Por Deysi Cioccari e Rodrigo Augusto Prando, em artigo enviado ao blog As placas tectônicas do mundo político estão a se movimentar e os tremores já podem ser sentidos.

Noticia-se as negociações para a fusão de dois partidos: o DEM (Democratas) e o PSL (Partido Social Liberal).

Consumando-se a fusão, haverá um partido político com força considerável no país e, por isso, poderá mudar as correlações de forças no cenário eleitoral de 2022.

O DEM, antes PFL (Partido da Frente Liberal), mudou seu nome objetivando livrar-se da imagem de fisiologista e discussões sobre uma possível fusão com outro partido sempre rondou seus filiados.

Desde 1985, o PFL tinha força política, especialmente, regional com conhecidos caciques como Antônio Carlos Magalhães (ACM) e Jorge Bornhausen e, ideologicamente, colocavam-se num campo da direta, ora mais conservador, ora mais liberal na economia.

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Foi da base de sustentação do governo e uma presença garantida na região Nordeste, na qual o PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira) de FHC não tinha força eleitoral.

Contudo, com o Governo Lula, perderam protagonismo e especulações de unirem-se a outro partido eram constantes.

O PFL foi fruto de um período da política brasileira em que as elites partidárias tinham força.

Em 1998, foi o maior partido do país.

Mas como Maquiavel afirma, no poder, não há garantias.

As antigas lideranças então deixam suas posições para que a “oxigenação” na imagem aconteça: Rodrigo Maia (então com 37 anos), ACM Neto, Paulo Bornhausen são os responsáveis pela tentativa de mudar de imagem e deixar o passado da Arena, no passado.

O que se verifica é um declínio vertiginoso.

Em 2011, Gilberto Kassab funda o PSD (Partido Social Democrático) e leva 20 deputados consigo.

Em 2014, elege 22 deputados e torna-se um partido satélite do PSDB.

O atual ministro do Trabalho, Onyx Lorenzoni, declarou que faltavam bandeiras claras ao novo PFL.

Bornhausen, por sua vez, criticou abertamente a falta de pulso das novas lideranças.

Já o PSL tem uma história e trajetória política mais simples até, pelo menos, 2018.

Fundado em 1994, por Luciano Bivar, era considerado um partido nanico.

Conjugou, ideologicamente, o liberalismo na dimensão econômica e o conservadorismo nos costumes.

Bivar, em 2006, disputou a presidência da república e terminou a eleição em penúltimo lugar.

O grande salto do partido deu-se, efetivamente, com a filiação de Jair Bolsonaro e a disputa de 2018.

No último pleito, o nanico PSL, no bojo da onda bolsonarista elegeu a segunda maior bancada na Câmara dos Deputados.

Isso, obviamente, significou que o partido se agigantou, ao menos no que tange aos recursos públicos destinados à agremiação.

No entanto, o presidente Jair Bolsonaro saiu do partido e, hoje, governa sem filiação partidária.

A saída de Bolsonaro deu-se, como se comenta de público e nos bastidores, por conta de querer dominar integralmente o partido, especialmente, seus recursos.

A tão comentada fusão do DEM com o PSL seria, por assim dizer, uma conjugação de um partido com bons quadros com o outro com muito dinheiro.

Bivar, segundo consta, seria o presidente do novo partido e ACM Neto o secretário.

O novo partido, portanto, contaria com bons quadros, recursos e tempo de televisão e, com isso, poderia, por exemplo, alavancar o nome de Luiz Henrique Mandetta, como opção de uma terceira via para a eleição de 2022.

Mexida vigorosa no tabuleiro político e eleitoral.

Veremos.

Deysi Cioccari é Jornalista e Doutora em Ciências Sociais pela PUC/SP.

Rodrigo Augusto Prando é Professor e Pesquisador da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

Graduado em Ciências Sociais, Mestre e Doutor em Sociologia, pela Unesp.