Por Ricardo Leitão, em artigo enviado ao blog de Jamildo Na solenidade em que se formalizou a candidatura de Geraldo Alckmin como candidato a vice-presidente na chapa de Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-tucano e neo-socialista foi unanimamente saudado como um democrata.

Deputado federal, três vezes eleito governador de São Paulo, duas vezes candidato à Presidência da República, Alckmin ganhou e perdeu eleições ao longo de três décadas de vida política.

Mas sempre disputou limpamente, dentro das regras eleitorais e respeitando os resultados.

No entanto, agora, não basta se dizer, ou ser, um democrata. É preciso mais. É preciso mostrar e convencer que a democracia tem o poder e os instrumentos para promover o desenvolvimento econômico, reduzir o desemprego, controlar a inflação e buscar a justiça social.

Do contrário, para dezenas de milhões de brasileiros desalentados, lutando para sobreviver, a democracia será algo abstrato, apenas tema de debates dos que fazem as três refeições, e até lancham, todos os dias.

Jair Bolsonaro se diz “um democrata”.

Supõe não interessar àqueles a quem pede votos seu apoio ao Golpe de 1964; ter planejado ato terrorista de extrema direita; se cevar no autoritarismo; defender a tortura e torturadores e, desde que assumiu a Presidência, atacar o Supremo Tribunal Federal, o Tribunal Superior Eleitoral e tentar articular um golpe contra as eleições presidenciais de outubro próximo.

Seu desgoverno, o pior da história do Brasil, desconhece a fome e o desemprego de milhões; permitiu que os Ministérios da Saúde e da Educação fossem aparelhados por quadrilhas; abriu as portas para a degradação ambiental na Amazônia e no Pantanal e transformou o Brasil em um pária nas relações internacionais.

A “democracia” de Bolsonaro, por sua absoluta incapacidade de solucionar as demandas dos mais pobres – os que mais precisam dos serviços públicos –, mata aos poucos a democracia pela qual tanto lutamos, inclusive contra os golpistas de 1964 que Sua Excelência tanto admira.

Ao se mobilizar para que “sua democracia” se mostre incapaz de solucionar a fome e o desemprego, Bolsonaro reforça a tese golpista: esse sistema de governo “não resolve os problemas” e a melhor solução é um “governo forte”, com plenos poderes para “tomar as decisões urgentes e necessárias”.

Por coincidência, a tese dos que golpearam a democracia em 1964.

Apesar de seguir, até agora, as regras da disputa presidencial, a participação de Bolsonaro na campanha é uma farsa.

Cada vez mais receoso de uma derrota, desde o início de 2020 ele tenta tumultuar o processo eleitoral.

Entre as iniciativas que desde então perduram está a “denúncia” de que a urna eletrônica possibilita fraudes e, consequentemente, será ilegal a proclamação dos vencedores.

A partir daí, Sua Excelência passou a exigir o voto impresso, mudança já vetada pelo Congresso.

Não adiantou, ele continua insistindo na fragilidade das urnas eletrônicas – usadas há décadas, sem qualquer problema – e anunciando que as Forças Armadas, “em qualquer emergência”, estarão “prontas a socorrer o Brasil, como já fizemos no passado”.

Em nenhuma hipótese são iniciativas e palavras de um democrata.

Qualquer um que tenha capacidade de entender a conjuntura que o País atravessa não apostará o cadarço de um coturno no “democrata” Jair Bolsonaro.

Nunca houve, não há, nem haverá qualquer compromisso seu com um governo do povo, para o povo e pelo povo.

Sua Excelência é uma ameaça real à sobrevivência da democracia no Brasil.

E será cada vez mais, na medida em que a verdadeira democracia não abrace com prioridade os pobres e resolva os seus principais problemas.

A maior missão política dessa geração é vencer, nas urnas, a democracia pró-golpe de Bolsonaro.

Desde a redemocratização, em 1985, já vencemos outros grandes desafios, na luta pela anistia, pelas eleições diretas e contra a inflação.

A nossa unidade será o primeiro passo para que este novo desafio seja vencido.

Está em jogo o futuro do Brasil.