Da newsletter do IBI Não é à toa que o roteiro do blockbuster “Não olhe para cima”, que estreou recentemente no Netflix, se transformou em tema recorrente nas rodas de conversa, nesta passagem de ano.

Na trama, dois cientistas (Leonardo DiCaprio e Jennifer Lawrence) descobrem que um cometa – na verdade um bloco mineral com quase dez quilômetros de extensão – vai colidir com a Terra e destruir a vida no planeta.

Eles tentam explicar o cataclismo para a presidente dos Estados Unidos (Merryl Streep), mas ela não disfarça o enfado e se declara cansada de gente anunciando o fim do mundo. É apenas quando percebe o potencial político de enfrentar o problema que decide tomar uma atitude.

Mas logo volta atrás, diante da exigência de um empresário que, interessado nos componentes naturais do cometa, quer aproveitar a oportunidade para os seus negócios.

Os cientistas precisam, então, buscar formas alternativas de alertar a população sobre o perigo iminente. “A ciência, para se fazer ouvir, precisa enviar representantes aos programas de celebridades na televisão, onde disputa espaço com o sensacionalismo mais torpe e as frivolidades mais fúteis.

A política perdeu os laços que um dia teve com o argumento racional; agora, se quiser alcançar o público, tem de contratar cantores beócios, ainda que afinados, e empacotar sua mensagem em versos lacrimosos e melodias previsíveis”, escreveu Eugenio Bucci, professor da ECA, em artigo para o Estadão. “Não olha para cima” não é uma ‘crítica do negacionismo’.

Nem uma ‘defesa da ciência’. É uma crítica mais abrangente de um sistema político inútil para produzir soluções minimamente eficazes em situações de grande risco para a sociedade", afirmou o jornalista Alon Feuerwerker.

E, assim, o debate envenenado prospera, em maior ou menor grau, por todos os cantos do planeta.

No Brasil, os ataques à ciência atingiram níveis inéditos.

Para ficar no exemplo mais recente, tivemos uma discussão inexplicável em torno da prescrição da vacina contra a Covid para crianças de 5 a 11 anos, em pleno desenrolar da pandemia.

Do outro lado do Atlântico, chama a atenção o pioneirismo de Israel no combate à doença: um dos primeiros países a vacinar, a prescrever a 3ª e 4ª dose, a imunizar as crianças e, agora, a utilizar comprimidos da Pfizer para tratar a Covid em seu estágio inicial.

Israel afinal se tornou uma espécie de laboratório que antecipa as tendências da progressão do vírus e tem servido como referência para o resto do mundo.

Este foi o tema da edição atual do programa Expresso Israel, com as jornalistas Daniela Kresch e Isabella Marzolla.

Ou seja, por maiores que possam ser as juras de amor do governo federal por Israel, o modelo israelense não parece valer quando o assunto é a pandemia.

Não que Israel não tenha também os seus negacionistas.

Tem e não são poucos.

Em agosto do ano passado, 1,1 milhão de israelenses elegíveis se recusavam a receber a primeira dose - 15% dos que podiam se vacinar.

Palestinos também hesitam em se vacinar mesmo tendo vacinas de sobra.

A diferença está no exemplo que vem de cima. “Aqui está o que precisamos que você faça: vacine-se, tome a dose de reforço e vacine as crianças”, disse o primeiro-ministro israelense, Naftali Bennett, em entrevista coletiva no último domingo.

Que no ano de 2022, a pandemia e o pandemônio, arrefeçam.

E que, afinal, possamos olhar para cima com leveza e humor, convictos de que as soluções para os problemas mundanos estão a nosso alcance.