Mais uma vez os combustíveis foram os grandes responsáveis pela inflação, também em agosto, quando o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficou em 0,87, a maior taxa para o mês desde 2000.

Novamente, combustível exerceu o principal impacto de alta, com aumento de 2,96% no mês passado, de 32,07% no ano, e 41,33% em doze meses, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A trajetória de aumento da inflação - 5,67% nos primeiros oito meses do ano, já acima do teto da meta; e 9,68% em doze meses, até agosto - reflete a inviabilidade da política de Preço de Paridade de Importação (PPI) usada pela Petrobrás para reajustar os combustíveis, segundo a Federação Única dos Petroleiros (FUP). “O preço dos combustíveis é influenciado pelos reajustes aplicados nas refinarias de acordo com a política de preços da Petrobrás”, explica o economista Cloviomar Cararine, do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos, subseção FUP (Dieese/FUP).

De janeiro a agosto, a Petrobrás reajustou a gasolina em suas refinarias em 51%.

No diesel, o aumento nas refinarias já é de 40%, mesmo percentual de alta no gás de cozinha.

Os reajustes nas refinarias se refletiram no IPCA, impactando o bolso do consumidor.

Dados desagregados do Dieese/FUP mostram que, nos primeiros oito meses do ano, a gasolina teve alta de 31,09%.

No diesel, o aumento acumulado foi de 28,02%.

O etanol também registrou altas sem precedentes: 62,26% em doze meses, 40,75% no ano, e 4,50% em agosto.

Os efeitos em cascata dos reajustes dos combustíveis atingiram duramente também os transportes, que subiram 1,46% em agosto, exercendo forte influência sobre o IPCA entre os grupos.

No ano, a alta já acumula 11,44%.

As estatísticas revelam que a deterioração no custo de vida dos trabalhadores vai mais além: o gás de botijão teve alta recorde de 23,79% nos primeiros oito meses deste ano, acumulando em doze meses, até agosto, 31,70%.

O reflexo da alta do gás de cozinha foi sentido no item alimentação e bebidas, que aumentou 13,94% em doze meses, ou 4,77% em janeiro/agosto.

Os aumentos seguem nos próximos meses, conforme observa Cararine. “As expectativas são de permanência ou alta dos preços.

Os principais motivos para os aumentos que estão puxando a inflação não estão sendo atacados pelo governo.

A Petrobrás mantém sua política equivocada de preços dos derivados; a alimentação disputa demanda com o mercado mundial e ambos setores (derivados e alimentos) acompanham a instabilidade do dólar.

A energia elétrica, que também está pesando, sofre com problemas climáticos e falta de águas nos reservatórios.

Os próximos meses serão de maior pressão de preços para as famílias brasileiras”, destaca o economista.