Por Terezinha Nunes, especial para o blog Criado há 70 anos o concurso de Miss Universo, bem como seus congêneres nos países participantes, se notabilizou pela escolha de mulheres brancas, cabelos lisos e compridos e olhos claros.
Isso ajudou a consolidar um estereótipo feminino próprio, fechando as portas da beleza reconhecida internacionalmente às mulheres mulatas e negras e levando a sociedade a julgar beleza também pela cor da pele.
Só em 1977 esse tabu foi quebrado quando a negra Janelle Penny Comission Chow, de Trinidad e Tobago, foi escolhida a mais bela mulher do universo.
Mesmo assim, de lá para cá, só mais cinco negras receberam esse título, entre elas a Miss Angola Leila Vieira Lopes eleita em 2011 quando o concurso foi sediado no Brasil.
Nos últimos anos, porém, acompanhando o respeito à diversidade crescente em todo o mundo, o concurso não só se abriu para as diversas raças como passou a apostar não apenas na beleza física mas também no preparo intelectual e visão de mundo das candidatas.
As misses que se notabilizaram por citarem como leitura predileta “O pequeno Príncipe” agora são julgadas também pelo conhecimento dos problemas sociais e seu engajamento nas lutas pela libertação feminina.
Nesse contexto, os alemães elegeram este final de semana a imigrante pernambucana Domitila Barros, 37 anos, nascida na Linha do Tiro, no Recife, como primeira negra a ostentar o título da Miss Alemanha, devendo representar o país nos concursos de beleza de 2022.
Domitila é também a primeira negra imigrante a ser miss em um país europeu.
Surpresa com a premiação ela afirmou que decidiu concorrer quando soube que poderiam particpar “pessoas de qualquer idade e cor”. “A favela venceu” foi a frase inicial da brasileira logo após a premiação ao lembrar que nasceu em um bairro pobre, onde ainda hoje reside sua família, na Linha do Tiro.
Ela deixou 158 concorrentes para trás. - Estou feliz e orgulhosa de saber que todo o meu esforço a vida inteira me levou a este momento”.- concluiu.
Domitila reside na Alemanha há 10 anos quando ganhou bolsa de mestrado em ciências políticas e sociais na Universidade de Berlin, em reconhecimento ao trabalho desenvolvido com as mulheres do seu bairro na produção de roupas femininas.
Além da sua beleza física, os jurados levaram em consideração o fato de ela ser uma empreendora social tendo criado uma grife de biquines e joias veganas que participa da Semana da Moda de Berlin todos os anos.
Apesar da Alemanha estar sendo representada por uma negra brasileira, aqui a primeira negra a vencer o concurso de Miss Brasil foi a gaúcha Deise Nunes de Souza, eleita em 1986 e que ficou em sexto lugar no Miss Universo daquele ano.
Apesar disso em 1964 Vera Lucia Couto dos Santos, uma bela mulata carioca, ficou em segundo lugar no concurso nacional representando o então estado da Guanabara.
Atribui-se a ela a abertura do caminho para as mulheres negras nos concursos uma vez que, de tão querida pelos cariocas, inspirou o compositor João Roberto Kelly a compor a marchinha Mulata Bossa Nova, o maior sucesso do carnaval de 1965 e até hoje executada pelas bandinhas no carnaval de rua.
Vera ganhou o direito de representar o Brasil no Concurso de Beleza Internacional de 1964 em Long Beach (Califórnia) arrebatando o terceiro lugar.
Até hoje se considera uma grande injustiça o fato de ela não ter vencido o concurso brasileiro, perdendo a chance de abrir o caminho para as negras também no Miss Universo.