Por Ricardo Leitão, em artigo enviado ao blog O Gabinete de Segurança Institucional (GSI), instalado no Palácio do Planalto, comunicou oficialmente que os pastores Gilmar Santos e Amilton Moura foram recebidos 68 vezes na sede do Poder Executivo, em dias alternados, por Jair Bolsonaro, ministros da Casa Civil e ministro-chefe da Secretaria de Governo, todos fidelíssimos bolsonaristas.
Tanta deferência aos dois religiosos é intrigante: Santos e Moura estão no centro de um escândalo de desvio milionário de verba no Ministério da Educação, cobrando propinas a prefeitos para liberar verbas públicas.
Como as portas do Palácio do Planalto foram abertas para eles com tanta generosidade é um mistério, uma vez que Santos e Moura sequer são funcionários públicos.
Na abordagem aos prefeitos, nas dependências do ministério ou em almoços em Brasília, eram objetivos: a propina poderia ser paga em dinheiro, na aquisição de milhares de Bíblias ou em barras de ouro.
O ex-ministro da Educação, Milton Ribeiro, confirmou o golpe, mas se disse inocente: que os pastores só “trabalhavam” com aliados do desgoverno.
O GSI, chefiado pelo general Augusto Heleno, bolsonarista de raiz, não fez mais comentários, como também não informou quantas vezes Bolsonaro recebeu, em seu gabinete, o ex-deputado federal Valdemar Costa Neto, presidente do Partido Liberal (PL), ao qual é filiado Sua Excelência.
Costa Neto é notório em determinados salões de Brasília e foi preso na Operação Lava Jato.
Os temas de suas pautas com Bolsonaro são um mistério.
Antes de ser forçado a liberar as informações sobre os dois pastores, o ministro Augusto Heleno justificava o boicote com um incrível argumento: “As solicitações não podem ser atendidas porque sua divulgação colocaria em risco a vida do presidente da República”.
Como assim?
A ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves - AGENCIA BRASIL Mais convincente foi Damares Alves, ex-ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos: “Tudo isso é coisa dos capetas.
O inferno enviou capetas para atrapalhar um governo cristão”.
Pregadora evangélica, Damares ficou famosa ao relatar seu encontro com Jesus Cristo, estando ele confortavelmente sentado no galho de uma goiabeira.
Sobre o senador Ciro Nogueira, ministro da Casa Civil, que abriu 19 vezes as portas de seu gabinete no Palácio do Planalto para os dois pastores propineiros, também sigilo do GSI.
Um dos líderes do Centrão – ajuntamento de deputados federais que, se diz em Brasília, não se vende, se aluga –, Nogueira instalou seu ex-chefe de Gabinete, Marcelo Pontes, como presidente do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), com patrimônio de R$ 55 bilhões.
Nesse tesouro de verbas públicas operavam os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura.
Na mesma fonte rejuvenescedora bebeu Arthur Lira, presidente da Câmara dos Deputados e também líder do Centrão.
Com os olhos voltados para o futuro das novas tecnologias pedagógicas, Lira pediu que o FNDE investisse R$ 26 milhões em kits de robótica para escolas de municípios de Alagoas, sua base eleitoral.
O fato de várias escolas não terem sequer água encanada é irrelevante.
Cada kit saiu por R$ 14 mil, quando os melhores similares no mercado não passam de R$ 10 mil.
Chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira - Isac Nóbrega/PR Ciro Nogueira, na Casa Civil, e Arthur Lira, na Câmara dos Deputados, controlam Jair Bolsonaro com rédea curta.
Juntos, têm o poder de influenciar a pauta de votações no Congresso e controlar o fluxo de verbas para senadores e deputados.
Cabe a Lira poder maior: decidir se abre, ou não, um processo de impeachment de Sua Excelência.
Até as urnas de 2 de outubro, quais são as possibilidades, de 1 a 10, de explodirem novos escândalos envolvendo Bolsonaro e seu clã?
Maior do que 10, dirão os familiarizados com a operosa trajetória do presidente, filhos e agregados.
Só para ficar em 2021: o então ministro do Meio Ambiente foi acusado de patrocinar interesses de contrabandistas de madeira; o Ministério da Saúde firmou contrato para compra de vacinas por um preço 1.000% maior que os de mercado; foram liberados R$ 16 bilhões em emendas para parlamentares aliados, em um orçamento secreto, segundo Sua Excelência “para acalmar o Parlamento”.
O ano de 2022 abriu as cortinas com o escândalo no Ministério da Educação.
Continua: um dos filhos do presidente, o hoje deputado federal Eduardo Bolsonaro, ganhou seu primeiro emprego, em Brasília, enquanto surfava no Rio de Janeiro.
A primeira mulher de Sua Excelência comprou 14 imóveis, cinco deles em dinheiro vivo, procedimento incomum no mercado imobiliário, mesmo assim seguido por outro filho, o hoje senador Flávio Bolsonaro, mestre em compra e vendas de apartamentos.
O terceiro filho, o vereador pelo Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro, é investigado por se apropriar de salários de funcionários de seu gabinete na Câmara Municipal, além de ligação com milicianos.
E há casos mais recentes, como o que envolve a empresa de engenharia Engefort, que multiplicou seus contratos com o Governo Federal para R$ 620 milhões, depois de licitações em que participou até com empresas laranjas.
Bolsonaro transformou o que é um dos pilares da administração pública – a transparência – em exceção, instruindo seus ministros, entre outras providências, a negar informações sobre dados requeridos até por meio da Lei de Acesso à Informação.
Na pandemia, a opacidade foi tão grande que a imprensa criou um consórcio para garantir à população estatísticas confiáveis sobre o número de mortos, infectados e vacinados.
O que impede o pior governo da história de ser taxado de corrupto, investigado e condenado?
Os fatos são evidentes e a corrupção, como método para se manter no poder, desgraçadamente virou uma prática.
A abertura de um processo, com força para redundar em um impeachment, aguçará o negacionismo dos bolsonaristas, ampliará as ameaças de morte das milícias nas redes sociais e fará chover pragas da ex-ministra Damares Alves.
Contudo, os fatos estão aí, concretos como sola de coturno: como negar que Sua Excelência abriu as portas de seu gabinete para audiências com os dois pastores, corretores de verbas públicas? É impossível negar os fatos.
Conversas misteriosas com os dois pastores, no Palácio do Planalto, visões do Capeta e verbas secretas no Orçamento desmoralizam qualquer presidente da República.
A lama espessa da corrupção cobre Jair Bolsonaro.
Por extensão, cobre também o seu projeto de reeleição.
A seis meses do primeiro turno da disputa presidencial, é uma lama difícil de limpar.