O economista Persio Arida, um dos formuladores do Plano Real, foi o convidado do Canal Aberto/Observatório Econômico, evento online realizado na manhã desta quarta-feira (09/11) pela Câmara de Comércio França Brasil (CCIFB-SP).

Arida é integrante da equipe definida pelo presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva para atuar na transição e comentou pontos importantes da agenda econômica do país para o curto e o médio prazos, como a reforma tributária e o acordo entre União Europeia e Mercosul, além de apresentar suas expectativas para o cenário econômico global em 2023.

Entre os pontos da agenda econômica comentados, Arida afirmou que, negociado há muito tempo, o acordo com a União Europeia “já nasceu velho, ficando aquém daquilo que o Brasil precisaria”.

Em sua opinião, no entanto, é melhor fechar o acordo e, se possível, garantir a entrada do Brasil na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), iniciativa “que seria muito bem-vinda para o país, inclusive do ponto de vista das restrições que a organização coloca em relação a políticas protecionistas”.

Arida acrescentou que, como ocorre com toda economia emergente, “o caminho do Brasil é a integração com o mundo”.

Sobre a reforma tributária, Arida comentou que está amadurecida a vertente em que se busca o aumento da produtividade na economia, que está embutida na criação do Imposto sobre o Valor Agregado (IVA). “Deve ser prioridade no próximo governo, o que é ótima notícia”, disse ele.

Ele destacou que a medida será um enorme avanço, considerando o longo prazo de implementação do IVA. “A ideia é criar o IVA e reduzir outros impostos, calibrando para a arrecadação ficar mais ou menos constante”, disse.

Em sua opinião, a iniciativa facilitaria o ganho de produtividade e resolveria muitos pontos da discussão envolvendo a reindustrialização no país.

Outro assunto que foi abordado por Arida é a agenda ambiental.

Segundo ele, a saída do governo Bolsonaro renovará a expectativa de uma boa agenda ambiental no Brasil, “que tem tudo para se transformar na vanguarda da preservação da natureza”, lembrando que, além da Amazônia, o país conta com grande diversidade de fontes renováveis de energia.

Em sua opinião, essa mudança contribuiria muito para a atração de fluxos de capitais para o Brasil. “Temos investidores que dão peso muito grande ao chamado ESG e que deixaram de considerar o Brasil como opção de investimento”, disse ele.

No front fiscal, o economista citou o exemplo da Grã-Bretanha – em que, em sua opinião, houve uma “barbeiragem” no anúncio da política econômica da ex-primeira-ministra Elizabeth Truss –, como um alerta ao novo governo no Brasil. “Não se pode queimar a largada, ou seja, começar com algo percebido como desastroso”, disse ele. “A Inglaterra nos faz um alerta: não queimar a largada”, acrescentou.

Arida disse que o Brasil vem de uma política fiscal longe de ser contracionista e tem um teto de gastos que vem sendo furado. “A preocupação maior é o risco de o novo governo enfrentar o que se passou na Grã-Bretanha”.

Em relação à independência do Banco Central, outro tema abordado, o economista destacou que não vê possibilidade de reversão nessa iniciativa. “A iniciativa foi um enorme avanço. É algo que veio para ficar”, disse ele.

Arida acrescentou que o Banco Central vem fazendo ótimo trabalho para aumentar a competividade no setor financeiro.

Pedro Antônio, presidente da CCIFB-SP, agradeceu a participação de Arida no evento, destacando dois pontos abordados na palestra do economista que “estão na mesa e que farão enorme diferença no próximo governo”.

O primeiro é a reforma do IVA, “uma medida imperativa e que já está madura”.

Ele também afirmou que o “isolacionismo” em que o Brasil mergulhou nos últimos anos não foi positivo país", acrescentando que o acordo comercial entre União Europeia e Mercosul “insere o Brasil mais rapidamente no cenário internacional e contribuirá para aumentar nossa produtividade e atrair capitais”.