Por Ricardo Leitão, em arrigo enviado aso blog Um dia, lá pelos idos de janeiro, um petista consultou as estrelas e concluiu: “Vamos ganhar no primeiro turno!” A frase virou mantra e contaminou a militância, levando até lideranças mais sóbrias do PT a replicá-la como uma verdade definitiva.
Afinal, Luiz Inácio Lula da Silva surfava, impávido, com índices de 48% a 45% nas intenções de voto, em diferentes pesquisas, enquanto Jair Bolsonaro se afogava nos 25%, no máximo.
A terceira via era apenas uma plácida onda no mar.
Deram-se então ao direito, Lula e o PT, de esticar a corda.
Foram reabertas as discussões com partidos aliados sobre as chapas estaduais; retardadas definições em colégios eleitorais estratégicos, como São Paulo, e o pior: Lula subiu no salto e deu-se a exercitar o sincericídio.
Todo candidato, evidentemente, tem o dever de expor suas ideias aos eleitores.
A questão é saber o que e quando expor.
Nos últimos dias, sem qualquer necessidade tática da campanha, Lula disparou três tiros nos pés montados nos saltos, enquanto era festejadíssimo nas redes sociais bolsonaristas – por vários motivos.
Ao ameaçar de exoneração do governo 8 mil oficiais das Forças Armadas, o candidato petista aumentou a resistência ao seu nome entre as lideranças militares.
Abriu o debate sobre a ampliação do direito ao aborto, rejeitado pelo eleitorado evangélico, cada vez mais expressivo e majoritariamente bolsonarista.
E estimulou militantes a pressionar parlamentares em suas residências, um ato antidemocrático que teria, com certeza, o apoio de Bolsonaro.
Lula desafinou e é preciso afinar porque senão a orquestra desafina junto.
A busca da harmonia é urgente, a um semestre das urnas de outubro.
Pesquisas de intenção de voto mais recentes mostram que Bolsonaro está escapando do afogamento nos 25%.
Caso ele alcance os 30% no primeiro turno, este percentual, somado ao que vier da terceira via, pode levar a disputa para o segundo turno.
Por isso se empenha Sua Excelência, sem descuidar das articulações de um golpe de Estado.
Do aumento do benefício do Auxílio Brasil para um quarto da população à antecipação do fim das taxas adicionais nas contas de energia elétrica, Bolsonaro tenta avançar – principalmente no Nordeste, base eleitoral de Lula.
Ao mesmo tempo, mantém fiel sua base conservadora e de direita, que se reorganiza em torno dele após a derrocada da candidatura de Sergio Moro.
Valerá o que valeu em 2018: quem é contra o PT é a favor de Bolsonaro.
Dessa forma, o debate político vai continuar tão pobre como chegou até aqui.
Isso favorece Sua Excelência, a quem não interessam aprofundamentos sobre o seu desgoverno e as gigantescas crises que criou, ampliou e não vai resolver até o fim da gestão.
Lula se enreda nessa armadilha toda vez que não eleva o debate sobre o Brasil de hoje e o seu futuro e propõe que militantes cerquem seus adversários em casa.
A eleição não está ganha, nem está perdida.
No entanto, de salto alto não se chega a lugar nenhum.
Muito menos ao pé da rampa do Palácio do Planalto.