O deputado João Paulo (em retorno ao PT) usou a tribuna da Assembleia Legislativa, na tarde desta terça (15), para alertar sobre o aumento da compra de armas de fogo no Brasil.

O deputado afirmou que será uma voz atuante “contra qualquer projeto que tente facilitar ou estimular o acesso a armas de fogo em Pernambuco.

Quanto mais armas, mais cadáveres”, disse o ex-prefeito do Recife.

No último dia 07 foi distribuído na Comissão de Constituição, Legislação e Justiça da Alepe, projeto de lei de autoria do deputado Alberto Feitosa (PSC) que pretende liberar a propaganda de venda de armas e munições nos veículos de comunicação, redes sociais e aplicativos de mensagem.

O Estatuto do Desarmamento proíbe a publicidade desse tipo de comércio para o público em geral – é autorizado somente publicações especializadas. “É vedada toda e qualquer censura de natureza política, ideológica, financeira e artística, inclusive ao direito da população de garantir sua legitima defesa, seja por meio de manter ou portar armas ou qualquer equipamento, ressalvada as vedações legais”, diz o segundo artigo do PL 3037/2022 assinado pelo parlamentar e coronel seguidor do presidente Bolsonaro. “Os alvos são quase sempre os mesmos: jovens, negros, periféricos.

A quem interessa ver gente pobre e preta sendo exterminada todos os dias no nosso Estado?

Quem ganha com mortes como a do menino Jonathas de Oliveira, de apenas nove anos, executado no último dia 10, no município de Barreiros, por homens encapuzados e armados?

Quem lucra com essa guerra sem fim?”, contrapôs João Paulo na tribuna.

Em seu discurso, o parlamentar do PT disse que desde antes da república, o uso de armas serve a fins políticos e econômicos no Brasil. “Como agora servem como demonstração de força do fascismo, às vésperas do período eleitoral, em que o bolsonarismo está carente de votos”.

DISCURSO Proposta de João Paulo uniu deputados de vários partidos - EVANE MANÇO/ALEPE Leia na íntegra o pronunciamento do deputado João Paulo Dez anos após a independência do Brasil, em 1832, o senador pernambucano José Inácio Borges subiu à tribuna do Senado, no Rio de Janeiro, para reclamar da violência generalizada no Império e defender o porte de armas de fogo.

Como relembra o jornal El Pais, o parlamentar se dirigiu aos seus colegas para contar que, diante da insegurança do Brasil, só andava acompanhado de dois pretos armados.

O tempo foi passando e as armas continuaram a servir especialmente à aristocracia e a seus fins políticos e econômicos.

Para garantir que os cargos eletivos fossem seus, eles colocavam capangas armados para ameaçar os eleitores na hora de depositar o voto na urna.

As votações de 1840, por exemplo, foram tão violentas que entraram para a história com o nome de “eleições do cacete”.

Veio a república, não menos armada ou até mais, mesmo em termos de proporção, e só na década de 1990 o Brasil começou de fato a se preocupar com a praga das armas, que nos ameaçava não apenas por sua disseminação no mundo do crime comum, mas também como forma de dominação pela violência, como nos séculos passados.

Só então descobrimos que as pessoas não associavam o aumento da criminalidade ao excesso de armas legais em circulação.

Acreditava-se que as armas dos bandidos eram estrangeiras e entravam no Brasil como contrabando.

Não era bem assim.

Grande parte delas era nacional e tinha origem perfeitamente regular.

Eram revólveres e pistolas que as pessoas guardavam em casa para autodefesa, mas acabavam perdendo para a criminalidade em furtos e assaltos.

Apesar dessa constatação, não veio a proibição, como preconizava o Estatuto do Desarmamento, de 2003.

Em outubro de 2005, amparados por um grande lobby das empresas de armas, os armamentistas saíram vencedores num plebiscito em que mais de 59 milhões dos eleitores votaram para que o comércio não fosse restringido.

Quinze anos depois, as armas já eram responsáveis por, pelo menos, 70% dos homicídios no país.

Mas o mundo das armas nunca teve tanto crescimento e tanta ideologização como agora, nos tempos de Bolsonaro, em que elas se tornaram um fetiche para o bolsonarismo, com sua propagação não apenas no crime organizado e nas milícias, que apoiam o presidente, mas entre aqueles chamados “cidadãos de bem”.

As armas ganharam força nas hostes de sempre – o crime organizado, os capangas do meio rural contra os movimentos sociais, os diletantes e colecionadores, muitos ditos caçadores, e avançou na esfera das relações pessoas, com crimes de feminicídios, vingança e brigas de bares, entre outras.

Agora, servem como demonstração de força do fascismo, às vésperas do período eleitoral, em que o bolsonarismo, carente de votos, vê no armamentismo uma fonte de pressão e uma força de promover golpes contra a democracia ou pelo menos para fazer ameaças à margem da lei.

A família presidencial e seus agregados dão sua força às armas nas redes sociais, posando em fotos com fuzis e metralhadoras, treinando em clubes de tiros que se espalham no país, ou tocando o terror no aplicativos de mensagem, como o Telegrama, num fértil ambiental digital de pregação do nazismo, do terrorismo e da venda de armas.

Com Bolsonaro, o volume de importação de armas de fogo no Brasil aumentou 33% em 2021 em relação a 2020 e chegou a US$ 51,9 milhões, contra US$ 38,9 milhões. É o maior valor da série histórica produzida pelo Sistema Integrado de Comércio Exterior (Siscomex), do governo federal, que começou em 1997.

Em relação aos fuzis, carabinas, metralhadoras e submetralhadoras houve um aumento de 574%.

Em 2021, o número chegou a 8.160.

Foi o segundo aumento expressivo consecutivo na importação desse tipo de armamento.

Entre 2019 e 2020, houve um crescimento de 226% na entrada dessas armas no país, saindo de 371 em 2019 para 1.211 em 2020.

Entre 2018 e 2019, o aumento havia sido de apenas 13%.

O que nos dá esperança nessa distopia armada é que a maioria dos brasileiros não quer conviver com isso, como atestam as pesquisas sobre o liberou geral bélico e, de forma indireta, mas significativa, as próprias sondagens para a sucessão presencial, nas quais Bolsonaro, com sua pulsão de morte como tema de campanha, se vê ameaçado de nem chegar ao segundo turno.

Nesta Casa, atuarei contra qualquer projeto que tente facilitar ou estimular o acesso a armas de fogo em Pernambuco.

Do mesmo jeito que tenho feito em relação aos projetos que retiram direitos.

Quanto mais armas, mais cadáveres.

E os alvos são quase sempre os mesmos: jovens, negros, periféricos, que correspondem a 76,2% das vítimas de violência letal, segundo levantamento do Anuário Brasileiro de Segurança Pública.

A quem interessa ver gente pobre e preta sendo exterminada todos os dias no nosso Estado?

Quem ganha com mortes como a do menino Jonathas de Oliveira, de apenas nove anos, executado no último dia 10, no Engenho Rocadorzinho, no município de Barreiros, por homens encapuzados e armados?

Atiraram em uma criança que se escondia embaixo da cama com a mãe, tentando se proteger de num atentado contra seu pai, uma liderança que luta há anos pelo direito a terra, fruto do trabalho.

Quem lucra com essa guerra sem fim?

As respostas irão mostrar de que lado estão os que defendem mais armas no Brasil.

E eu estarei do lado oposto deles, lutando por uma cultura de paz.

Se não são todos os brasileiros, a maior parte de nós sonha com outro País, que não é esse de agora, como mostra um interessante vídeo recentemente divulgado: A gente não nasceu pra matar; a gente nasceu pra trabalhar, pra plantar, pra colher, pra compartilhar; pra inventar; pra construir, pra pular carnaval…

A gente é brasileiro.

Desarme-se!

João Paulo – Deputado Estadual