Por Ricardo Leitão, em artigo enviado ao blog Pior presidente da história do Brasil, Jair Bolsonaro está com muito medo.

O primeiro ato do seu plano golpista, marcado para o Sete de Setembro, foi um tiro de fuzil no pé.

Isolado, se viu obrigado a divulgar uma carta, redigida pelo ex-presidente Michel Temer, na qual credita “ao calor do momento” sua decisão de descumprir sentenças do Supremo Tribunal Federal – um crime de responsabilidade, motivo suficiente para abertura de um processo de impeachment.

As ondas de calor tomaram Bolsonaro em dois momentos do Sete de Setembro, nas manifestações promovidas por seu rebanho em Brasília e São Paulo.

Nas duas cidades, ao discursar, Sua Excelência insultou o Supremo Tribunal Federal e o Tribunal Superior Eleitoral e chamou de “canalha” o ministro do STF Alexandre de Moraes.

O ministro o investiga por suspeita de envolvimento com milícias digitais.

Na carta de “arrependimento” chama Moraes de “jurista e professor”.

O presidente da República está com muito medo porque o que deveria ser o primeiro grande ato de seu plano golpista não contou com adesões de peso político nem com o apoio da população.

Exceção a registrar foi a tentativa de bloquear rodovias federais por pequenos grupos de caminhoneiros bolsonaristas, logo dispersados.

Como em vezes anteriores, sua carta é um recuo tático, para lhe dar tempo de recuperar forças.

Tem a credibilidade de um documento do Talibã em defesa do feminismo no Afeganistão.

Jair Bolsonaro está com muito medo porque sua permanência no poder – o único objetivo que o move – está ficando cada vez mais difícil.

Ele sabe que, mantido o desastre do seu desgoverno, será derrotado nas urnas no próximo ano por qualquer um dos candidatos hoje alinhados para a disputa.

Está ciente que os robustos achados da CPI da Covid podem municiar um processo de impeachment e fortalecer provas que resultariam até em sua prisão.

Teme ainda por sua operosa prole, envolvida em “rachadinhas” e supostas fraudes com medicamentos em hospitais públicos.

Parte então o presidente da República para o tudo ou nada.

Flutua dentro de bolha de negacionismo, de onde tensiona as cordas, dobra as apostas e ameaça o futuro.

De tão incompetente, se tornou opositor de si mesmo.

Se for preciso, encaminhará dezenas de cartas falsas aos brasileiros.

Na verdade, continuará costurando o golpe.

Neste momento, a ruptura institucional é a carta que tem nas mãos.

Bolsonaro não vai parar nem desistir da maneira autoritária como faz política, baseada na covardia, na ilusão do povo e na violência.

A covardia lhe permite atribuir aos outros o erro que comete; as informações falsas que divulga a seu favor iludem a boa fé do povo; a violência das milícias, nas ruas e nas redes sociais, dá cobertura aos seus planos – entre eles os golpistas.

Será uma dura missão vencer essa barreira reacionária.

Mas o enfrentamento é obrigatório e inadiável.

Do contrário, qual o Brasil que terão nossos filhos e netos?

Nesse confronto, cujo final é imprevisível, alguns passos podem ser dados desde já.

Os deputados federais e senadores podem ser pressionados para rejeitar projetos bolsonaristas que abriguem interesses golpistas, como alterações no Marco Civil da Internet.

Apoiar decisões dos tribunais superiores é outro caminho.

O Supremo Tribunal Federal pode determinar medidas cautelares se Bolsonaro cometer crimes inafiançáveis e imprescritíveis e o Tribunal Superior Eleitoral tornar o presidente inelegível.

Por todo tempo Jair Bolsonaro deve ser tratado exatamente como é: uma figura nefasta para o Brasil, não só um adversário político.

Isso demandará coragem, firmeza e bom senso.

Coragem para enfrentar os que agem contra a Constituição; firmeza para não recuar diante da resistência reacionária e bom senso para não tropeçar nas armadilhas montadas pelos herdeiros da bestialidade dos porões da ditadura.

O Brasil está atravessando um dos momentos mais desafiadores de sua história, nas mãos de um presidente investigado em cinco inquéritos, que defende o golpe em praça pública.

Até 31 de dezembro de 2022, fim do desgoverno de Sua Excelência, há um caminho pedregoso, balizado pelos mortos da pandemia; inflação descontrolada; milhões de desempregados; desmonte da economia.

Dezembro de 2022 terá de marcar o início do fim do caos.

Os brasileiros não suportam mais.