Por Breno Rios, em artigo enviado ao blog Durante três meses o debate político em Pernambuco foi uma miséria.
Em um estado acostumado à sofisticação das articulações de Miguel Arraes e Marco Maciel, os movimentos – por debaixo de muito pano – giraram em torno do futuro eleitoral de Marília Arraes: ela se candidataria a deputada federal, a senadora ou a governadora?
Por fim, Marília Arraes se filiou ao Solidariedade e anunciou sua candidatura ao Governo do Estado.
Dentro da miséria do debate, a filiação ao Solidariedade é apenas uma tática eleitoral grosseira.
Marília não tem qualquer ligação política com o partido, não conhece seu estatuto nem seu programa.
Como também desconhece os estatutos e os programas do PSB e do PT, legendas a que antes foi filiada.
Porém na eleição presidencial o Solidariedade apoia o PT, o que lhe dará a oportunidade, em Pernambuco, de se apresentar como “a governadora de Lula, sobrinha de Eduardo Campos e neta de Miguel Arraes”.
Caso isso funcione na disputa para o governo, não se sabe o efeito no dia a dia da gestão.
Miguel Arraes e Eduardo Campos já morreram e o candidato do PT ao governo é Danilo Cabral, do PSB.
No entanto, o estelionato pode ter bons resultados: apresentando-se como candidata de Lula, Marília ficou em segundo lugar na disputa pela Prefeitura do Recife em 2020.
O Solidariedade é sua terceira filiação partidária.
Contudo, não contam.
O partido de Marília sempre foi o PMA, Partido de Marília Arraes, ao qual sempre devotou seus planos, projetos e artimanhas. É desse personalíssimo estatuto que brota a miséria do seu debate político, que despreza as grandes questões nacionais e estaduais, em favor da luta do poder pelo poder.
O que representa Marília Arraes?
Que força social ela traduz?
Que avaliação faz da conjuntura?
Como pretende atuar em um contexto de tanta complexidade?
Ela não sabe, ninguém sabe – a resposta é um deserto.
Porém não se desconheça a determinação da líder do PMA quando estão em jogo seus interesses pessoais.
Foi candidata a vereadora do Recife, em 2012, pelo PSB, contra o desejo de seu tio Eduardo Campos, então governador de Pernambuco.
Rompeu com o PSB em 2016 e se filiou ao PT, sendo eleita deputada federal.
Pela legenda disputou a Prefeitura do Recife em 2020, sendo derrotada pelo primo João Campos, filho de Eduardo.
Como o PT se recusou a apoiar sua candidatura ao governo, vai disputar pelo Solidariedade.
Ao longo dessa conturbada trajetória, Marilia não deixou nada de relevante como vereadora.
Como deputada federal, um chute no estômago do PT: apoiou a candidatura de Arthur Lira, bolsonarista e líder da direita, à presidência da Câmara dos Deputados, contrariando orientação da direção nacional petista.
Em troca passou a ocupar um lugar periférico na Mesa e pôde nomear 40 cargos comissionados.
Nada aconteceu além da abertura de processo na Comissão de Ética petista, até agora deitado em berço esplêndido.
Por quê?
Talvez um só motivo: Marília Arraes tem voto, resultado do recall das campanhas a deputada federal e prefeita do Recife.
De acordo com as primeiras pesquisas sobre as intenções dos eleitores, ela contaria com um quarto de apoio na disputa para o Governo do Estado – um total que a levaria a um eventual segundo turno.
No entanto, o caminho até outubro é longo, árduo e cheio de armadilhas.
O Solidariedade é um partido sem tradição, sem militância e sem bases eleitorais em Pernambuco.
Ao contrário de seus adversários, Marília não tem qualquer experiência administrativa de destaque.
Seu patrimônio eleitoral se resume ao sobrenome Arraes e à possibilidade de se apresentar como “governadora de Lula” – o que o PT pode questionar na Justiça.
Apesar disso, sua candidatura não é frágil.
Ela deve largar na frente no início da campanha e tentar sobreviver à força da aliança formada pelo PSB, PT e mais 12 partidos – a Frente Popular.
Há 16 anos essa aliança vence todas as eleições para o governo de Pernambuco.
Neste ano, na Frente Popular estão Lula, o governador Paulo Câmara, João Campos, prefeito do Recife, dezenas de deputados estaduais e federais, centenas de prefeitos, milhares de vereadores e líderes comunitários, além de diversos segmentos sociais.
O PMA acredita que vencerá tamanha força.
Caso fracasse, não há problema: Marília já é candidata à Prefeitura do Recife em 2024.
Breno Rios (pseudônimo) apresenta-se como consultor jurídico