Por Ricardo Leitão, em artigo enviado ao blog Hoje, o maior dever de um democrata, no Brasil, é lutar pela realização das eleições em outubro, combatendo sem trégua o golpe que continua sendo urdido por Jair Bolsonaro.

A luta avança e recua, mas não pode cessar.

Caso cesse, o risco é o País ser mergulhado em uma ditadura que vai aniquilar as conquistas sociais arduamente asseguradas pelos brasileiros desde a redemocratização, em 1985.

Na terça-feira, 3, Sua Excelência recebeu sinais de que haverá resistência à articulação golpista.

No mesmo dia, o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Luiz Fux, recebeu em seu gabinete, em momentos distintos, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, e o ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Oliveira.

O senador e o general convergiram no teor das notas oficiais que divulgaram sobre os seus encontros com Fux: “O Poder Legislativo está disposto a manter a melhor relação com o Poder Executivo e o Poder Judiciário.

Com diálogo, não haverá escalada de nenhuma crise”, disse Pacheco. “As Forças Armadas estão comprometidas com a democracia e os militares atuarão no âmbito de suas competências para que o processo eleitoral transcorra normalmente”, afirmou o ministro Paulo Sérgio.

Antes de divulgar as notas oficiais, o senador e o general mediram a temperatura de suas tropas.

Pacheco teve um encontro com lideranças do Senado e o general conversou com os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica e participou de uma reunião do Alto Comando, com a presença de Bolsonaro.

O efeito final do esforço coletivo foi reduzir a temperatura política em Brasília, elevada ao ponto de fervura com decisões e declarações de Sua Excelência.

No olho da fervura, o deputado federal e miliciano bolsonarista Daniel Silveira, condenado a nove anos e oito meses de prisão pelo Supremo e perdoado por Bolsonaro – um escárnio.

A pena de Silveira resultou de suas ameaças à democracia e à vida dos ministros do STF.

Além de condenação à prisão, perderia o mandato e se tornaria inelegível, não fosse o perdão de Sua Excelência – uma afronta ao Supremo Tribunal Federal.

A Câmara dos Deputados completou o serviço, nomeando Silveira integrante da Comissão de Constituição e Justiça, a mais importante da Casa – um escândalo.

Foi aberto um debate: o Supremo pode anular, ou não, o decreto de perdão a Silveira?

Como pessoa, parlamentar e militante bolsonarista, Daniel Silveira não tem qualquer importância para Bolsonaro.

Seu valor é servir como o mais novo pretexto para aumentar a tensão institucional e alimentar as permanentes manobras golpistas de Sua Excelência.

Como foram antes os ataques à credibilidade das urnas eletrônicas; a exigência do voto impresso nas eleições deste ano; as ofensas aos ministros do STF e do Tribunal Superior Eleitoral e os continuados alertas autoritários: “É bom que não pressionem, se for assim, não vai ter eleição”.

Não há a menor possibilidade de Jair Bolsonaro admitir disputar as eleições de outubro limpamente, a não ser que considere sua vitória irreversível.

Ele nunca foi, não é e nunca será um democrata. É fundamental considerar que Sua Excelência vai tentar um golpe de Estado se a derrota for o seu destino.

Ou repetir Donald Trump que, depois de derrotado por Joe Biden, estimulou a invasão do Congresso dos Estados Unidos para que seus militantes impedissem a diplomação do adversário.

Teme-se em Brasília que Sua Excelência repita Trump e insufle a invasão do Supremo Tribunal Federal, poupando o Congresso.

Qualquer uma das alternativas é uma tragédia para o Brasil.

Irá provocar um caos de consequências imprevisíveis, com feridos e mortos.

Assegurar as eleições de outubro e derrotar Jair Bolsonaro é o maior dever de cada democrata brasileiro.