A síntese dos discursos de Lula em Pernambuco, nestes dois dias, foi uma espécie de nostalgia engajada, mas não apenas uma visão do passado por si só.

Nas imagens geradas, na simbologia da mãe Dona Lindu revivida em Caetés, o que Lula sugere aos seus eleitores é um reencontro com o passado.

Como foi a visita de Lula à casa de terra batida da mãe, em Caetés Não à toa, muito menos coincidência, no primeiro dia, no primeiro evento, o ex-presidente fez uma visita “emocionada” à réplica da casa em que viviam, em Caetés.

O arquétipo do herói, que desceu ao fundo das cavernas mais escuras, volta redivivo para uma nova batalha, final, mas agora ancorado na imagem da força das mulheres, seja uma mãe do passado ou uma esposa que reenergiza no presente.

Na disputa pelo voto nacional, as pesquisas apontam que este é um dos calos do presidente Bolsonaro, com mais rejeição no público feminino do que no público masculino.

No encerramento do discurso do Teatro do Parque, no Recife, nesta manhã, essa ideia ficou bastante evidente. “Minha mãe, em diversos momentos, não tinha sequer um bocado de feijão para colocar no fogo para os oito filhos comerem… mas a minha mãe dizia: meu filho, amanhã vai ter, amanhã vai ter!

Eu nunca vi minha mãe nervosa, nunca vi, nunca vi, porque ela sempre acreditava que amanhã ia ser melhor”, lembrou o sétimo dos 8 filhos.

No evento de Garanhuns, Lula encerrou seu discurso com o mesmo mantra do reencontro com o passado, mas injetando esperança pelo lado da economia. “Este Brasil que vocês sonham, a gente já construiu, é possível”, sugeriu, ecoando o tempo em que foi presidente e a economia nacional navegava em águas mais calmas. “Vamos recuperar este País”, repetiu a perder de vista. “Vamos rediscutir o papel da Petrobras e Eletrobras.

O Estado tem que ter instrumentos para a sua ação”, disse no Recife, prometendo trazer de volta o intervencionismo de estado, já que os ditos liberais não conseguiram animar a economia.

Na mesma linha, auxiliar, Danilo Cabral, entre uma vaia e outras dos aliados de Marília Arraes no próprio PT, chegou a pedir a Lula que, se eleito, cancelasse a privatização e fizesse restabelecer a Eletrobras.

Por uma das ironias do destino, o discurso que deveria ser a apoteose aconteceu no Recife, no mesmo dia em que o Estaleiro Atlântico Sul (EAS), em recuperação judicial, tenta vender em leilão parte de sua área interna para pagar dívidas.

Se no passado já rendeu tanto voto a ele e a Eduardo Campos, não deu uma palavra sobre o fiasco da indústria naval e a crise econômica herdada em Suape.

Humberto Costa, fiel escudeiro de uma vida toda no PT, até que se atreveu a falar no estaleiro, nos eventos do interior, mas apenas por óbvio para lembrar os empregos que foram gerados no passado.

Se levar estaleiro em Suape, consórcio secreto quer ferrovia, Arco Metropolitano e refinaria Abreu e Lima Petrobras coloca refinaria Abreu e Lima à venda novamente E lá ficaram, uma vez que até a refinaria Abreu e Lima não logrou êxito.

Nem concluída chegou a ser.

A Petrobras tenta se livrar do mico. “Para voltar o emprego, volta Lula!”, bradava um Geraldo Alckmin no palco em Serra Talhada.

A receita? “Temos que formar mais engenheiros, mais médicos.

Não pode ter só faculdade de direito”, recomendou Lula, no Recife. “Temos saudade do futuro” palavreou João Campos, nesta quinta.

A proposta de reencontro com o passado passou longe do tema da violência, embora Lula tenha por mais de uma vez taxado Bolsonaro de miliciano. “Lula sabe o sofrimento do povo… o atual presidente não sabe governar.

Ele gosta de armas, mas não gosta de povo”, ecoou o vice, no talhado de Serra Talhada.

Apesar do vice de Lula ter dito que os pernambucanos são bravios, não baixam a cabeça contra a opressão, numa referência às lutas libertárias, de um passado distante, no presente, no meio do fogo cruzado da violência atual, abaixar o corpo inteiro e não apenas a cabeça pode ser a diferença entre a vida e a morte.

Fogo Cruzado associa violência no Cabo e em Ipojuca ao Porto de Suape e drogas.

Entenda a conexão O site Fogo Cruzado tem mostrado que o Rio de Janeiro é aqui, no Cabo de Santo Agostinho, numa escalada do PCC para o Nordeste.

Quem consome tanta droga?

Essa herança do passado tem paternidade?