Por Ricardo Leitão, em artigo enviado ao blog Jair Bolsonaro tem todo direito de ser candidato à reeleição.

Mas, em nome desse direito, não tem o de liberar, a sete meses das urnas de outubro, bilhões de reais em recursos públicos para azeitar sua máquina eleitoral.

Aos fatos.

Sua Excelência decidiu antecipar para abril e maio o 13º salário dos aposentados do INSS: R$ 56 bilhões em duas parcelas de R$ 28 bilhões.

Irão se beneficiar 30,5 milhões de pessoas.

Cerca de R$ 30 bilhões serão empregados na liberação de saques de até R$ 1 mil de contas ativas do FGTS, atendendo 40 milhões de brasileiros.

Nos empréstimos com garantia de salário e benefícios, a margem passará de 35% a 40%, para 52,8 milhões de pessoas, e o valor a ser liberado poderá chegar a R$ 77 bilhões.

As medidas, festivamente anunciadas por Bolsonaro no Palácio do Planalto, têm objetivo eleitoral e efeitos inflacionários.

A pouco quadras dali, na sede do Banco Central, o Brasil real era outro: pressionado pelo descontrole generalizado dos preços, o Comitê de Política Monetária elevou a taxa Selic (os juros básicos da economia) de 10,75% para 11,75%.

A meta do Copom é reduzir o crédito, limitar o consumo e conter a inflação.

Na exata contramão do que faz Bolsonaro, ao injetar cerca de R$ 163 bilhões na economia para lastrear seu projeto de reeleição. É claro que os aposentados, os que precisam sacar R$ 1 mil do FGTS e os que não têm dinheiro sequer para comprar um botijão de gás precisam ser amparados pelo governo.

No entanto é uma canalhice eleitoral os recursos serem usados como moeda de troca por votos.

A demagogia bolsonarista também alcança a crise dos combustíveis.

Indiferente às consequências da guerra na Ucrânia, que elevou os preços do petróleo em todo o mundo, Sua Excelência exige que no Brasil eles recuem.

Como não sabe o que fazer, culpa o presidente da Petrobras, general Joaquim Silva e Luna, nomeado por ele para o cargo.

Pretende substituí-lo por Rodolfo Landim.

A mudança esbarra em uma oposição poderosa, liderada pelo vice-presidente, general Hamilton Mourão, e na decisão de Silva e Luna de permanecer no cargo: “Sou soldado.

Não fujo do campo de batalha, abandonando minha tropa”.

Nessa balbúrdia nada se resolve: a ala política do desgoverno tromba com a ala econômica; o Congresso acha toda semana uma solução mágica para um barril de petróleo abaixo dos cem dólares e os preços dos combustíveis não caem.

O que não para de cair são os índices de popularidade de Bolsonaro, empurrados por gasolina, óleo diesel e gás de cozinha nas alturas.

Há tempo para a demagogia inflacionária salvar Bolsonaro de uma derrota em outubro? É cedo até para especular.

Porém é certo que R$ 163 bilhões nas mãos de dezenas de milhões de eleitores produzirão algum efeito positivo para seu projeto eleitoral.

Nas contas dos bolsonaristas, está descartada a possibilidade de vitória no primeiro turno.

Contudo, o empenho é total para que Sua Excelência chegue ao segundo turno, com 25% dos votos.

Por enquanto, a possibilidade permanece concreta.

Para pavimentar esse caminho, Bolsonaro precisa se consolidar como o único candidato viável da direita.

Ele arriscou perder a posição com a entrada de Sergio Moro na disputa, como representante da chamada direita civilizada.

Porém a campanha de Moro até aqui não decolou, fazendo com que seus eleitores migrassem para Sua Excelência – a partir daí identificado como o único capaz de enfrentar o petista Luiz Inácio Lula da Silva.

A perspectiva de uma eleição polarizada neste ano, repetindo-se o radicalismo da disputa de 2018, parece ser cada vez mais real.

Se diz que o confronto sem trégua não será escolha de ninguém, mas os fatos demonstram que o confronto já se instalou.

Agora com o agravante de explodir em meio a um desgoverno que chega ao fim, sem conseguir resgatar o Brasil da maior sucessão de crises de sua história.