Por Ricardo Leitão, em artigo enviado ao blog Na política, como na vida, não há espaço vazio.
Um dia alguém chega, dá bom dia e senta na cadeira.
Candidato à Presidência da República no próximo ano, o ex-juiz federal Sergio Moro quer sentar na cadeira da direita, até aqui reservada para Jair Bolsonaro.
O problema do presidente é que ele está deslizando no assento e periga até cair, deixando vago o lugar que pode levar Moro ao segundo turno.
Especulações pré-eleitorais?
Talvez não.
Sergio Fernando Moro, 49 anos, paranaense, é um homem conservador, estudioso e ambicioso.
Foi capaz de trocar uma carreira promissora de magistrado e professor universitário pela instabilidade de ministro da Justiça e Segurança Pública no desgoverno Bolsonaro.
O convite trazia em seu bojo a possibilidade de ser indicado, pelo presidente, ministro do Supremo Tribunal Federal.
Em março de 2020 pediu exoneração do cargo, depois de acusar Bolsonaro de tentar interferir em nomeações na cúpula da Polícia Federal.
Tornou-se um desafeto de Sua Excelência e nova opção para a chamada terceira via.
No entanto, a via do ex-juiz federal não é a terceira, mas outra: substituir Jair Bolsonaro como candidato da direita e, nessa condição, disputar o segundo turno com Luiz Inácio Lula da Silva, o candidato da esquerda. É profunda a polarização entre Moro e Lula, condenado à prisão pelo ex-juiz na Operação Lava Jato.
Com a candidatura de Moro, torna-se inevitável que a corrupção ganhe peso na campanha, o que será incômodo para Lula.
O tema também é ruim para Bolsonaro, acuado pelos achados da CPI da Covid e o balcão de negócios que se instalou no Ministério da Saúde.
Por outro lado, é bom para Moro, dono de um extenso e consistente currículo de embates contra a corrupção – e não só na Operação Lava Jato.
Trabalhou na Operação Banestado e na Operação Farol da Colina; por sua especialização em crimes financeiros e combate à lavagem de dinheiro foi convidado a assessorar a ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal, na investigação do Escândalo do Mensalão.
Moro sabe que o enfraquecimento de Bolsonaro significa o seu fortalecimento como candidato representante da direita, com apoio do conservadorismo “civilizado”, do empresariado do Sudeste e de lideranças fardadas.
A tudo se soma a cereja do bolo: na eleição, será o antipetista, o algoz de Lula, o herói da família, da tradição e da propriedade.
Para alguns setores importantes do campo conservador, ele já é o dono da cadeira da direita. É o caso, por exemplo, das Forças Armadas.
No lançamento da sua candidatura estavam na plateia os influentes generais da reserva Carlos Alberto dos Santos Cruz e Paulo Chagas, antagonistas de Bolsonaro.
São próximos do general Hamilton Mourão, vice-presidente, rompido com o presidente.
Em seu discurso, Moro ressaltou o papel constitucional das Forças Armadas e elogiou sua disciplina.
No momento, o ex-juiz de fala enfadonha e sem carisma mal aparece nas pesquisas eleitorais, há meses lideradas por Lula, com Bolsonaro em segundo lugar.
Porém ainda faltam pouco mais de 10 meses para as urnas de outubro de 2022, em uma das mais conturbadas conjunturas que o País já atravessou.
Com medo de perder e de ser preso, Bolsonaro já ensaiou até manobras golpistas.
Sua Excelência escorrega na cadeira da direita, mas Moro ainda não ocupou todo o assento. É uma disputa particular, no meio à disputa coletiva, em uma eleição presidencial que desponta como uma das mais dramáticas da história do Brasil.