O encontro do deputado Danilo Cabral com representantes do PT neste domingo, na sede estadual do partido, pode deixar sequelas nas relações internas das tendências petistas, e entre o próprio PT e o PSB. É preciso voltar no tempo um pouco para entender o porquê.

Já na condição de candidato a governador, Danilo postou vídeo no seu Instagram, na noite de sexta-feira passada, dia 18, em que diz: “Eu termino essa semana mais animado ainda, depois de ter conversado com representantes de todos os partidos que integram a Frente Popular”.

A data de apresentação pública de sua candidatura já estava anunciada: nesta segunda-feira, dia 21, às 11h.

Danilo Cabral termina semana sem conversar com caciques do PT Petistas se surpreenderam e se perguntaram por que não tinham sido convidados para uma conversa com ele, se o PT já tinha comunicado formalmente ao governador Paulo Câmara o retorno à Frente Popular.

Pegaria muito mal o partido ser o único a receber convite para a apresentação da candidatura sem antes ter sentado à mesa com o candidato.

O presidente estadual do PT, Doriel Barros, cedeu à pressão interna e conseguiu agendar o encontro com o deputado.

Danilo Cabral faz gesto com Humberto Costa O PT criou uma Comissão Eleitoral exclusivamente para tratar das questões eleitorais com outros partidos.

A conversa com o governador Paulo Câmara, por exemplo, quarta-feira passada (dia 16), se deu com essa comissão.

Com Danilo foi diferente.

E, na avaliação de socialistas, não foi bom.

O candidato e Nilton Mota, seu braço direito, foram recebidos pela tal comissão - os deputados Doriel Barros e Teresa Leitão, e o dirigente Oscar Barreto - e o deputado Carlos Veras, indicado pelo PT na condição de parlamentar.

As deputadas Marília Arraes e Dulci Amorim também foram convidadas a participar mas se ausentaram.

Marília porque quis, Dulci porque está com Covid.

Até aí, tudo bem.

Só que estavam lá também Aristides Santos, presidente da Contag e irmão de Carlos Veras, e um assessor da Fetape chamado Evilásio.

De acordo com o relato de socialistas, confirmado por petistas, a Comissão Eleitoral estranhou mas a conversa começou assim mesmo.

O problema decorrente da presença dos rurais - é assim que são chamados os representantes da Fetape e da Contag no PT - veio à tona com as falas de Carlos Veras e Aristides Santos.

Disputa interna do PT pelo Senado pode ter ‘povo do campo’ como fiel da balança O deputado Carlos Veras, que o senador Humberto Costa quer emplacar como a indicação do PT ao Senado, foi só elogios a Danilo e ao PSB.

Aristides Santos pronunciou-se no sentido totalmente contrário.

Disse que tinha visitado os polos regionais da Fetape em Pernambuco e encontrado resistências das bases ao nome do candidato, principalmente pelo voto dele a favor do impeachment de Dilma Rousseff.

Ala do PT ataca Danilo Cabral citando voto no impeachment de Dilma.

PSB usa Lula em resposta O candidato argumentou que o PSB já fez autocrítica e reconheceu que a posição do partido foi um erro.

E reiterou a disposição para enfrentar eventuais resistências, partam de onde partirem, porque seu compromisso é com a vitória da Frente Popular como um todo.

Socialistas afirmaram ao blog que a entrada em cena dos rurais “é coisa de Humberto e que isso não ajuda em nada o PT a indicar o nome ao Senado”.

Reconhecem que é um direito do partido o preenchimento da vaga mas que a Frente Popular precisa da definição nos primeiros dias de março, o mais tardar, por causa dos prazos da federação, janelas partidárias e desincompatibilizações.

Além de ter incomodado o PSB, a tentativa de crescimento dos rurais não é aceita por outras tendências do PT, que, assim como os socialistas, enxergam no movimento deste domingo o desejo de Humberto Costa fazer prevalecer sua vontade, formando a chamada “escadinha do senador Humberto”: Carlos Veras no Senado, Doriel Barros deputado federal e o assessor Wedson Galindo deputado estadual. “Humberto precisa ter cuidado com a montagem da chapa”, disse ao blog um arraesista histórico. “É necessário olhar a Frente Popular como uma aliança entre partidos e a população para eleger Lula e os nossos outros candidatos, e não como uma oportunidade de se beneficiar para tratar de questões internas de um partido, seja lá qual for ele”.