Por Felipe CuryMembro da Comissão dos Moradores das palafitas do Pina e Ex-Diretor de Habitação do Recife.

A cidade do Recife é uma das mais desiguais do Brasil.

O déficit habitacional é cerca de 72 mil moradias.

Aproximadamente 4.700 famílias vivem em palafitas, segundo dados do Plano Municipal de Habitação.

O incêndio que ocorreu no último dia 06/05 não é o primeiro e pode não ser o último.

No Pina foram 180 famílias atingidas.

São mães, filhos, homens e idosos que trabalham e vivem naquele mesmo território. É de lá que eles tiram seu sustento e de suas famílias e é onde estabeleceram suas residências. É na convivência com os rios, mangues e pontes do Recife que essas pessoas sobrevivem.

Assim como aconteceu no Pina, outros incêndios ocorreram em palafitas no Recife, como na comunidade do Campinho nos Coelhos (2013) e no Bode (2011/ 2020). É uma calamidade que a população recifense assiste reiteradamente e pouco se fez para dar fim a esta tragédia.

Nesta quinta, 12/05, após seis dias do incêndio, uma comissão composta por moradores, movimentos sociais, lideranças políticas e comunitárias, em conjunto com representantes da Prefeitura do Recife, coordenada pela Secretaria de Governo, reuniu-se com o objetivo de dar alguns encaminhamentos com vistas a mitigar os impactos da tragédia na vida das pessoas atingidas e buscar, juntos, algumas soluções efetivas.

No acordo pactuado entre as partes integrantes da comissão ficou acertado o seguinte: 1.

Serão pagos as 180 famílias uma indenização pecuniária de R$ 1.500 2.

Todas as famílias serão inscritas no programa Auxílio Moradia 3.

A área do terreno é para uso exclusivamente público, sendo ali construído projetos estruturadores para a economia, trabalho e renda das famílias 4.

A comissão ficará permanentemente constituída até que haja uma solução definitiva de habitabilidade para essas pessoas.

Definitivamente não é o ideal, mas foi o possível.

O acordo é fruto de muito diálogo, participação popular e compromissos sociais.

Não seria possível sem a participação ativa e incisiva dos moradores e lideranças locais.

Já atuamos nesta área há muito tempo e, agora mais do que nunca, precisamos utilizar o antigo terreno do Aeroclube para buscar a urbanização do Bode, a construção dos habitacionais necessários para acabar com todas as palafitas do Pina, e atender a essas pessoas que hoje estarão no auxílio moradia e pagando aluguel.

O orçamento público reflete as prioridades de cada gestão. É preciso uma cidade sem palafitas e com oportunidades para todos e todas.

O ativista social Felipe Cury, que atua na área de habitação no Pina - Társio Alves/Divulgação