Por Adriano Oliveira, no JC deste domingo Assim como fez a Lava Jato, Jair Bolsonaro estresse o sistema político.

Isto significa que as instituições ficam irritadas, racham, mas não quebram.

No período de 2015 a 2018, a Lava Jato tentou mudar o sistema político.

Mas não conseguiu.

Jair Bolsonaro, como presidente, tentou fazer o mesmo, mas também não obteve sucesso.

Ao contrário da Lava Jato, o presidente Jair Bolsonaro recua sistematicamente quando é ameaçado pelas instituições.

A Lava Jato foi controlada pelas instituições.

O presidente da República recuou e foi controlado.

O auge do recuo do presidente foi logo após os bolsonaristas irem às ruas em Brasília e São Paulo e escutarem dele agressões ao STF e ao ministro Alexandre de Moares.

A massa bolsonarista acreditou no líder.

Quem leu meu artigo neste espaço, publicado em 05 de setembro, já sabia que o sistema sofreria estresse.

Mas não quebraria.

Jair Bolsonaro conversou com o sábio Michel Temer e foi convencido a recuar.

Razões relevantes existiram.

Dentre as quais e mais visível, a solidão do presidente da República, já que diversos atores estratégicos mostraram que não embarcariam em qualquer aventura que tivesse o objetivo de quebrar o sistema.

O mandatário da República acertou ao desistir de enfrentar as instituições.

Ao recuar, Jair Bolsonaro chegou ao centro.

Sai de cena o presidente afoito e que critica costumeiramente as instituições, e chega à arena política o Bolsonaro que dialoga e respeita as instituições.

Existe, claro, incerteza quanto à permanência do presidente da República no centro.

Entretanto, se Bolsonaro lá permanecer até as eleições de 2022, ele poderá enfraquecer os candidatos do centro.

Lula e Bolsonaro estão em condições, neste instante, de disputarem o 2° turno da vindoura eleição.

Os postulantes do centro torcem pelo enfraquecimento exacerbado do presidente ou seu impeachment.

A primeira possibilidade não é remota.

A segunda é.

Contudo, a estratégia ótima para o presidente Bolsonaro é governar, responsabilizar a Covid-19 pela crise econômica, ampliar o Bolsa Família, reforçar o antipetismo e caminhar para o centro.

Se assim o fizer, ele adquire condições de recuperar popularidade.

O aumento da reprovação do governo, a grave crise econômica e algumas ações das instituições têm o poder de incentivar Jair Bolsonaro a abandonar o centro.

O retorno ao radicalismo fará com que as instituições reajam.

E a solidão do presidente no exercício do poder voltará.

O 07 de setembro revelou a Bolsonaro que nem todos estão para o que der e vier com ele.

Inclusive, policiais e militares.

Adriano Oliveira é Cientista Político e Professor da UFPE