Por Ricardo Leitão, em artigo enviado ao blog A um ano das eleições presidenciais de 2022, as projeções das pesquisas ainda patinam.

Mesmo assim, um quadro se repete: Luiz Inácio da Silva tem cerca de 40% das intenções de voto; Jair Bolsonaro 25% e um terço dos entrevistados se diz indeciso, à espera de candidato.

Quando a campanha ocupar as ruas e a mídia, é provável que a polarização entre o presidente e o ex-presidente diminua, abrindo espaço para a chamada terceira via.

Há antecedente bem recente.

Na disputa para o governo de Minas Gerais, em 2018, o desconhecido empresário Romeu Zema, do partido Novo, entrou na reta final com 5% das intenções de voto e venceu os favoritos Antônio Anastasia, apoiado por Aécio Neves, e o governador Fernando Pimentel, candidato à reeleição. É impossível prever se o Brasil de 2022 repetirá Minas Gerais de 2018.

Especialistas em pesquisas, no entanto, acreditam que o quadro de hoje não é irreversível e há como avançar no terço que sobraria da polarização entre Lula e Bolsonaro. É o espaço onde tenta se firmar o PSDB, um partido comprovadamente competitivo: venceu as eleições presidenciais no primeiro turno em 1994 e 1998 e disputou o segundo turno em todas as quatro seguintes (2002, 2006, 2010 e 2014).

O desafio do PSDB é superar as divisões internas e a desconfiança das outras forças de centro quanto à sua pretensão de ser hegemônico em uma aliança antibolsonarista.

Mútuas desconfianças são obstáculo entre os que tentam costurar a terceira via.

O primeiro passo será a escolha do candidato do PSDB à Presidência da República, indicação disputada pelo governador de São Paulo, João Doria, e o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite.

Em seguida, usar o ímã tucano para atrair, em torno de Doria ou Leite, os demais líderes da terceira via: Ciro Gomes, do PDT; Luiz Henrique Mandetta, da União Brasil; Luiz Felipe D’Ávila, do Novo, e Sérgio Mouro (sem partido).

Juntos, incluindo-se o nome do PSDB, no momento não somam 20% das intenções de voto.

A frágil musculatura da terceira via – considerando-se os nomes até agora alinhados para a largada – favorece Lula e Bolsonaro que, cada um ao seu estilo, investem na polarização.

O ex-presidente reforça os laços da extrema esquerda à centro-esquerda; o presidente, da extrema direita à centro-direita.

Bolsonaro se mobiliza para manter os seus 25% e atrair pedaços do terço indeciso, como fez, com sucesso, em 2018.

Lula trabalha com todo espectro de forças sociais e partidárias não - bolsonaristas, para recompor a frente que garantiu ao PT quatro vitórias em eleições presidenciais.

O desgoverno, o desemprego, a inflação, a fome e a corrupção são os flancos do presidente.

A Lava Jato é o flanco do ex-presidente.

Ao pregar o golpismo, Bolsonaro se afastou do centro, da direita civilizada, da classe média e do empresariado.

Até aqui, Lula mostra mais competência em reunificar a base que sempre caminhou ao lado do PT.

Nessa dança de cuidadosos passos miúdos, o risco maior é o de sempre: uma nova tentativa de golpe de Estado, liderada pelo pior presidente da história, ao constatar a inevitabilidade da derrota no próximo ano.

Por que Bolsonaro empenha tudo que lhe resta na reeleição, mesmo um golpe?

Para não ser preso.

Ele sabe que o relatório final da CPI da Covid, a ser divulgado no próximo dia 19, irá indiciá-lo ao menos por 11 crimes – a exemplo de prevaricação, charlatanismo, crime contra a vida, crimes de responsabilidade e homicídio comissivo, cometido por omissão.

Caberá a denúncia à Procuradoria Geral da República e ao Ministério Público Federal.

O desdobramento dos fatos pode provocar a abertura de um processo de impeachment na Câmara dos Deputados.

Cada vez mais Sua Excelência depende da blindagem da faixa presidencial e de uma base parlamentar voraz por verbas públicas para se sustentar no Palácio do Planalto.

O problema é a realidade, essa pantera.

Desemprego elevado, inflação descontrolada, 600 mil mortos pela pandemia resumem o desgoverno nos últimos meses.

Se o crescimento econômico chegar a 5% neste ano, o Brasil apenas sairá do buraco onde foi jogado no ano passado.

Para 2022 não há nada melhor a se prever do que um crescimento de 2%, ou de 1% nas apostas pessimistas.

A decadência do desgoverno é assustadora.

Além da tragédia sanitária, continuam vivas e embaralhadas as crises fiscal, ambiental e política – só pra citar as de maior destaque.

Jair Bolsonaro não governa desde que assumiu a Presidência.

Não tem consciência da importância do cargo que ocupa e de seus deveres com o Brasil e os brasileiros.

Estaria há tempos na cadeia, não fossem os interesses da elite civil e militar que fez dele o líder máximo desse País, apesar dos surtos característicos de psicopatia e do apego à morte.

Para onde vamos?

Vamos conter o golpe, vencê-lo e fortalecer a democracia.

Não importa com que velocidade avançaremos, o importante é não ficar parado.

Derrotar Bolsonaro, o bolsonarismo e a bolsolândia é um dever de todos comprometidos com o futuro.