do Holocausto O grau de violência inédito foi assustador e o termo “Noite dos Cristais” marcou a data diante da quantidade de cacos de vidros que se espalharam pelas ruas das cidades alemãs em que os ataques aconteceram.

Brasília viveu seu “domingo dos cristais”, com atos selvagens, injustificáveis e, também, vergonhosos.

A marcha de bolsonaristas em transe coletivo defendendo um movimento de intervenção por parte dos militares com o objetivo de depor um governo, eleito de forma legítima e democrática em eleições livres, era o prenúncio da barbárie que estava por vir.

Assim como na Alemanha nazista, diante de forças policiais inertes, coniventes e omissas, a selvageria se instalou.

Ainda levará tempo para termos a dimensão dos horrores promovidos pela massa de bolsonaristas golpistas na capital do país.

Porém, a invasão dos prédios públicos, símbolos maiores da República, pilares institucionais do plural regime constitucional brasileiro e maiores garantidores da liberdade e do cumprimento do Estado de Direito, passará para História como o maior ultraje contra nossa democracia e imagem internacional, algo que poderá ser superado, porém, jamais esquecido.

Assim como na Alemanha, a quebradeira em Brasília teve organização e financiamento privados, além de cooperação do poder público, no caso, das forças de segurança do Distrito Federal, que assistiram inertes a instalação do caos.

Foram mais de 100 ônibus chegando em Brasília para se prepararem em acampamentos com estrutura organizada, logística e suprimentos para invadir os poderes da República até uma intervenção militar que jamais chegou.

Uma clara tentativa de golpe de Estado que deve ser apurada e punida de forma severa, chegando aos seus financiadores e organizadores.

A marcha golpista de terror em Brasília mostra que o bolsonarismo não dialoga com a democracia.

O corte radical e populista de uma direita que passa longe de qualquer vertente liberal e até mesmo conservadora nada tem de democrática.

O jogo político deve ocorrer dentre os ditames constitucionais e do Estado de Direito e essa direita golpista passa longe de Hayek, Kirk, Mises e Burke, acadêmicos expoentes de um corte de direita democrático que rejeita qualquer visão contrária ao Estado de Direito.

Pobres são os liberais e conservadores que se deixaram seduzir pelo populismo barato do bolsonarismo.

Além de não honrar, rejeitam suas origens.

O Brasil viveu a sua noite de cristais em pleno dia, com a quebradeira de suas obras, acervo e prédios públicos, assim como Goebbels fez com sinagogas, residências e negócios dos judeus na Alemanha sob a conivência das forças de segurança.

Diferentemente do que ocorreu em 1938, aqui, a democracia sobreviveu e os golpistas rumaram para a cadeia.

O prejuízo para nosso acerco histórico, dilapidado e violentado, é incalculável, porém, se é possível aprender uma lição diante disso tudo, que seja o fato de que jamais devemos nos curvar diante de golpistas, radicais e populistas de qualquer ordem.

Atos de destrruição em Brasilia. - Divulgação Os ingênuos têm uma oportunidade de repensar; os oportunistas, de se reposicionar; já para os terroristas, tanto financiadores e organizadores, como inspiradores e agentes, chegou a hora de pagar com a sua liberdade por tentar subjugar a democracia e a liberdade de toda uma nação.

Márcio Coimbra é Presidente do Conselho da Fundação da Liberdade Econômica e Coordenador da pós-graduação em Relações Institucionais e Governamentais da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Brasília.

Cientista Político, mestre em Ação Política pela Universidad Rey Juan Carlos (2007).

Ex-Diretor da Apex-Brasil e do Senado Federal.